Um dos empreendimentos que chamam atenção no Seminário Internacional Txai Amazônia, realizado em Rio Branco, é o Yuorumavera, da empreendedora indígena Vera Brandão, representante da comunidade Kawê, de Roraima.

Com criatividade, saber tradicional e uma pitada de coragem, ela encontrou uma forma inusitada e saborosa de valorizar um dos frutos mais simbólicos da Amazônia: o cupuaçu.
Vera trabalha com sistema agroflorestal e, em menos de um hectare de terra, cultiva diversos alimentos que sustentam a família. Por algum tempo, Vera comercializou apenas a polpa do cupuaçu, mas percebeu que o retorno financeiro era muito baixo diante do trabalho manual necessário. O cenário começou a mudar quando turistas que visitavam a comunidade manifestaram o desejo de levar lembranças com identidade regional.
“A gente perdia muito cupuaçu, o trabalho de despolpar era árduo e a comunidade se desmotivava. Vi que era preciso agregar valor.”, conta.
Foi então que Vera buscou conhecimento. Lembrou de uma experiência antiga da Embrapa com a comunidade e decidiu acessar o site da instituição. Lá encontrou uma receita de jujuba de cupuaçu e resolveu testá-la. O desafio, porém, era adaptar a receita para uma realidade sem refrigeração, em pleno meio da floresta.
“Graças à minha primeira profissão, dona de casa, eu tinha bastante intimidade com a panela. Fui mexendo aqui e ali, até chegar a um ponto em que a jujuba ficou sequinha e não precisava de geladeira.”, relata, com orgulho.
Hoje, as jujubas de cupuaçu produzidas por Vera e outras mulheres indígenas da comunidade são 100% artesanais, embaladas em materiais biodegradáveis e reconhecidas oficialmente com um selo da Embrapa como produto de origem indígena, feito por mulheres.
Café artesanal e saber ancestral
Além das jujubas, Vera trouxe para o Txai outro produto que tem encantado os visitantes: o café Uyonpa, feito a partir de uma pequena plantação cuidada pela comunidade. A produção é restrita a micro lotes, o que torna o café ainda mais especial e disputado.
“Fazemos tudo de forma artesanal. A produção é pequena e acaba rápido. Só teremos um novo lote na próxima colheita.”, explica.
Colorau, urucum e outros temperos amazônicos também compõem o portfólio da comunidade, que une técnica tradicional e consciência ambiental em todos os seus processos.
Empreender é resistir e transformar

Participar do Txai Amazônia tem sido, segundo Vera, uma experiência transformadora. Além da visibilidade para os produtos, o evento proporciona acesso a discussões sobre bioeconomia e políticas públicas que impactam diretamente as comunidades tradicionais.
“Esse espaço nos abre portas, nos insere no mercado e mostra que o indígena é capaz de produzir com excelência e qualidade. Só precisamos de oportunidade e conhecimento.”, afirma.
Com iniciativas como a de Vera Brandão, o Txai Amazônia comprova que a verdadeira inovação amazônica nasce da floresta, da escuta e da valorização dos povos que a habitam.