
Moradores do Jordão denunciaram ao Portal Acre, nesta segunda-feira, 8, um possível caso de fraude em um processo seletivo organizado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), para o cargo de Auxiliar de Proteção Etnoambiental. De acordo com primeiro relato, anônimo, a comissão responsável teria, deliberadamente, prejudicado outros concorrentes e beneficiado outros, por questões de vínculo familiar, e alegou, falsamente, falta de documentos ou currículo para justificar a classificação.
“Esse seletivo foi uma vergonha, principalmente porque um senhor chamado Raione, que é servidor da Funai, estava aqui no município há dois meses e aconteceu que ele estava favorecendo as pessoas que trabalharam com ele nesses 60 dias. E quem teve contato com ele, todos passaram. No meu comprovante de inscrição, a mulher que me atendeu não marcou que eu entreguei a minha certidão de nascimento. Por que ela me deixou irregular? Por que só quem trabalhou com ele conseguiu? É isso que queremos saber”, questionou.
Ainda segundo o relato, pessoas que trabalhavam na Funai alertavam que as vagas já estavam fechadas antes mesmo do processo realmente acontecer. “Essa pessoa nos disse que o Raione falou para essas pessoas que só eles iriam passar, que nem adiantava outros fazerem o processo seletivo, porque já tinha as vagas”, completou.
A fonte também pontuou que algumas documentações, como certificados e outros itens de comprovação de experiência e aptidão, foram recusados no ato da inscrição com a justificativa de que não eram necessários, mas que, posteriormente, a ausência de informações foi usada para argumentar o resultado negativo.
“Fico pensando que se passam anos e anos, nossos familiares já morreram, a gente já tem uma certa idade, e nada muda, esse país e esse órgão não tem nenhuma credibilidade. Esse processo deveria ter transparência, mas não tem, somos tratados como lixo, eles tentam nos atrapalhar, nos maltratam. Se você tem capacidade, é apto, deveria poder concorrer, e não perder para alguém só porque é família ou amigo”, completou.
O denunciante afirma que o isolamento e a falta de contato com autoridades, como delegados e servidores do Ministério Público do Acre, impedem a formalização de denúncias.
Uma segunda fonte, que não quis se identificar, também é uma das participantes do processo seletivo, e relata que atuou por mais de 20 anos em uma base da Funai e, mesmo assim, teve sua experiência contestada. “Aquela base ficou abandonada por quase quatro anos, ficamos lá completamente jogados como um cachorro, sem barco, sem motor. E quando eu vi que tinha um processo seletivo para a parte da cidade, fui me inscrever, quem sabia do meu trabalho me disseram que tinham certeza que eu iria passar, mas não foi assim”.
A denúncia ainda cita que servidores da Funai caçavam e matavam animais dentro da fazenda e vendiam na cidade. “A gente via várias vezes essas pessoas matando mais de duas antas e outros animais de caça, sendo que eles sabem que isso é proibido. Então são muitas as irregularidades da Funai, isso precisa de atenção, e nós queremos os nossos direitos”, afirma.
O terceiro relato apresenta novos detalhes ao possível caso de irregularidades no edital. Ao Portal Acre, a fonte relatou que sua pontuação foi zerada, mesmo após apresentar seus documentos e recomendações do polo onde trabalhou.
“Eu trabalhei por 1 ano no Distrito Sanitário de Saúde Indígena, onde eu era barqueiro e trabalhava junto à equipe médica. Como que eu zerei se lá mesmo, no edital, eles citam que o documento iria valer até 30 pontos? Nem meu currículo eles aceitaram”.
A equipe de reportagem do Portal Acre procurou o polo do Jordão da Funai, mas não teve respostas. O espaço segue aberto.