Rio Branco, 27 de setembro de 2025.

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Acre perde Monteirinho, artista xapuriense que eternizou em canções o seringal e o amor pela sua terra

O Acre “chora” a morte do sanfoneiro Monteirinho: Foto acervo pessoal

Raimari Cardoso

O Acre amanheceu entristecido neste sábado (26) com a notícia da morte de Francisco Monteiro de Carvalho, o querido Monteirinho, músico que se tornou símbolo cultural do estado e orgulho de sua terra natal, Xapuri. Ele morreu na noite desta sexta-feira, aos 76 anos, vítima de uma pneumonia.

Filho de seringueiros e nascido no seringal Cachoeira, ele transformou em poesia e ritmo a vida simples da floresta, sem jamais esquecer de onde veio. Conhecido como o “forrozeiro da floresta”, Monteirinho construiu uma trajetória de mais de cinco décadas dedicadas à música popular. Sua arte dialogava com as raízes nordestinas, mas carregava marcas inconfundíveis do Acre: o canto dos rios, as histórias do seringal e as lutas do povo.

Em 2011, com mais de 50 anos de carreira, lançou o álbum “Acre em Música”, financiado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura. O disco reúne 14 composições próprias. Canções como A luta não foi em vão, em homenagem a Chico Mendes, Rio Acre e Bicharada revelam tanto sua sensibilidade quanto o compromisso com a preservação ambiental e a valorização da cultura amazônica.

Inspirado por mestres como Dominguinhos, Sivuca, Trio Nordestino e Elba Ramalho, Monteirinho criou um repertório diverso, costurado entre forró, marcha e bossa nova. “Boa parte das minhas letras vem por inspiração; em outras, as pessoas me contam um ‘causo’ e eu invento a letra”, costumava dizer, sempre ressaltando que sua música precisava levar alegria e reflexão ao público.

Figura presente em festas e celebrações populares, fosse em Rio Branco ou nos bairros de sua cidade natal, como em uma grande apresentação em uma festa de aniversário do bairro Sibéria, no ano de 2007, quando ele se emocionou ao cantar ao lado do também xapuriense Geraldo Leite.  

Monteirinho tinha como lema não deixar ninguém parado. À frente da banda Os Bagunceiros do Forró, animava os salões com seu inseparável acordeon, instrumento que o acompanhou em incontáveis noites de dança e convivência.

Mais que um artista, Monteirinho foi um guardião da identidade acreana que levava consigo a memória de um povo que resiste na floresta e, por meio da música, deu voz ao seringal, aos rios e à luta de seus conterrâneos.

Além da música, Monteirinho também teve papel ativo na política acreana. Foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado, sempre alinhado às causas dos trabalhadores da floresta. Sua ligação com as lutas sociais o aproximou ainda mais da história de Chico Mendes e dos ideais de justiça defendidos por tantos acreanos.

Em Xapuri, sua ausência é muito sentida, mas conforta saber que sua obra permanece viva, ecoando como testemunho de um tempo e de uma cultura que ele ajudou a preservar com talento, simplicidade e amor pela terra.

A direção estadual do PT divulgou nota de pesar, destacando que Monteirinho “foi um militante da cultura popular e da política, cuja vida se confunde com a luta do povo acreano”. O partido também reforçou que seu legado “não cabe apenas nos palcos, mas na história de resistência do Acre”.

O corpo de Monteirinho está sendo velado desde as 2h deste sábado (27), na capela 2 da Funerária São Francisco, na Rua Isaura Parente, bairro Bosque, em Rio Branco. O espaço recebe familiares, amigos, admiradores e autoridades que se unem para prestar a última homenagem ao músico que transformou sua origem em arte e sua arte em patrimônio coletivo.

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