
O escritor xapuriense Elenckey Pimentel está finalizando a publicação de seu segundo romance, O Roubo d’A Gameleira, uma nova incursão pelo gênero do mistério. Assim como em Cinco Mortes Simples, o crime é o ponto de partida para uma trama que mescla suspense, cultura e identidade acreana. Desta vez, o enredo gira em torno do desaparecimento de uma obra de arte em uma instituição cultural localizada nas proximidades da Gameleira, árvore centenária e símbolo histórico do Acre, às margens do Rio Acre, em pleno centro de Rio Branco.
O autor explica que o novo livro dialoga com a memória coletiva da capital e com o sentimento de pertencimento que permeia toda a sua obra. “A Gameleira é um marco das nossas origens. Ao escolher esse espaço, quis falar de memória, de patrimônio e de como a arte pode ser, ao mesmo tempo, frágil e eterna”, resume.
Esse olhar sobre o Acre e suas histórias vem sendo amadurecido desde o sucesso de Cinco Mortes Simples, publicado em 2020 no Brasil e em Portugal. O romance, ambientado em Xapuri, combina elementos do cotidiano local a uma trama policial envolvente. “Foi desafiador transformar os espaços reais em literatura sem perder o vínculo com a nossa história. É preciso conhecer o município para manter o equilíbrio entre o real e o ficcional”, explica o escritor.
Ao recordar o processo criativo, Elenckey fala sobre as oscilações do ofício. “O trabalho de escritor tem altos e baixos. Há dias em que você escreve muito e nada presta, vinte páginas e joga tudo fora, e outros em que tudo flui naturalmente. É um exercício constante de paciência e persistência”, explica.
A conquista de publicar o primeiro livro, recorda ele, exigiu determinação. “Bati em dezenas de portas, recebi muitos ‘nãos’ e poucos ‘sins’. Quando a editora portuguesa Chiado aceitou o livro, foi uma alegria imensa. Depois veio a fase mais difícil: fazer o livro chegar aos leitores. Eu sou escritor, não vendedor, e isso também foi um aprendizado”, reflete.
O reconhecimento conquistado com Cinco Mortes Simples abriu espaço para novas histórias. “Durante a escrita, surgiu a ideia de O Roubo da Gameleira, e logo depois um terceiro projeto. Agora, busco patrocinadores para viabilizar a publicação e garantir que o livro seja acessível. A literatura precisa chegar ao leitor”, enfatiza.
Além das letras, Elenckey Pimentel dedica-se ao cinema e ao teatro como instrumento de preservação da memória acreana. Em 2020, ele realizou o documentário Cooperativa Mãos de Mulher – Xapuri. No final de 2024, estreou como assistente de direção no filme NAZARÉ DE XAPURI – curta-metragem sobre a cantora xapuriense Nazaré Pereira e foi produtor do filme CHICO MENDES – DA BALA À BORRACHA, ambos em Xapuri. No Rio de Janeiro, ele atuou em peças de teatro, escreveu outras e teve uma peça de sua autoria encenada, O seguro, em 2008.
Atualmente, está pesquisando para documentários sobre o renomado Colégio Divina Providência, que completará 100 de criação em 2028; e as Irmãs Servas de Maria Reparadoras e Madre Gabriela Nardi, figuras fundamentais na formação social e educacional do estado. “Registrar essas histórias é essencial. As irmãs, por exemplo, não representam apenas a fé, mas uma parte do esforço coletivo que ajudou a construir Xapuri.”
Em 2025, ele idealizou o projeto Cinema Xapuri, que exibiu curtas de cineastas acreanos durante a tradicional Festa de São Sebastião. “Foi emocionante ver o público assistindo a filmes feitos por gente da nossa terra. Isso mostra que o Acre tem muito a dizer por meio do cinema.”
Comprometido com a formação de leitores, Elenckey mantém a campanha “Acreano, seja leitor”, criada para incentivar o hábito da leitura no estado. “Ler é essencial. A leitura amplia o raciocínio, o senso crítico e a capacidade de compreender o mundo. Um povo que lê é um povo menos enganado.”
Ciente das dificuldades enfrentadas por escritores, ele deixa uma mensagem aos que iniciam na arte: “As barreiras sempre vão existir. É preciso insistir, adaptar-se, encontrar outros caminhos. Quem quer fazer, encontra um meio de fazer.”
Entre o livro e o cinema, entre a ficção e a memória, Elenckey Pimentel constrói uma obra que reafirma o valor da identidade acreana. Seus personagens e projetos revelam um artista que transforma o passado em criação, e a cultura local em resistência — para que as histórias do Acre jamais desapareçam.








