O barulho do motor, as luzes LED piscando e a pintura rosa, com certeza, chamam a atenção em qualquer esquina da capital acreana. Porém, por trás da motocicleta estilizada que já ganhou o carinhoso apelido de “Rosinha” pela população riobranquense, está a história de Francisco Sales da Silva, de 38 anos. Conhecido como Sales, ele é motorista de aplicativo e, com a transformação na sua rotina de trabalho, se tornou um personagem conhecido na cidade.
Sales começou a trabalhar com transporte de passageiros há pouco mais de dois anos. A ideia de personalizar sua moto surgiu, inclusive, das suas próprias experiências. Antes disso, ele já havia trabalhado como motoboy, fazendo entregas de pizza e marmita, principalmente, no Segundo Distrito de Rio Branco.
Com a chegada da opção de “moto-passageiro” nos aplicativos de transporte, Sales decidiu migrar a área de trabalho, mas logo percebeu que a noite possuía mais riscos para dirigir do que durante o dia.

“É diferente andar como motoboy e como moto Uber. O aplicativo te leva para lugares que você nunca foi, e isso se torna mais perigoso. Eu queria uma forma de me destacar, ser identificado como trabalhador e não passar medo para ninguém. Ela (a moto cor-de-rosa) é como um personagem único”, compartilha.
A partir disso, nasceu a “Rosinha”. Com mais ou menos dois meses, ele conseguiu deixar sua moto personalizada na cor rosa e iluminada por muitos LEDs, ficou bem próximo do que ele estava almejando. De acordo com Sales, a escolha da cor também foi um ato de ousadia.
“O homem é muito machista, não gosta de usar rosa porque acha que é coisa de gay. Eu coloquei justamente por ser diferente dos iguais. No começo, até me paravam muito, a polícia, principalmente. Mas depois que estilizei, isso acabou. Hoje sou reconhecido e respeitado, nunca sofri assalto e já não passo desconfiança”, relata.
Mesmo com a aceitação popular, Sales admite que a moto cor-de-rosa também gera reações diversas nas pessoas. Para ele, a questão do preconceito é muito relativa.

“Já aconteceu de uma passageira olhar e dizer: ‘na sua moto, eu não vou não’. Outros cancelam a corrida assim que percebem que sou eu. Mas são poucas pessoas, isso é raro. Mas não levo como preconceito. Eu procuro entender as pessoas. Eu não fiz a moto para agradar passageiros, fiz para minha segurança e para ser identificado como trabalhador. A maioria entende, acha curioso, pergunta o motivo, e quando eu explico, me parabeniza”, comenta.
Para Sales, a personalização é, antes de tudo, uma importante estratégia de proteção. Ele reafirma nunca ter sido assaltado, mesmo rodando madrugada adentro, enquanto muitos colegas sofrem com a violência.
“Eu costumo dizer que é isso, que deu certo por conta disso (da personalização da moto), nunca passei por apuro nenhum. Eu costumo dizer que quando alguém pede um moto Uber para assaltar, ao me ver, pensa: ‘não, é o Rosinha, esse daí não dá, bora chamar outro’. Eu entro em qualquer bairro de Rio Branco sem medo”, diz.
Situações inusitadas não faltam
Se para muitos motoristas, as corridas de aplicativo se resumem a pegar e deixar passageiros, para Sales, cada viagem pode virar uma história interessante e marcante. As reações ao ver a “Rosinha” variam. Há quem admire e há quem se recuse a subir na moto. E as histórias engraçadas são as que não faltam.
Em uma delas, Sales conta que uma passageira, contagiada pela originalidade do transporte, teve um ataque de riso do início ao fim da corrida. “Ela ria, ria sem parar. Eu perguntava o que era, e ela só dizia que achava a moto engraçada, diferente. Aí fiquei rindo junto”, lembra do momento inusitado.
Já em outra situação, soldados pediram corrida para se dirigir ao quartel, mas desistiram ao ver quem chegava, por receio de virar motivo de piada entre os colegas. “Um pediu para descer antes, dizendo que ia tomar café, mas na verdade era só vergonha de aparecer na portaria como garupa na moto rosa”, descreve.
Outro ponto positivo que Sales destaca, são as pessoas que torcem para conseguir uma corrida com ele e a “Rosinha”.
“Já ouvi muito de colegas que tiveram passageiros que disseram assim: ‘rapaz, sempre quis andar com ele, mas nunca consigo pegar’. Outros ficam curiosos, perguntam se é por causa do Natal, Carnaval ou até se sou gay. Quando eu explico que a personalização é para minha segurança, todos entendem e parabenizam”, ressalta sobre a aceitação da moto rosa.
Com a repercussão da “Rosinha” nas ruas e mesmo sem ter muito tempo para se dedicar às redes sociais, Sales criou um perfil no Facebook e Instagram para postar fotos e vídeos da moto. Segundo ele, foi por pedidos de pessoas que queriam acompanhar a “Rosinha”.

“Nunca fui de mexer muito com redes sociais, mas as pessoas pediram. Aos poucos estou aprendendo. Agora todo dia tem gente nova seguindo. Mais para frente quero abrir um TikTok e mostrar minha rotina, as corridas e as histórias em vídeos, porque o pessoal acha muito curioso”, finaliza.
A “Rosinha” não é apenas um veículo estilizado, ela é uma marca de resistência, criatividade e segurança em meio ao trânsito noturno da capital acreana. Entre recusas, elogios e curiosidades, ela é mais do que um meio de transporte, é também um ponto de encontro de histórias inusitadas e de trajetos comuns com lembranças marcantes.
Para quem tiver interesse em acompanhar melhor essa moto cor-de-rosa, o Instagram da “Rosinha” é @moto99rosa.