A primeira mensagem que li na manhã de domingo foi a do meu pai, que, no grupo da família, parabenizava minha mãe. Um trecho da mensagem dizia:
“Eu continuo a falar que é injusto dedicar um só dia às mães, que incansavelmente dedicam suas vidas cuidando de filhos com muito amor, carinho, afeto e trabalho incessante do lar, durante toda sua vida, ainda que seus filhos já estejam velhos em idade. Mãe é todos os dias, o ano inteiro, a vida toda — infinitamente, até o último suspiro.”
Com a mensagem dele, me pus a pensar que viveríamos mais um domingo cheio de feeds lotados de sorrisos e declarações de amor. Não que isso não seja lindo — e sim, é importante.
Mas… e na segunda?
Na segunda, elas acordam para mais um dia de batalha. Muitas vezes, invisíveis. Outras tantas, excessivamente julgadas.
Na segunda, aquela mesma mulher que recebeu um buquê talvez acorde exausta, sem ter dormido direito, porque à noite ela cumpre outra jornada.
A da mãe que amamenta. Da que cuida do filho doente. Da que organiza a casa enquanto todos dormem, porque é o único tempo que tem. Ou daquela que estuda madrugada adentro, porque é a única hora que dá.
Na segunda, a mãe vai ao trabalho e ouve que “mãe que é mãe não deixa os filhos serem criados por babá”.
Abre mão do trabalho e escuta que “não pode se anular”.
Na segunda, essa mulher se sente aliviada de sair de casa e descansar — nem que seja um pouquinho — da missão de maternar. Mas também se culpa por desejar uma folga daqueles que ela só sabe amar.
Na segunda-feira, a mulher que materna segue invisível fora do feed. Vive pressionada para ser perfeita e grata.
Como se o amor pelos filhos anulasse, automaticamente, qualquer necessidade de descanso, de espaço, de sanidade.
Como se bastasse um presente de Dia das Mães para compensar 364 dias de sobrecarga emocional, mental e física.
A verdade é que o Dia das Mães virou um alívio de consciência coletiva. Um único dia no ano para homenagear quem carrega tanto — sem que ninguém pergunte se ela ainda aguenta. Um gesto simbólico que tenta cobrir a ausência de suporte real e necessário todos os dias: emocional, psicológico, físico, financeiro.
Então, que tal se nós, como sociedade, déssemos às mulheres que são mães algo verdadeiramente revolucionário?
365 dias de compreensão.
Escuta sem julgamento.
E, de vez em quando, um simples: “eu cuido das crianças, você vai dormir.”
Isso, sim, é luxo.
Porque mãe não precisa do rótulo de super-heroína. Ela só precisa de apoio. De verdade. Todo dia.
Enfim, feliz Dia das Mães — mas, principalmente, feliz segunda-feira.
Porque o amor de verdade continua presente mesmo quando o feed já “esfriou”.