Por Yara Vital
Uma frase circulou pelas redes esta semana: “Thaís Carla enganou as pessoas.”
Bastaram 15 segundos de um Reels para reacender o debate sobre corpos gordos, saúde e escolhas pessoais.
O motivo? A dançarina e influenciadora, ativista histórica do movimento de aceitação corporal, fez uma cirurgia bariátrica.
Mas será mesmo que ela enganou alguém?
Thaís Carla nunca vendeu emagrecimento.
Nunca prometeu um corpo diferente. Pelo contrário: ela subiu em palcos, estrelou campanhas e ocupou espaços onde mulheres como ela — gordas, pretas e fora do padrão — historicamente foram apagadas.
Ela dançou grávida, sambou com dor nas pernas, enfrentou olhares de desprezo enquanto entregava arte e beleza. Foi feliz e vitoriosa em um corpo que o mundo insiste em desumanizar.
A bariátrica, para ela, não foi uma tentativa de se enquadrar. Foi um ato de reparação: após anos cuidando da saúde, enfrentando dietas, exames e limites físicos, a cirurgia veio como alternativa médica, não estética.
A diferença é que, quando uma mulher magra faz o mesmo procedimento, aplaudimos. Quando uma mulher gorda o faz, dizemos que ela traiu uma causa.
Mas Thaís não traiu nada. Continuar viva também é militância.
Ela nunca esperou emagrecer para viver.
Construiu uma carreira de sucesso, formou uma família, criou filhas com amor, fé e presença.
Sempre foi exemplo de autoestima, de coragem e de liberdade — inclusive para mudar de ideia ou de direção, se assim fosse preciso.
O incômodo que Thaís causa nunca foi por ser incoerente. É por ser visível. Por ocupar. Por existir com alegria, mesmo num corpo que a sociedade preferia esconder. E agora, por tomar uma decisão íntima, recebe novamente a fúria coletiva.
Thaís Carla não enganou ninguém. Ela ensinou, com o próprio corpo, que é possível ser feliz, ser amada e realizar seus sonhos como você é — e, se precisar mudar, isso também faz parte do amor-próprio.
O corpo dela sempre foi dela. A narrativa também deveria ser.
Yara Viital é empresário do digital, influenciadora e colaboradora do Portal Acre.
