No último dia 1º de maio, na Arena Carandá, localizada no bairro Carandá, em Rio Branco, acontecia a aula inaugural da Escolinha de Futebol da Baixada.
Infelizmente, esse foi o último “ato” de uma história de amor pelo esporte e de oportunidade a jovens carentes da região. O idealizador do projeto social, o empresário Antônio Maia, 67 anos, faleceu nesta terça-feira, 13, em Rio Branco.
No dia da aula inaugural, acompanhado do filho, Anthony, e já debilitado pela luta contra um câncer, o empresário chegou a Arena Carandá e fez questão de cumprimentar a criançada que se preparava para entrar em campo.
À reportagem do Portal Acre, seu Antônio contou que a ideia do projeto social partiu de um pai preocupado com o seu filho e ganhou força ao envolver toda a comunidade, reunir parceiros e formar o projeto de escolinha de futebol gratuita para crianças e adolescentes, com idades de 10 a 14 anos.

“A preocupação era justamente ele não ser aquele menino preso dentro de casa, com pouca convivência. A gente queria que ele tivesse a oportunidade de conviver com várias classes sociais, porque isso é muito importante para a formação de um cidadão. Que ele conhecesse o meio ambiente onde vive, o entorno, tivesse noção de mundo, de família, de comunidade. Isso sempre foi uma preocupação minha”, explicou Antônio.
Crescer frequentando escolinhas de futebol, e a prática esportiva, teve papel fundamental na formação de Anthony. Segundo Antônio, hoje, aos 20 anos, ele é um jovem comunicativo, respeitoso e tem facilidade para transitar por diferentes ambientes sociais.
“Sempre falei para minha esposa: enquanto ele for menor de idade, eu tomo as decisões. Depois que crescer, ele escolhe os caminhos dele. Essa convivência foi muito válida”, contou Antônio, orgulhoso.
Com a ideia de oferecer ao filho e às crianças da região envolvimento com a prática esportiva, o espaço da Arena Carandá começou a ser transformado quando Anthony tinha 16 anos. Levado pelo pai para treinar no local, ainda em situação precária, o campo chamou atenção e fez seu Antônio ter os primeiros pensamentos sobre o projeto.
Antônio perde a luta contra o câncer
Nesta terça, seu Antônio não resistiu ao câncer e faleceu na capital acreana. O empresário, nascido no Mato Grosso do Sul, advogado de formação, morava há 12 anos no Acre, e era proprietário da franquia de sorvetes “Chiquinho”.
O velório será na Capela São Francisco, localizada na Isaura Parente, e o sepultamento está marcado para a manhã desta quarta-feira, 14, no Cemitério Morada da Paz.

Legado de amor
“Era um lugar totalmente abandonado, mas numa localização muito boa. Gostei muito do espaço. E esse lugar tem uma história, o Weverton, atual goleiro do Palmeiras, começou uma escolinha aqui. Achei isso muito relevante para a aceitação do local. Frequentando o espaço dia sim, dia não, entrei em negociação e comprei a área”, contou.
A compra do espaço foi o primeiro passo. A ideia inicial de Antônio era criar um centro de treinamento no futuro, mas, em 2024, surgiu a proposta de montar uma escolinha. Ele convocou pessoas do bairro e juntos estruturaram a associação, legalizaram o projeto e resolveram as questões da documentação.
A resposta da comunidade foi imediata. No primeiro dia de matrícula, mais de 40 crianças procuraram vagas. Antônio diz que as mães deixam seus filhos no campo e seguem tranquilas para fazer suas atividades, confiantes na segurança e seriedade do projeto. “As crianças entram pelo portão e os pais saem tranquilos. É gratificante ver essa confiança”, complementou.
Durante o bate-papo com a reportagem, seu Antônio, deu uma verdadeira lição de cidadania. “Quando você investe em uma atividade como o esporte, você atinge toda a família. São crianças que não serão seduzidas pelo crime, não há ferramenta mais inclusiva do que o esporte”, enfatiza Antônio.
O vereador João Paulo Silva (Podemos) era apoiador do projeto e fala sobre a morte do empresário: “É uma perca irreparável, para o esporte, pare o empreendedorismo. Um homem que tinha uma contribuição social muito presente e deixa um legado de humildade e valorização da comunidade das periferias de Rio Branco, através do trabalho que ele fazia ali na região da Baixada da Sobral”, destacou.
