O clima de tensão na Região da Maloca, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, ganhou novos contornos neste domingo (8), com a ameaça de bloqueio da BR-317 por parte de produtores rurais contrários à Operação Suçuarana, deflagrada pelo ICMBio. A mobilização ocorre no Entroncamento da rodovia federal com a AC-485 (Estrada da Borracha), ponto estratégico a poucos metros do posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e visa pressionar o órgão ambiental a rever medidas como expulsões de moradores e apreensão de gado.

Por volta das 9h da manhã, cerca de 30 pessoas já estavam concentradas no local. Apesar do número modesto e do ambiente ainda pacífico, o movimento carrega potencial de paralisação da rodovia, uma das principais vias de acesso ao interior do Acre. A Polícia Militar, por meio da 2ª Companhia de Xapuri, e viaturas da Força Nacional acompanham a movimentação.
Reação à Operação Suçuarana
A manifestação surge como resposta direta à ofensiva do ICMBio na Região da Maloca, área embargada da reserva, onde o órgão ambiental tem realizado ações para coibir pecuária considerada ilegal. A operação envolve apreensão de rebanhos e notificações de desocupação de propriedades, algumas das quais são ocupadas há décadas por famílias que alegam direitos históricos.
Nas redes sociais, vídeos e áudios convocando a população local para o ato começaram a circular ainda na noite deste sábado, 7. O grupo afirma que, além da BR-317, também pretende interromper o tráfego na Estrada da Borracha, numa tentativa de abrir um canal direto de negociação com o ICMBio e outras autoridades públicas.
“Estamos aqui para defender nossa dignidade. Queremos ser ouvidos antes de sermos expulsos das nossas terras”, declarou um dos líderes do protesto, que preferiu não se identificar. A principal demanda do grupo é a liberação do gado apreendido na Maloca, bem como a suspensão imediata das ordens de retirada.
Impasse antigo, tensão renovada
A Região da Maloca, localizada entre Xapuri e Epitaciolândia, é considerada uma das zonas mais conflituosas da Resex Chico Mendes. Com cerca de 2.800 hectares, abriga famílias que afirmam viver ali há mais de 20 anos. Embora o ICMBio aponte essas ocupações como irregulares, os moradores alegam que muitas delas ocorreram antes da criação da reserva, em 1990, e que parte dos ocupantes já obteve anuências formais e financiamentos com base na regularidade da posse.
A Operação Suçuarana, iniciada no último dia 5 de junho, intensificou esse embate. O ICMBio afirma que age com base na legislação ambiental e no plano de manejo da unidade de conservação, que limita o uso da terra e veda a pecuária extensiva. O órgão também nega truculência e afirma que suas ações seguem os princípios da legalidade e do respeito à população local.
Apesar disso, os produtores que se mobilizam nesta nova frente de protesto relatam que as medidas afetam diretamente sua subsistência econômica e consideram as ações desproporcionais. “Não queremos confronto. Queremos diálogo. Ninguém é contra a preservação, mas a nossa realidade precisa ser considerada”, afirmou outro manifestante.
Rodovia segue liberada, mas tensão cresce
Até o momento, não há registro de interdições ou confrontos. O trânsito na BR-317 flui normalmente, sob vigilância das forças de segurança, mas a expectativa é de que a adesão ao movimento aumente nas próximas horas.
As lideranças afirmam que a decisão de bloquear ou não a rodovia dependerá da resposta das autoridades ambientais e do encaminhamento de algum canal formal de escuta por parte do ICMBio. A presença ostensiva da Força Nacional e da Polícia Militar indica que o governo monitora de perto a possibilidade de escalada da manifestação.