Rio Branco, 17 de junho de 2025.

Energisa

Hansenianos falam sobre dor do preconceito e estigmas que sofrem na sociedade: “As pessoas não têm medo da doença, têm medo da deficiência”

Conhecidas como hansenianos, as pessoas com diagnóstico de hanseníase, doença crônica infecciosa que causa lesões na pele e damos aos nervos, sofreram, e ainda sofrem, com o preconceito da sociedade.

A doença, conhecida antigamente, e de forma preconceituosa, como lepra, carrega muitos estigmas devido a desinformação. Durante muitos anos, diversas famílias foram separadas e muitos hansenianos, desde crianças até adultos, foram isolados nos conhecidos hospitais-colônias. Apesar do acesso fácil e rápido a informação, que convive com a doença, seja direta ou indiretamente sabe a força que tem desinformação.

“Falar sobre preconceito é uma história que parece que não tem fim”, diz Marilza: Foto Pâmela Celina

Marilza Macedo de Assis, integrante do Morhan há mais de 20 anos, o preconceito sobre a hanseníase ainda é muito grande.

“Falar sobre o preconceito é uma história que parece que não tem fim. Porque, por mais que a pessoa fale que a hanseníase tem cura, que ela não é como antigamente, que as pessoas eram tiradas do meio da sociedade levadas para um lugar sobre o medo de ser contaminado, hoje em dia eu acho que continua quase a mesma história. Porque por mais que a gente fale, por mais que as pessoas lutem para acabar com esse preconceito, ele está dentro da pessoa, da mentalidade do ser humano sobre o problema da hanseníase”, comentou.

Segundo Marilza, seu pai foi diagnosticado com a doença e afastado da família, mas hoje ela se sente acolhida pelo movimento. “Meu pai teve com 19 anos e foi tirado da família. Fiz exames e nunca deu, nunca tive hanseníase, mas eu vivo a vida inteira, desde o tempo que o meu pai foi morar comigo, eu vivo no meio assim, todo o tempo participando de algo, quando acontece eu estou ali e nunca tive esse preconceito com a família Morhan, mas com outras pessoas que sabem que a gente convive com pessoas que tem hanseníase”.

Seu João Pereira do Nascimento tem 67 anos e também faz parte do Morhan há cerca de 20 anos. Ele conta que passou dos 9 aos 18 anos dentro da mata, sozinho e longe da família, após ser diagnosticado com a doença. Segundo seu João, o preconceito não tem cura, ele somente amenizou.

“O preconceito é a sequela. Porque eu tenho minhas mãos desse jeito, sou deficiente, por causa da hanseníase, mas eu não tenho mais doença. Mas para quem não entende, pensa que eu estou com a doença. E olha para mim, vê minhas deficiências e dizem: esse homem está com a doença. Aí é onde a pessoa se confunde, às vezes tem uma pessoa que não tem nenhum defeito e está com a doença e a pessoa não está nem aí. As pessoas têm medo não é da doença, é da deficiência”, afirmou.

A luta contra o preconceito é diária, afirma João: Foto Pâmela Celina

De acordo com o seu João, hoje ele anda de cabeça erguida. “Hoje eu vou para uma reunião dessas, as pessoas me abraçam, eu sou bem recebido e me sinto acolhido pelas pessoas. Mas tem que lutar muito ainda contra o preconceito, porque cada cabeça é uma sentença. Nunca ninguém é igual”, finalizou.

Neste mês, o Morhan completa 44 anos de fundação no Acre. Além disso, é importante reforçar que o tratamento para a hanseníase está disponível, de forma gratuita, no Sistema Único de Saúde (SUS).

Compartilhe em suas redes

Sem Fronteira