A cidade de Xapuri encerrou, nesta quinta-feira, 5, a programação da Semana do Meio Ambiente com uma solenidade marcada por discursos fortes e reflexões sobre o papel histórico do município no debate ecológico. O evento contou com a presença de autoridades locais, representantes de instituições de ensino e lideranças comunitárias, além de estudantes da rede pública.

Ao longo de sete dias, foram realizadas diversas atividades voltadas à conscientização ambiental, como palestras, apresentações teatrais, exibição de filmes, exposições e o plantio de mudas. Estudantes das redes municipal e estadual participaram ativamente das ações, que contaram também com o apoio do Instituto Federal do Acre (Ifac).
Durante a cerimônia de encerramento, o professor Deimisson Gomes, representante da direção do Ifac, destacou que a preservação ambiental é indissociável do cuidado com a vida humana e com todas as espécies.
“Quando se pensa no meio ambiente e no cuidado com a fauna e a flora, se pensa antes de qualquer coisa no cuidado com a vida, com o ser humano e com todas as espécies de maneira geral. É uma responsabilidade de todos nós. Precisamos identificar quem são os maiores responsáveis para que nós estejamos agora vivendo as consequências do aquecimento global e das questões climáticas que afetam a vida no planeta para que o tamanho da cobrança seja proporcional à responsabilidade deles.”
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Paulo Pinheiro, também falou durante o ato. Ele ressaltou que a preservação ambiental precisa estar vinculada a políticas públicas que reconheçam o papel do trabalhador rural na conservação da floresta e disse que o legado de Chico Mendes deve ser referência de luta e não de enfrentamentos.
“A preocupação com o meio ambiente não pode ficar restrita apenas à Semana do Meio Ambiente. É preciso criar condições reais para que a floresta continue de pé. Precisamos de incentivos, de apoio técnico, de políticas públicas que enxerguem o trabalhador rural como aliado da preservação. E não podemos esquecer de quem abriu esse caminho: Chico Mendes. Seu legado deve ser referência para o futuro, e não instrumento de disputa.”
O momento mais aguardado do evento foi o discurso do prefeito Maxsuel Maia, que defendeu a retomada do protagonismo de Xapuri na agenda ambiental nacional e criticou o que chamou de ‘redução histórica’ do legado de Chico Mendes a uma narrativa política rasa e improdutiva.
“Em Xapuri, a importância que a cidade possui no contexto do debate ambiental não tem sido valorizada porque nas últimas décadas, no Acre, e principalmente aqui, se politizou o legado, a imagem e a história de Chico Mendes, como se ele representasse apenas o Sindicato, a esquerda e o PT. Eu chamo isso de reducionismo histórico. Chico Mendes é muito maior do que isso.”

Em tom de apelo à juventude presente no evento, o prefeito prosseguiu: “Nós precisamos romper com esse discurso, sair desse debate raso, de radicalismo, de vermelho e azul, de esquerda e direita. Nós temos que se valer e se apropriar desse legado e dessa importância que a nossa cidade tem para assumir o protagonismo, captar recursos e atrair investimentos, para desenvolver a nossa cidade.”
O gestor também apontou problemas estruturais que, segundo ele, comprometem a coerência do discurso ambiental: “Discutir preservação ambiental sem garantir dignidade a quem vive nas florestas é uma ação inútil. Não tem como a gente discutir justiça climática sem discutir o social. A preservação do meio ambiente começa pela melhoria da qualidade de vida de quem vive na floresta e nas cidades amazônicas, que somos nós.”
Em seguida, Maia mencionou dados recentes e destacou contradições vividas por Xapuri, mesmo sendo referência histórica na luta ambiental: “Xapuri é terra de Chico Mendes, berço da chamada ‘Revolução Ambiental’, mas mesmo assim estamos no ano de 2025 e nossa cidade não possui um plano de resíduos sólidos ou de saneamento básico. Em 2023, durante determinado período, Xapuri teve o pior ar para se respirar no Brasil, e esse é um debate que precisa ser feito. A gente precisa assumir esse protagonismo e isso não pode ser virando a cara quando a gente fala na figura e no legado de Chico Mendes. Nós precisamos romper com isso e o momento é agora.”
Encerrando a programação, os participantes seguiram em caminhada de conscientização pelas ruas de Xapuri, passando em frente à Casa de Chico Mendes. O local, símbolo da luta do líder seringueiro, serviu de cenário para o encerramento simbólico da semana, marcada por reflexões necessárias sobre o presente e o futuro da Amazônia e de seus povos.