Participar da caravana “BR-364 Pede Socorro” não foi apenas acompanhar autoridades, escrever matérias ou produzir vídeos para as redes sociais.

Foi viver, na pele, o drama de milhares de acreanos que enfrentam, dia após dia, a precariedade da BR‑364.
Não bastava observar. Era preciso sentir. E sentir é diferente de ver.
Uma estrada que chacoalha corpos e consciências
Foram horas de viagem por um caminho destruído, com o carro sacudindo o tempo inteiro. Dor nas costas, corpo moído, a oração silenciosa para que o veículo não quebrasse no meio do nada.
Uma experiência física e emocional que transformou uma cobertura jornalística em vivência pessoal.
Se para nós, que passamos por ali um dia, já foi exaustivo… imagine para quem depende da estrada diariamente?
As crianças que se deslocam para a escola, os pacientes transportados com urgência para a capital, os empresários que veem seus produtos atrasarem e danificarem no trajeto.
O impacto da BR-364 ruim vai além do asfalto: atinge a educação, a saúde e a economia.
Vozes que ecoam da estrada
Daniel Costa, um dos caminhoneiros com quem conversei na estrada relatou a dificuldade de quem vive “pra lá e pra cá”, pela BR-364.
“Antigamente uma viagem dessas a gente gastava cerca de oito horas, hoje estamos gastando 12 ou 14 horas por dia. Para quem trabalha com transporte de alimentos frios essa demora baixa a qualidade do alimento. Às vezes acontece de quebrar as molas do caminhão e ficamos sem assistência na estrada”.
Edvaldo do Nascimento, empresário do setor de motocicletas, também sente no bolso os efeitos do descaso:
“Eu comercializo motocicleta. Ela vem dentro de um caminhão, fixada, e mesmo assim chega com muita avaria, assim como os demais produtos de outros empresários. Isso representa um prejuízo considerável para a sociedade, não só pelo tempo e custo, mas também pelo seguro.”
E no meio da estrada, vi pessoas a cavalo, debaixo de um sol escaldante, vi crianças que corriam e vi uma senhora que vendia bananas. Seu olhar me chamou atenção e seu rosto dizia tudo: rugas de uma vida inteira de luta, mãos marcadas pelo trabalho e um brilho nos olhos que demonstrava que, apesar de tudo, ainda carregava esperança.

Entre discursos, promessas e conteúdo para as redes
Durante a caravana, políticos estavam lado a lado. Discursos afinados, promessas renovadas, sinalizações de unidade. Assessores, jornalistas, influenciadores e equipes de mídia trabalhando sem parar, produzindo vídeos, fotos e textos.
O assunto ganhou forças na imprensa local e nas redes sociais.
Mas, entre um post e outro, a realidade pulsava: a BR-364 segue em estado crítico. E isso não é novidade.
Os números que escancaram o problema
Em 2022, as rodovias federais do Acre registraram 224 acidentes, 291 feridos e 18 mortos, com um custo total de R$ 44,5 milhões.
A Confederação Nacional do Transporte (CNT) aponta que 99,3% da malha federal no estado está em condição regular, ruim ou péssima.
O DNIT anunciou um investimento de R$ 800 milhões até 2025 para recuperar cerca de 70% da BR-364, com cerca de R$ 1 bilhão já previstos em obras em toda a malha federal do estado.
O tempo da estrada não é o tempo da promessa
Enquanto os dados são discutidos em Brasília e as licitações seguem seus trâmites burocráticos, a estrada continua lá: com buracos, veículos quebrados, vidas em risco.
O tempo de quem vive ali não é o tempo da gestão pública. E quem enfrenta esse trajeto todos os dias sabe que o socorro não pode mais demorar.
O que eu vivi ali não foi apenas uma pauta jornalística. Foi uma lembrança dolorosa, e necessária, de que há uma parte do Acre sendo esquecida pelo poder público.
Mas também é a lembrança de que o povo do Acre é feito de força, fé e esperança.
Acre não pode mais esperar!