Por Bruna Giovanna para o Portal Acre
A Castanha-do-Brasil é nativa da região amazônica, onde é encontrada em abundância nas florestas tropicais. Seu fruto é bastante consumido no Brasil e mundo afora, devido suas propriedades serem consideradas fontes de vitaminas, minerais, fibras e gorduras boas.
Quando falamos da exportação do fruto, ele soma mais de US$ 9,6 milhões entre os meses de janeiro a novembro de 2024, apenas no estado do Acre, algo equivalente a R$ 55,4 milhões, segundo a conversão do Banco Central do Brasil. Isto é o que aponta os dados apresentados pelo Sistema Oficial para Extração das Estatísticas do Comércio Exterior Brasileiro de Bens (Comex Stat).

Mas, além do fruto, outra parte da castanha que também tem se destacado no mercado é seu ouriço. Ele tem sido utilizado como matéria-prima para muitos artesãos que veem na capa protetora do fruto uma fonte de renda bastante vantajosa.
Para dona Daraci Macedo, natural de Brasileia, como filha de soldado da borracha, seus dias se baseavam em ajudar a família no corte de seringa e carregar malotes de castanhas para depois quebrá-las.

“Quando as pessoas olham para o meu trabalho, veem apenas como ouriço, mas eu sempre digo que isso aqui é o símbolo da minha família. Hoje em dia, não corto mais seringa, mas sigo dando continuidade de outra forma.”
A artesã explicou que nem sempre foi assim. Tudo começou quando em 2019 ao ser convidada para expor seu trabalho em uma famosa feira realizada aos finais de semana no Horto Florestal em Rio Branco.
“Me convidaram para expor meus panos pintados, mas na época minha máquina de costura havia quebrado e eu não tinha nada para levar. Então, fui na casa de minha mãe e vi os vários ouriços ao redor da grande castanheira no quintal. Não pensei duas vezes, peguei e uni a carcaça com vários itens recicláveis. Deu tão certo que com as vendas, paguei o conserto da minha máquina e a viagem de ida e volta para Brasileia.”
O mesmo aconteceu com Raimundo Silva, popularmente conhecimento como Osilva, que conseguiu criar os três filhos apenas com a venda de peças artesanais advindas da castanha-do-Brasil. Ele explicou que tudo começou em há 35 anos quando iniciou com a venda de biojoias – também conhecidas como joias naturais – e viu que o ramo poderia ser promissor.
“Eu trabalhava vendendo produtos de porta em porta, mas depois que tive a oportunidade de fazer um curso quando ainda tinha 24 anos, vi na biojoia uma forma de ter uma boa renda. Com o passar dos anos, vi no ouriço uma forma de inovar, é através deles que produzo as malocas e os porta celulares, algo novo, mas que tem chamado bastante atenção das pessoas.”
O artesão destacou ainda que em um mês bom consegue desembolsar até R$ 4 mil apenas com a venda das peças. Mas que estar nessa área também lhe possibilitou vê-la como uma terapia no seu dia a dia.

“Essa arte é muito aceita pela população, eu moro em Assis Brasil então sempre tenho compradores da Bolívia e Peru, eles gostam bastante das sementes porque veem como um símbolo brasileiro. O artesanato me possibilitou muitas coisas, foi por meio dele que construí a minha casa e formei minha família, às vezes, as pessoas não acreditam que fiz tudo isso apenas com a renda do que produzo”.
Os depoimentos reforçam a potência presente nos artesãos de levarem arte atrelada a consciência ambiental, ao utilizarem ouriços, sementes, fibras, cascas e outros, ou seja, materiais que não teriam serventia, para serem transformados em peças relevantes que geram renda, beneficiando várias famílias.









