Por Bruna Giovanna
Segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Produtores de Cacau (ANPC), o Brasil é um dos países que já produz o suficiente do fruto para o consumo interno. Em novembro de 2024, o IBGE estimou que a produção de cacau no Brasil em 2024 seria de 284,1 mil toneladas. Dentre os estados pioneiros, se destaca o Pará, na região Norte do país.

Em decorrência da alta do preço do cacau, baixa produtividade dos plantios de Gana e Costa do Marfim, restrições comercias europeias, mudanças climáticas, o Brasil está em momento ímpar de oportunidades, para o incentivo e ampliação da cultura do cacau, mudas de sementes e de clones onde o valor é mais alto, a produção tem se estendido para outros estados da região, como a exemplo do Acre. Os produtores, tem apresentado interesse em realizar o plantio em consórcio com outras plantações, como banana, açaí, essências florestais, entre outras.
Para seu Agnaldo Ferreira, paranaense de nascença e acreano de coração, a plantação de cacau sempre esteve presente em sua vida. O agricultor contou que desde os 16 anos, ainda em Rondônia, foi quando teve o primeiro contato trabalhando em lavouras de cacau.
“Eu não tinha a experiência de plantar. Então, quando cheguei no Acre, me interessei em tentar. Como a saída desta leva está boa, penso em continuar principalmente porque estamos tendo o apoio do Estado. Essa última leva foi de 200 quilos, consegui tirar uns R$ 14 mil na venda da amêndoa seca do cacau.”

Pela possibilidade do plantio em consórcio, o agricultor explicou que em sua propriedade ele tem plantado 3 hectares de cacau e 1,5 de café e a ideia é que siga dessa forma, intercalando, para conseguir duas rendas e em épocas diferentes. Mas, ao ser perguntado sobre qual dos dois ele tem uma maior preferência, destaca que pelo cacau.
“Prefiro o cacau porque trabalha na sombra, o produtor não sofre tanto quanto em comparação com o café que é preciso passar por várias etapas cansativas. Já o cacau não, você colhe, leva pro processo de fermentação e está pronto. Além da facilidade de venda, no mesmo dia que a amêndoa do cacau foi pesada, vendi. Já com o café é um pouco mais demorado porque necessito de um comprador e isso leva de 15 a 20 dias.”
De acordo com Aclecio Daniel, o cacau vai além de uma fruta. Como produtor de banana há cinco anos, ele viu nesse fruto uma nova possibilidade no campo. Ele destacou que foi conversando com os amigos que recebeu essa dica de que a produção do cacau seria um bom caminho.
“Eu fiz um investimento das minhas economias de quatro anos e mais um empréstimo, tudo isso para entrar no ramo de cacau porque ele parece ser vantajoso. Principalmente, porque não precisa de uma mão de obra tão intensa como no café e eu ainda consigo dar continuidade com meus pés de banana.”

Marcos Rocha, engenheiro Agrônomo e coordenador do Programa Cacauss Socioambiental Sustentável da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), os produtores acreanos tem grande potencial de resultados na área da cadeia produtiva de cacau, principalmente com o incentivo que vem sendo dado.
“Conseguimos possibilitar a cinco agricultores, dentre três mulheres, cinco técnicos da Seagri, três técnicos da Funtac e um servidor do Sebrae, em setembro de 2024, um intercâmbio para o Pará, onde eles puderam conhecer de perto a produção de cacau do estado. Foi uma imersão bastante rica, onde eles puderam ver desde a produção nas zonas rurais, nas cooperativas até o produto final com a venda na maior feira da América Latina de cacau e chocolate. Foram 14 dias de vivência que só foi possível com a parceria da Secretaria com o Sebrae, Funtac, Cooperativa e a Associação de produtores rurais e Extrativistas.”
Segundo o produtor, a escolha do cacau não foi em vão, ele conta a animação de a cada dia ver a planta se desenvolvendo mais e ressalta que seu foco será na produção de chocolate por acompanhar a iniciativa em outros estados.
“É tudo novo pra mim, diariamente, converso com os técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), onde eles têm me dado muitas dicas. Minha ideia é com meus colegas que também estão voltados para o cacau é que no futuro, consigamos montar uma cooperativa e produzir chocolate a partir desse cacau.”
Controle da Monilíase
Em virtude de a Monilíase ser uma doença do cacaueiro e do cupuaçuzeiro, causada pelo fungo Moniliophthora roreri que ataca diretamente o fruto em qualquer fase do seu desenvolvimento. Medidas precisaram ser tomadas pelo Estado a fim de erradicar o fungo, uma vez que instalado nas plantações, ele causa grandes perdas econômicas, pois pode comprometer até 100% da produção.
O fungo aparece como forma de um pó branco ou de cor creme na superfície do fruto e seus esporos se espalham com facilidade pelo ar, podendo contaminar frutas e causar perdas significativas.
Em decorrência desse fungo, em 2021, houve uma interrupção na produção, pois o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (IDAF) realizou o trabalho de identificar as propriedades com a monilíase e dar conta da erradicação e controle, porém, ainda é realizado constantemente o monitoramento. Diante disso, o técnico Marcos Rocha, explica o que tem sido feito para resguardar a produção dos agricultores em relação a isso.
“Esse passo foi dado no município de Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima, a partir disso, agora existe um protocolo de convivência e de segurança pra gente avançar com a cultura do cacau. É importante destacar o importante trabalho que o IDAF, MAPA, Governo do Pará vêm realizando, juntamente com a Seagri, Sema, e outras instituições, estão imbuídas de que essa praga não avance, por conta de que realmente ela traz muito prejuízo econômico as lavouras do cacau.”
Programa de incentivo ao cacau no Acre
Buscando apoiar efetivamente o produtor, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri), desenvolve o Programa Cacauss (Nativo e Cultivo), onde seus pilares são buscar a promoção, incentivo e expansão do plantio do cacau e manejo das florestas com o cacau nativo.
Os resultados esperados em três anos de implementação, estão atrelados em: beneficiar 1.000 famílias de produtores familiares, povos originários, extrativistas e ribeirinhos no estado; plantar 1.000 hectares em consórcios ou sistemas agroflorestais; manejar 200 hectares de Cacau Nativo e recuperar áreas degradas; reduzir o uso de fogo e desmatamento; e reduzir passivo ambiental.

Devido à importância não só econômica do cacau com a geração de renda familiar, mas também pela cultura do fruto, por ele possibilitar o aproveitamento das áreas por muitos anos, ele vem como uma boa opção para os produtores que pensam em migrar ou acrescentar outros tipos de plantio em seus hectares.
Diante disso, a Seagri através de programa específico de fortalecimento da produção do cacau, busca trabalhar auxiliando esses produtores por meio do apoio e orientação técnica, por entender a relevância dessa instrução inicial. O cacau, também se destaca por sua sustentabilidade econômica e ambiental na segurança dessas famílias para não precisarem estar sempre abrindo novas áreas por conta da escassez da mão de obra e pelo custo.
Marcos Rocha, explica que desde o ano passado, a Secretaria está realizando a Rota do Produtor de Cacau, ou seja, identificação de produtores para saber sobre suas áreas e quantidade comercializada para que o Estado possa levar orientação e capacitação para essas famílias. A partir desse trabalho, já foram mapeadas mais 250 famílias, dentre interessadas em plantar ou que já estão plantando.
“Dentro do programa de apoio ao cacau, atuamos com duas vertentes: o cacau nativo e o de cultivo, temos várias frentes em diferentes estágios de evolução. Por exemplo, no caso de Cruzeiro do Sul, eles estão plantando há mais tempo, lá já existe uma produção artesanal de chocolate, um plantio em consórcios e sistemas agroflorestais combinando com banana, açaí e outras espécies. Também podemos citar Manoel Urbano, onde um produtor já comercializou seus produtos para Rondônia. Além de Porto Acre e Acrelândia.”
Buscando identificar os investimentos necessários para consolidar a cadeia cacaueira no Acre e também projetar um espaço para discussões técnicas das cadeias de valor relevantes do estado, ainda no final do ano passado a Seagri realizou o fórum “Agricultura em Debate”, com foco na cultura do cacau.

“O secretário Luís Tchê priorizou o cacau, o Fórum foi uma iniciativa feita no ano passado, onde tivemos a presença de produtores de vários municípios do estado, praticamente 400. Isso foi um marco para o Programa de Cacauss que a Secretaria está à frente, para de fato fortalecer, fomentar, divulgar e dizer que o Acre tem essa oportunidade, bem como a agricultura familiar, povos originários, extrativistas de trabalharem essa cultura, que está nacional e internacionalmente muito forte em termos de preços e geração de renda”.