A morte do Policial Penal Wanderson Costâncio Freire Fidelis, 36 anos, encontrado morto na manhã desta quinta-feira, 29, reascende o debate sobre a saúde mental dos operadores de segurança pública no Acre.
Os servidores estão expostos a condições de trabalho estressantes, que podem gerar sofrimento mental que pode evoluir para quadros de depressão, ansiedade, burnout e, em casos mais extremos, o suicídio.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 revelam que houve aumento de 26,2% na taxa de suicídios de policiais civis e militares da ativa.
Observando apenas o número de mortes de policiais militares, a situação é muito grave: no Acre, Amapá, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Os dados demonstram que PMs morreram mais por suicídio em 2023 do que por confronto na folga ou em serviço.
A alta exposição ao estresse e ao trauma, além da pressão constante da profissão, são fatores determinantes para os valores desses dados. No Acre, o caso de Wanderson levanta o debate sobre a questão da saúde mental dos agentes de segurança pública no estado.
Segundo o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), a instituição conta com diversos projetos com foco na saúde mental e apoio psicológico aos servidores e policiais penais do órgão. A instituição possui um setor específico, a Divisão de Assistência ao Servidor Penitenciário (DASP), onde os profissionais podem buscar orientação para ter acesso aos programas de saúde mental disponíveis.
Programas de assistência
Dentre os programas, o órgão destaca o Centro Integrado de Apoio Biopsicossocial (CIAB), que disponibiliza psicólogos e psiquiatras para atendimento de todos os servidores da segurança pública e familiares. A iniciativa é promovida pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Outro destaque é o Centro de Atenção à Saúde do Servidor (CASS) que atende em diversas áreas, inclusive nas áreas psicológica e psiquiátrica, para todos os servidores do Acre.
No início de 2025, o Acre também aderiu ao Escuta SUSP, um projeto federal do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), que oferece assistência psicológica especializada, de forma online, aos profissionais do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). O projeto também inclui os policiais penais.
Além dos programas, também são realizadas palestras e eventos com foco na servidores penitenciários. O último evento sobre a temática aconteceu nesta quarta-feira, 28, com o título “Humanização dos Serviços Penais” e contou com a participação de uma psicóloga que abordou sobre os caminhos do cuidado em saúde mental.
Sindicato diz que policiais estão doentes e que acompanhamento não é eficaz
A reportagem do Portal Acre ouviu Leandro Rocha, presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Acre (Sindpol/AC) sobre o assunto. Ele relata que existem muitos policiais doentes, que precisam de acompanhamento.
“Possuímos vários Policiais Penais acometidos por doenças psíquicas, em razão de o trabalho policial penal ser bastante complexo, perigoso e com alto grau de estresse. Atualmente, a sobrecarga de trabalho, causada pelo baixo efetivo, pelo salário defasado e, muitas vezes, pela necessidade de exercer atividades complementares para suprir a renda, tem agravado ainda mais esse quadro”, afirma.
Leandro diz ainda que o setor que faz o acompanhamento psicológico no Iapen não é suficiente. “A administração não consegue acompanhar essa demanda de forma eficaz. Existe um setor responsável pelo acompanhamento, porém ainda é ineficiente. É necessário intensificar a política de acompanhamento e tratamento dos servidores policiais, pois as doenças psíquicas são silenciosas e exigem maior atenção por parte da administração e do governo do Estado” explica.