Rio Branco, 8 de junho de 2025.

Sem Fronteira

Empresa feminina do Agro cresce no Acre com assistência técnica do pequeno ao grande produtor e práticas sustentáveis alinhadas à agenda global

Por: Carolina Torres

Quando o assunto é o agro, muita gente pensa naquela agricultura tradicional formada por figuras masculinas, mas aqui no Acre tem uma empresa que, além, de combinar a assistência técnica do pequeno ao grande produtor, também combina a força feminina de vencer barreiras e enfrentar os estereótipos dentro dessa área. A empresa Agro Com Elas, fundada no final de 2020 no estado, representa exatamente isso: a força feminina no campo.

Doutoras lideram empresa no Acre: Foto cedida

Formada por um grupo de três agrônomas, todas doutoras em produção vegetal, Aliny Alencar, Thays Uchoa e Waldiane Almeida, destacam que a Agro Com Elas nasceu do desejo de trazer um diferencial para o campo. Hoje, após quase cinco anos, a empresa segue em crescimento e conta com 20 pessoas envolvidas, direta e indiretamente, entre homens e mulheres, oferecendo diversos serviços e um atendimento qualificado ao produtor.

“O nome Agro Com Elas foi escolhido justamente para destacar a presença e a força da mulher no agronegócio. A ideia era que, ao contratar a empresa, o cliente soubesse que estaria lidando com uma equipe feminina”, destacou Aliny Alencar.

Thays e produtor rural na zona rural do Acre: Foto cedida

Durante a caminhada para consolidar a empresa no mercado, Thays destacou o desafio de atuar em um setor historicamente dominado por homens, mas que vem crescendo com a conquista do espaço feminino. “As mulheres vêm, cada vez mais, conquistando seu espaço no agronegócio, especialmente nas áreas de liderança e gestão. Então, apesar dos desafios, o que vemos é um movimento crescente e consistente de protagonismo feminino em todos os elos da cadeia produtiva rural”.

Atualmente, o foco da empresa é a consultoria técnica do pequeno ao grande produtor, oferecendo orientações para melhorar as atividades na agricultura e na pecuária, visando tanto o retorno financeiro quanto a preservação ambiental.

Antonio da Silva Mendes, produtor da zona rural de Rio Branco, destaca o atendimento atencioso da empresa e honesto, é o diferencial: “Quando procurei a empresa, fui muito bem acolhido e apoiado. Tudo o que precisei, corri atrás junto com elas. Até hoje, sempre que surge alguma dúvida, eu procuro e elas me explicam direitinho, com toda paciência. Resolveram tudo que precisei com atenção. Na minha opinião, é uma empresa muito boa. Além de ser formada por mulheres, que já é um diferencial, elas trabalham com muita honestidade e isso, pra mim, é o mais importante”.

Casal Antônio e Luana são atendidas pela empresa na zona rural de Rio Branco: Foto cedida

Na área ambiental, a Agro Com Elas inova ao orientar o pequeno produtor em estratégias para reduzir a degradação dos recursos naturais. No que diz respeito à conservação do solo, Aliny explica que a agricultura no estado ainda segue muito o modelo itinerante, em que o produtor desmata uma área e a utiliza até a exaustão, para depois desmatar outra.

“A verdade é que, com o percentual de terras já desmatadas no nosso estado, não seria necessário derrubar mais nada para continuar produzindo. Claro que isso depende do estágio de degradação da propriedade, e aí o investimento pode ser alto. Mesmo assim, tem sido uma experiência gratificante demais ver as mudanças acontecendo.”

Aliny exemplifica que uma das primeiras assistências foi em um plantio de dez hectares de café, onde havia uma nascente na propriedade, considerada Área de Preservação Permanente (APP). O produtor queria desmatar a área e preencher com solo, mas com muito diálogo e embasamento técnico conseguiram convencê-lo a preservar a nascente.

“Mostramos que ele não precisava plantar mais mil pés de café para obter retorno. E dissemos algo que repetimos sempre: o que tem mais valor dentro de uma propriedade é a água. Manter as APPs preservadas ajuda a conservar essas nascentes e a biodiversidade local”, salientou Aliny.

Com o Brasil se preparando para a COP 30, que acontecerá em Belém, a necessidade de métodos sustentáveis e alternativas que degradam menos a natureza se torna essencial. A Agro Com Elas se mostra pronta para essa missão, oferecendo orientação para que o produtor substitua queimadas por adubações químicas ou orgânicas.

Além do trabalho de campo, no escritório elas cuidam da parte ambiental, como licenças para plantio e criação de animais, outorga de uso da água, que é a autorização para utilizar recursos hídricos na propriedade, e financiamento rural. “Nessa parte de crédito rural, conseguimos nos credenciar nos cinco maiores bancos e cooperativas do estado: Banco do Brasil, Basa, Caixa, Sicoob e Sicredi”, destacou Aliny.

Também acumulam contratos com empresas que oferecem assistência técnica em diversas cadeias produtivas, atuando em vários municípios. “Nossa equipe conta com técnicos diretamente nessas regiões, levando conhecimento e orientação de qualidade.”

“Muitos desses produtores nos procuram em busca de acesso a crédito e financiamento junto às instituições. Então, quando fazemos a visita às propriedades, conseguimos entender a realidade de cada um, o que nos permite orientá-los melhor. Além disso, auxiliamos até na comercialização e venda dos seus produtos, ou seja, em toda a cadeia produtiva”, realçou Thays.

A Agro Com Elas entra com a parte técnica para recuperar esses solos, muitas vezes empobrecidos, tornando-os produtivos novamente, sempre aliando rentabilidade à conservação ambiental.

“Outro ponto que ressaltamos bastante é o impacto das mudanças climáticas. Antes, tínhamos um verão de quatro meses; hoje são praticamente seis meses sem chuva, ou com chuvas tão espaçadas que mal molham o solo. As temperaturas sobem, e alertamos o produtor: ‘Se você não preservar sua água agora, logo terá o projeto na mão, mas sem como irrigar’, acrescentou Alencar.

A maior demanda recebida pela empresa vem da capital e de municípios como Sena Madureira, Bujari, Porto Acre, Senador Guiomard, Acrelândia, Brasiléia e Plácido de Castro, em áreas de fácil acesso. Na região do Juruá e Envira, já tiveram clientes em Mâncio Lima, Cruzeiro do Sul e Tarauacá, onde o maior desafio é o acesso.

Opções Sustentáveis

Em pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Acre (Fapac), em parceria com a coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e uma bolsa de pós-doutorado, a doutora Aliny Alencar estuda o uso de resíduos da castanha-do-Brasil em um plantio em Sena Madureira, tanto como cobertura de solo quanto na produção de mudas de café.

“Esse trabalho tem duas fases: uma no viveiro, com a mistura desse resíduo, e outra no campo. Estamos medindo os benefícios para o solo, tanto na parte química os nutrientes que muitas vezes precisaríamos comprar quanto na questão do calcário e adubos, que aqui têm custo elevado”.

Outro insumo sustentável e barato recomendado é a cama de frangos [esterco de galinhas]. “Aqui temos a granja Carijó, do nosso estado, então conseguimos adquirir essa cama para aplicar no solo”, explicou Aliny.

Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) também estão em crescimento: eles combinam árvores frutíferas, culturas agrícolas e espécies nativas. Onde o ideal é ter uma espécie frutífera, uma cultura para produção como o café e também espécies nativas dentro do plantio.

Crédito de Carbono e Produção Sustentável

O crédito de carbono cresce no país, impulsionado pela vasta área florestal. A Agro Com Elas atua intermediando e acompanhando o cliente junto à empresa certificadora. “Nós repassamos toda a documentação necessária. Além disso, oferecemos ao produtor a possibilidade de comercializar produtos da floresta, como castanha e açaí”, salientou Aliny.

Aliny destaca que empresa já está com quase 5 anos no mercado: Foto Carolina Torres

A empresa acompanha propriedades com reserva legal, intermediando processos de documentação e orientação de que o produtor não pode desmatar, mas pode extrair produtos de forma sustentável. Assim, além de ganhar com a venda dos créditos de carbono, ele ainda tira renda da floresta em pé.

Além da parte documental, também são realizados treinamentos de combate a queimadas, em parceria com o Corpo de Bombeiros. “Recentemente tivemos um treinamento numa fazenda, ensinando funcionários a combater incêndios, porque a temporada de queimadas já está começando”, complementou Alencar.

Para finalizar, Aliny enfatizou a importância da COP 30 para o Brasil: “A COP é um evento muito importante, que funciona como alerta e espaço de decisão e construção de caminhos para o desenvolvimento sustentável, principalmente aqui no Brasil, que é um país-chave nesse debate”.

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