Rio Branco, 4 de julho de 2025.

Sem Fronteira

Meu filho está na Fono, mas não vejo resultados. E agora?

Mamães de Autistas, com TDAH, atrasos na fala, déficits de aprendizado que não veem progresso na terapia fonoaudiológica. Quem nunca teve dúvidas do que é trabalhado na sala de terapia ou o porquê dessas intervenções, em muitos casos, não surtirem efeito?

Meu filho está na Fono, mas não vejo resultados. E agora?
Como saber se o momento requer a troca de um profissional: Foto reprodução

“A fono só brinca com meu filho”. Como fonoaudióloga já ouvi muito isso de mães e pais que buscaram uma segunda opinião fonoaudiológica. Realmente, atendimento infantil tem que ter uso de atividades lúdicas, uma vez que a criança aprende brincando e retém mais informações quando estas são apresentadas de forma que elas possam experimentá-las, descobri-las e não apenas conhecê-las e aceitá-las.

Se você já fez ou faz essa pergunta, calma! Você não está só. É normal, quando não há troca de informações ou retorno de profissionais com os pais, que dúvidas e medos como esses surjam ao longo da jornada terapêutica. De igual maneira, nem sempre é apenas essa falta de feedback o motivo da terapia fonoaudiológica não fluir.

Vamos combinar que em toda profissão existem profissionais e profissionais. Isso é fato!

Em todas as áreas, não desmerecendo aqui nenhum colega, calma amigos fonos, até porque conheço fonoaudiólogas maravilhosas, até muito melhores do que eu quando o assunto é linguagem infantil, mas sabemos que muitas crianças ficam anos na terapia e pouco evoluem.

Trabalhar atraso de fala, por exemplo, não é uma tarefa simples ou fácil. É necessário muito conhecimento e experiência do fonoaudiólogo que atua nesta área, pois não basta ensinar apenas o “bê-á-bá”, tem que entender como o bê-á-bá funciona e os motivos pelos quais a criança não consegue aprender.

Não existe uma receita pronta quando o assunto é terapia de fala. Bom lembra que nem todas as crianças têm o mesmo ritmo de desenvolvimento, mas, se houver qualquer desconfiança de dificuldade na aquisição de linguagem, é recomendável buscar ajuda de um fonoaudiólogo, mas do que isso, um fonoaudiólogo ou fonoaudióloga especialista no assunto.

Ah, fono, mas meu filho já está na terapia e não vejo resultados!

Antes de iniciar uma intervenção, é preciso descartar problemas genéticos, psiquiátricos e auditivos por meio de exames clínicos. Já descartou e a terapia não está fluindo? Vamos chamar o fonoaudiólogo para conversar então. Pais e mães não são obrigados a saber sobre protocolos e intervenções que cada caso exige, isso é papel do fono que está desenvolvendo a terapia com seu filho, inclusive, cabe a ele orientar a família a como melhor estimular a linguagem do infante.

Mas, afinal, como saber se é hora de trocar de terapeuta?

Bem, antes de tudo, vale destacar que tem fonoaudiólogos muito bom fazendo um excelente trabalho por aí, inclusive, queria eu uma vaga em suas agendas para levar meu filhote com eles também. Essa é uma história que ainda vou contar por aqui, qualquer hora dessas “Quando o filho da fono precisa fazer fonoterapia”, aguardem! Rs.

Voltando ao contexto deste artigo, e deixando registrado que não estou aqui para desqualificar o trabalho de ninguém, muito pelo contrário, mas indicar aos pais o que é preciso observar para o progresso na terapia. Afinal, seja qual for o caso, não há nada de errado, caso seja necessário, em trocar de terapeuta para encontrar alguém que melhor atenda às necessidades do seu filho.

Quando você está procurando tratamento para um problema mais especializado, como um distúrbio alimentar, por exemplo, é importante encontrar um profissional que seja bem versado nesse tipo de trabalho – caso contrário, a terapia simplesmente não funcionará.

Antes de tudo, é preciso saber se o olhar do fonoaudiólogo está tendo clareza em relação a dificuldade da criança. Falta de treinamento na área em que seu filho precisa de ajuda ou o estilo terapêutico ineficaz são alguns dos obstáculos que impedem o total aproveitamento de uma criança na terapia.

Sendo eu fonoaudióloga, saberia aqui elencar todas as dificuldades do meu filho que me fizeram levá-lo a fonoterapia. Mas esse não é o seu papel, mãe e pai. Vocês não têm obrigação de saber se seu filho tem desvio fonético ou fonológico, por exemplo, mas a fono que atende ele tem.

Conforme já escrevi em outros artigos publicados religiosamente toda semana neste site, atraso na fala pode ocorrer por vários motivos, e o diagnóstico correto é fundamental. Verdade também que nem sempre a criança chega para a terapia fonoaudiológica com diagnóstico fechado, mas diante das dificuldades apresentadas é possível ter uma direção que apontem para o problema, o que já vai fazer com que o tratamento e as intervenções sejam melhor direcionadas.

Se o profissional não tem noção do que está fazendo, ou segue sempre as mesmas abordagens terapêuticas, essas estimulações genéricas até podem, em algum momento, surtir efeito, mas será algo tão superficial que pouco trará resultados.

Se o fonoaudiólogo não sabe o que a criança tem, se não consegue identificar a raiz do problema, como vai conseguir realizar uma terapêutica especifica para ela? Simplesmente não vai. Um bom terapeuta deve saber que tipo de tratamento é melhor para o seu filho. Além disso, a conduta deve ser baseada em pesquisas cientificamente comprovadas, e os pais devem participar ativamente do processo terapêutico. 

Portanto, é preciso entender que só frequentar a terapia não resolve o problema de ninguém. São os bons profissionais que fazem a diferença no setting terapêutico. E diante da sensação de falta de progresso, um bom conselho, pais, é discutir a questão com o próprio profissional. Às vezes, esse diálogo pode ajudar a terapia deslanchar, ou pode evidenciar que a relação terapeuta/paciente não está funcionando.

E não tenha medo de começar do zero. Por mais dolorido e demorado que possa parecer, seja qual for o motivo que tenha levado seu filho à terapia, o intuito nunca será a troca do profissional, mas promover a garantir do melhor suporte dos quais os pequenos necessitam.

Lane Valle é fonoaudióloga, jornalista e colaboradora do Portal Acre.

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