Rio Branco, 26 de setembro de 2025.

Computação Quântica no Brasil: Do Laboratório ao Mercado

Olá, apaixonados por tecnologia! O Radar Tech está sempre antenado nas inovações que transformam o nosso mundo. Hoje, vamos mergulhar em um tema que promete redefinir setores inteiros — de finanças e logística à saúde, energia e meio ambiente: a computação quântica. Da bancada de pesquisa às primeiras aplicações de mercado, o Brasil começa a trilhar um caminho estratégico para transformar ciência em valor, competitividade e impacto social — inclusive na Amazônia e em regiões remotas que mais precisam de soluções tecnológicas eficientes.

O que é, afinal, computação quântica (sem complicar)

Computação quântica é um jeito novo de processar informação usando as leis da física quântica: em vez de bits que são 0 ou 1, ela usa qubits, que podem ser 0 e 1 ao mesmo tempo (superposição) e se “ligam” de forma especial (emaranhamento). Isso permite explorar muitas possibilidades simultaneamente, acelerando problemas muito difíceis para computadores tradicionais, como simulação de moléculas, otimização complexa e certos tipos de criptografia. Não é um “computador mais rápido para tudo”, e sim uma ferramenta poderosa para classes específicas de problemas, ainda em fase de desenvolvimento, com desafios de estabilidade e correção de erros. Em termos simples, é como testar várias rotas de um labirinto de uma vez, em vez de seguir uma por tentativa e erro, abrindo caminhos para avanços na ciência e na indústria.

  • Em vez de bits 0/1, usamos qubits, que podem estar em superposição (0 e 1 ao mesmo tempo).
  • Qubits podem se emaranhar (entanglement), criando correlações que permitem acelerar certos cálculos.
  • Isso não substitui o computador clássico em tudo — mas pode revolucionar problemas específicos, como:
    • Otimização complexa (logística, alocação de recursos, portfólios);
    • Simulação de materiais e moléculas (fármacos, fertilizantes, catalisadores);
    • Aprendizado de máquina híbrido (quântico-clássico), ainda em estágio experimental;
    • Criptografia e segurança (quebra de chaves no longo prazo e novas formas de proteger dados).

Estamos na era NISQ (Noisy Intermediate-Scale Quantum): máquinas quânticas com dezenas a poucos milhares de qubits ruidosos. Traduzindo: ainda não é “mágica”, mas já dá para fazer P&D sério, pilotos e se preparar para a virada.

Por que importa para o Brasil agora

  • Competitividade: quem começar cedo desenvolve know-how, parcerias e talentos — e sai na frente quando a tecnologia maturar.
  • Soberania tecnológica: entender a base quântica (computação, comunicações e sensores) é estratégico para segurança, indústria e academia.
  • Impacto regional: aplicações em logística, agro, energia e meio ambiente têm efeito direto na Amazônia, no Centro-Oeste e no interior do país.
  • Segurança da informação: a transição para criptografia pós-quântica já começou no mundo e vai afetar bancos, governo e o setor jurídico.

Do laboratório: a ciência que estamos construindo

No Brasil, grupos de pesquisa em universidades e centros de excelência desenvolvem teoria e experimentos em informação quântica, ótica quântica, materiais e algoritmos. Sem citar exaustivamente, há trabalhos relevantes em instituições públicas e federais, além de laboratórios estaduais e parcerias com redes acadêmicas nacionais. Essa base científica é o alicerce do que chega ao mercado:

  • Formação de talentos (física, computação, engenharia, matemática);
  • Publicações e patentes;
  • Projetos de P&D com empresas;
  • Pilotos em áreas de alto impacto (energia, saúde, finanças, agro).

Ao mercado: o que já dá para fazer hoje

Mesmo sem possuir um computador quântico no datacenter, empresas e órgãos públicos brasileiros já podem acessar a “nuvem quântica” e fazer P&D:

  • Plataformas em nuvem: acesso a hardware e simuladores por meio de provedores internacionais (ex.: serviços em nuvem que oferecem backends quânticos).
  • SDKs e frameworks abertos: Qiskit, Cirq, PennyLane e outros permitem prototipar algoritmos híbridos (clássico + quântico).
  • Casos de estudo inicial:
    1. Otimização logística e rotas: portos, hidrovias e transporte multimodal — especialmente útil para cadeias que atendem a Amazônia e regiões com grande distância geográfica.
    2. Planejamento energético: balanceamento de carga, manutenção preditiva, alocação de recursos em redes elétricas e microgrids.
    3. Finanças: avaliação de risco, detecção de anomalias e precificação — com pilotos de pesquisa; valor imediato vem do aprendizado e da preparação.
    4. Descoberta de materiais e fármacos: simulações de pequenas moléculas ou “subproblemas” que aceleram etapas de P&D químico.
    5. Segurança e criptografia: inventário de riscos, testes de algoritmos pós-quânticos e estudos de viabilidade de QKD (distribuição quântica de chaves) em redes acadêmicas/experimentais.

Setores com tração potencial no Brasil

  • Agro e bioeconomia: otimização de safras, logística do escoamento, novos fertilizantes e bioprodutos.
  • Energia e óleo & gás: simulação de materiais, rotas de inspeção, planejamento de redes e trading de energia.
  • Saúde e fármacos: triagem de compostos, desenho de moléculas e aceleração de ciclos de P&D.
  • Logística e varejo: last-mile em grandes cidades e long-mile em regiões remotas; portos, rios e corredores verdes na Amazônia.
  • Finanças e seguros: carteiras, risco, detecção de fraude, compliance.
  • Administração pública e justiça: alocação de recursos, priorização de filas e simulações de cenários complexos — sempre com responsabilidade e transparência algorítmica.

Criptografia pós‑quântica: agindo antes que doa

Mesmo que computadores quânticos capazes de quebrar padrões atuais de criptografia ainda não existam para uso prático, a orientação global é “prepare-se já”:

  • Inventarie seus ativos criptográficos (protocolos, certificados, chaves, ciclos de rotação).
  • Teste algoritmos pós-quânticos padronizados pelo NIST (famílias como Kyber e Dilithium estão em vias de padronização formal).
  • Adote uma estratégia “crypto‑agile” (capacidade de trocar algoritmos sem reescrever tudo).
  • Atenção ao risco “colher agora, decifrar depois”: dados sensíveis interceptados hoje podem ser decriptados no futuro quando máquinas mais potentes surgirem.

Para redes especiais e cenários de alta sensibilidade, projetos-piloto de QKD e de sensores quânticos começam a ganhar espaço no mundo acadêmico e em parcerias público-privadas. No Brasil, a tendência é crescer conforme a infraestrutura e a regulação avancem.

Hardware: a “batalha do qubit” e o que isso significa para você

  • Supercondutores: prós — integração e avanços rápidos; contras — exigem temperaturas criogênicas.
  • Íons aprisionados: prós — fidelidade alta; contras — complexidade de escala.
  • Fótons: prós — operação em temperatura ambiente e integração com comunicações; contras — desafios de detecção e escalabilidade universal.
  • Átomos neutros e spins em semicondutores: promissores, com rota de manufatura compatível com indústria.

Para usuários finais, o recado é: foque em casos de uso e camadas de software. O “back-end” de qubits pode mudar; o valor está em entender problemas, dados e métricas de sucesso.

Como as empresas brasileiras podem começar agora

  1. Descoberta de valor
  • Mapeie problemas de otimização, simulação e analytics que “doem” hoje.
  • Estime complexidade e impacto potencial (tempo, custo, qualidade, risco).
  1. Capacitação da equipe
  • Treinamentos curtos para gestores (estratégia e ROI) e profundos para técnicos (algoritmos, SDKs, modelagem).
  • Parcerias com universidades e centros de pesquisa.
  1. Pilotos de baixo risco
  • Use nuvem quântica e simuladores para provas de conceito.
  • Comece híbrido: heurísticas clássicas + variações quânticas (VQE, QAOA) onde fizer sentido.
  1. Métricas e governança
  • Defina KPIs de aprendizagem (velocidade de P&D, custo por experimento) e de negócio (redução de tempo, melhoria de rota, economia).
  • Documente hipóteses, resultados, limitações e próximos passos.
  1. Roadmap e crypto‑readiness
  • Plano de 12–24 meses com marcos trimestrais.
  • Inventário criptográfico e pilotos de pós‑quântico em paralelo.

Linha do tempo realista

  • 0–2 anos: pilotos, capacitação e ganhos “adjacentes” (melhor modelagem e otimização clássica inspirada pelo processo quântico).
  • 2–5 anos: vantagens quânticas específicas em nichos de otimização e simulação, dependendo da maturidade do hardware e do software.
  • 5–10 anos: impactos mais amplos, com surgimento de aplicações de produção em setores estratégicos.
Computador Quantico do Google

O futuro da computação quântica no Brasil desenha um cenário onde a distância entre a pesquisa e a aplicação se encurta, e onde empresas, universidades e governo colaboram para transformar conhecimento em competitividade, inclusão e sustentabilidade. A promessa é de um país mais preparado, seguro e inovador — do laboratório ao mercado, da metrópole ao interior e à Amazônia. Fiquem ligados no Portal Acre para mais novidades sobre essa transformação!

Robison Luiz Fernandes é Analista de Sistemas e colunista do Portal Acre.

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Robison Luiz Fernandes

Analista de Sistemas com DNA curitibano, coração cacoalense e alma rio-branquense, com mais de 18 anos como servidor e Analista de Sistemas no judiciário acreano. Apaixonado por tecnologia, compartilhando conhecimentos sobre inovações, tendências e novas tecnologias.

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