
O maquiador Jhonnathan Cláudio deninciou atrasos no pagamento do cachê do longa “Rio Torto” produzido e filmado em Rio Branco. Em conversa com a reportagem do Portal Acre neste sábado, 30, Jhonnathan explicou que o filme, dirigido por Ney Ricardo, foi viabilizado com recursos públicos advindos de edital estadual da Lei Paulo Gustavo, administrado pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM).
De acordo com Cláudio, as filmagens foram concluídas no dia 26 de julho. Contudo, parte significativa da equipe (incluindo técnicos, atores, figurantes e profissionais de diversos departamentos) afirmam não terem recebido os valores.
Conforme Jhonnathan, a maioria dos trabalhadores prejudicados é composta por profissionais acreanos, que residem em Rio Branco e em outras cidades do Acre.
Segundo Jhonnathan, na última quarta-feira, dia 27 de agosto, foi realizada uma reunião junto ao diretor do longa que informou que o orçamento não teria sido suficiente para quitar todas as obrigações financeiras.
“A questão é que, como é um recurso da Lei Paulo Gustavo, e a gente sabe que projetos têm, planilhas de orçamento, tudo bem direitinho, não teve o orçamento suficiente para pagar as pessoas, porque, segundo o diretor, nas palavras dele, alguns trabalhadores de fora foram mais caros. Porém, mesmo assim, não supria essa quantidade de dinheiro”, disse o maquiador.
Na ocasião, o diretor do filme, de acordo com Cláudio, disse estar buscando alternativas privadas, como empréstimo e a venda de um imóvel, para regularizar os débitos ao fazer os pagamentos. Contudo, na reunião não foi apresentado um cronograma formal de pagamento.
“Porque no cinema, a área mais cara é a área da direção de arte. E no caso do filme não gastou mais de R$ 100 mil. Mesmo se a direção de arte tivesse gastado mais do que foi pedido no orçamento, estaria dentro dos gastos previstos, porque sabemos que é o setor mais caro do cinema. E mesmo assim, não foi. Então, há uma irregularidade com tudo o que ele falou. As contas não batem, porque eu sei como é que funciona essa questão de projetos”, afirmou Jhonnathan.
Conforme o maquiador, antes da reunião, havia sido indicado a data de 31 de agosto como limite para a quitação, mas, de acordo com o próprio diretor, esse prazo não será cumprido e, até momento, não há nova previsão oficial para o pagamento da equipe.
“Teve essa reunião e questionamos algumas coisas, mas até então não temos um posicionamento de como vai ser feito esse pagamento. Muitas pessoas estão sem pagar, a gente está levantando uma lista de novo a respeito disso. E aí estamos no aguardo, mas até então nada”, apontou.
Para os profissionais, por envolver recursos públicos destinados à cultura e afetar diretamente trabalhadores locais, são necessários transparência sobre o fluxo de pagamentos e a divulgação de um plano de regularização, com prazos e responsáveis definidos, de acordo com as obrigações previstas nos editais e respectivas prestações de contas.
A reportagem do Portal Acre entrou em contato com Ney Ricardo, diretor do filme, para ter um posicionamento sobre a situação. O diretor confirmou que houve a reunião com parte dos participantes do filme.
“Na quarta-feira, dia 27 de agosto, a partir das 15h, realizamos uma reunião na Filmoteca Pública Acreana, com parte dos participantes presencialmente e outros de forma on-line, para tratar do pagamento dos cachês que ainda estão pendentes. Nessa ocasião, expliquei como ocorrerão esses pagamentos e os motivos do atraso”, disse.
Segundo Ney, a etapa da filmagem foi concluída no dia 26 de agosto, porém não conseguiram levantar os recursos suficientes para quitar os valores referentes a esse mês. Ainda conforme o diretor, o montante disponível não foi suficiente, pois as despesas acabaram sendo superiores ao previsto.
“Ainda assim, havia um planejamento para viabilizar os pagamentos, mas, já na terceira semana, ficou evidente que o previsto não se concretizaria como planejado e que seria necessário mais tempo para solucionar a questão, uma vez que uma fonte de recurso praticamente certa não se confirmou. Dessa forma, ficaram pendências com parte da equipe em relação a essa etapa, considerando que todas as anteriores foram pagas em dia”, explicou.
Ney afirmou também que está atuando em várias frentes de trabalho para resolver essa situação com urgência.
“Já existe a viabilidade concreta de levantar o valor necessário, porém não será possível efetivar isso com a rapidez que a situação exige, em razão de processos burocráticos que não dependem apenas de mim. Ainda assim, todos têm a garantia de que irão receber, e reafirmei isso durante a reunião: trata-se apenas de uma questão de tempo”, defendeu.
O diretor complementou. “Reitero que continuo à disposição, como sempre estive, sem me esquivar da minha responsabilidade. Infelizmente, ocorreu essa fatalidade em um projeto de cinema que tem como objetivo valorizar a cultura do nosso estado. No entanto, ainda enfrentamos limitações devido ao incentivo incipiente às artes e à cultura, o que dificulta explorarmos plenamente a grandeza do Acre”, finalizou.