Rio Branco, 21 de julho de 2025.

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Com mais de 100 anos, acreana celebra o Dia das Mães ao lado da filha: “Viver é bom demais”

Chegar aos cem anos é algo raro. Conforme uma projeção da Organização das Nações Unidas (ONU), no Brasil, em 2025, cerca de 9 mil pessoas possuem mais de um século de vida.

Neste Dia das Mães, o Portal Acre apresenta aos leitores uma sorridente idosa, que ama viver, cantar e lembrar das histórias de sua centenária vida.

Aos 101 anos, dona Aracy esbanja bom humor: Foto Luís Oliveira/Portal Acre

Moradora de Rio Branco, na região da Floresta Sul, Aracy Dias de Oliveira nasceu  em 7 de outubro de 1923, em Cruzeiro do Sul. Veio morar na capital acreana aos 31 anos, onde construiu uma linda família. Aracy já está na quarta geração, é mãe, avó, bisavó e tataravó.

Em sua casa aconchegante, dona Aracy passa seus dias de forma confortável, sentada assistindo televisão ou relembrando músicas que ama cantar e que fazem parte das suas lembranças de vida.  A filha caçula, Francineide Dias, é quem dedica sua vida ao cuidado da mãe, que continua sendo o centro da família.

Quem a conhece, já descobre que a principal característica de dona Aracy é o bom humor. No início da conversa, foi logo dizendo, soltando uma bela gargalhada, que uma das coisas que mais gostava de fazer na vida era namorar. “Eu gostava muito de dançar. Cantava muito. Sentava ao lado do meu tio e cantava para ele tocar. Eu também namorava muito, sempre fui namoradeira, coisa boa”, conta. Lembra, emocionada, que foi um tio que a ensinou a tocar violino, outra de suas paixões. Com 101 anos, ela mesmo conta que a memória já não é mais a mesma, com uma lucidez impressionante. 

Carinho de mãe e filha, Francineide é quem cuida de dona Aracy: Foto Luís Oliveira/Portal Acre

Dona Aracy se casou com um cearense, conhecido pelo apelido de “Chico Paletó” (tradição dos cearenses que chegavam à região vestidos formalmente, mesmo em meio à floresta amazônica), e teve três filhos com ele: Fátima, Raimundo e Francineide. Antes disso, ela já era mãe de Edmar, seu primogênito.

A matriarca da família nunca trabalhou fora. Foi dona de casa, mãe dedicada e companheira forte. Seu marido foi seringueiro e soldado da borracha, e faleceu em 2007, aos 93 anos. Foi então que Francineide, a filha mais nova, assumiu os cuidados mais próximos da mãe. Ela conta que, com o passar do tempo, os papéis se inverteram. “Eu agora que cuido dela. Ela diz que passei a ser filha e mãe [dela] ao mesmo tempo. Que os papéis se inverteram”.

Perdas marcantes

Um dos acontecimentos que marcou a vida de dona Aracy e que até hoje a faz se emocionar foi o falecimento de sua mãe. Na época, ela tinha 7 anos e viu sua mãe sofrer enquanto estava em trabalho de parto. “Minha mãe morreu assim: ela numa rede e o sangue descia. Por que não levaram ela logo para o hospital?”, relembra com tristeza.

Outro luto que marcou sua vida foi a morte do seu filho mais velho, Edmar. Ele faleceu aos 25 anos, em um acidente de carro vindo de Manaus para Rio Branco. “Esse acidente abateu muito ela”, conta Francineide sobre esse momento difícil na vida da mãe. 

Luta pela saúde

Além da alegria de viver, dona Aracy também é uma guerreira. Entre as muitas lutas de sua vida, dona Aracy também passou por situações delicadas de saúde. Em 2021, já com 97 anos, pegou Covid-19 e ficou com 60% dos pulmões comprometidos.  Exigiu da filha que fosse levada para casa. 

“Me senti culpada. A médica disse que ela precisava ficar internada. Quando ela me viu [dona Aracy], parecia um bebê e pediu para não deixar ela no hospital. Eu assinei um termo e trouxe ela para casa. Mas, alguns dias depois, ela começou a sentir falta de ar e eu perguntei se ela queria ir ao hospital, ela disse que sim. Uma semana depois, ela recebeu alta, o que foi praticamente um milagre com quase 100 anos”, explica Francineide.

Em novembro de 2023, outra situação delicada de saúde aconteceu. Uma queda em casa causou a quebra do fêmur de dona Aracy e ela precisou ser operada. Foi uma decisão difícil para Francineide tomar, tendo em vista os riscos que a cirurgia apresentava. Após o procedimento, dona Aracy ficou cinco dias internada na UTI.

“Quando eu cheguei do trabalho, a mamãe estava caída no chão. Levamos ela para o Pronto Socorro e lá o médico disse que tínhamos duas alternativas para a idade dela: levar para casa, deixá-la deitada o resto da vida ou fazer a cirurgia, que era de risco por conta da idade e ela poderia morrer durante o procedimento. Decidimos autorizar a operação, que foi um sucesso”, conta Francineide.

Apesar dessas situações, dona Aracy, que ama tomar um bom copo de leite e usar vestidos bonitos e confortáveis, ainda consegue manter autonomia para realizar pequenas tarefas. Ela consegue sentar na poltrona do seu quarto sozinha e calçar seus chinelos sem a ajuda de ninguém.

“Eu passo para cá [a poltrona] sozinha, para voltar [para cama] a Francineide me ajuda. Quando sento aqui, eu mesma calço as minhas sandálias, uma e depois a outra, gosto de fazer as minhas coisas”, conta dona Aracy.

Apesar dos 101 anos, dona Aracy tenta se independente em algumas tarefas diárias: Foto Luís Oliveira/Portal Acre

Amor incondicional

Além de Francineide e seus dois irmãos, dona Aracy tem ainda três netos, dois bisnetos e uma tataraneta, todos moram em Rio Branco. Mas é Francineide quem mais cuida da mãe. Servidora pública, ela acorda às 5 da manhã todos os dias e só vai dormir depois que garante que tudo está pronto e que sua mãe está deitada e confortável.

“Eu sou muito feliz por ainda ter ela comigo. Peço a Deus que ainda me dê muitos anos ao lado dela. Não consigo nem pensar na minha vida sem minha mãe. Tenho muito amor por ela, muita dedicação, carinho e, acima de tudo, gratidão. Por tudo que ela já passou e tudo que superou”, fala emocionada.

“Eu sou muito feliz por ainda ter ela comigo. Peço a Deus que ainda me dê muitos anos ao lado dela. Não consigo nem pensar na minha vida sem minha mãe. Tenho muito amor por ela, muita dedicação, carinho e, acima de tudo, gratidão. Por tudo que ela já passou e tudo que superou”, fala emocionada.

“Eu sou muito feliz por ainda ter ela comigo. Peço a Deus que ainda me dê muitos anos ao lado dela. Não consigo nem pensar na minha vida sem minha mãe. Tenho muito amor por ela, muita dedicação, carinho e, acima de tudo, gratidão. Por tudo que ela já passou e tudo que superou”, fala emocionada.

A história da família é marcada pela união. Dona Aracy tem quatro irmãs por parte de pai, além de muitos sobrinhos em Cruzeiro do Sul. No último aniversário, em outubro de 2024, foi feita uma comemoração íntima com as irmãs, filhos e netos. “Fizemos um bolinho, uma decoração simples, mas com muito carinho”, destaca.

Hoje, aos 101 anos, ela segue cercada de amor e cuidado, cantando as músicas  que lembra, sorrindo e nos dando uma lição de vida: “Viver é bom demais”.

“Viver é bom demais”, diz dona Aracy: Foto Luís Oliveira/Portal Acre

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