Rio Branco, 31 de outubro de 2025.

Bocalom até fala a linguagem do povo, mas será que escuta?

Chegou a hora de analisar a comunicação do terceiro possível jogador do “jogo” chamado governo do Acre em 2026. Analistas da política acreana afirmam que o prefeito da capital, Tião Bocalom, tem dado passos que deixam claro seu posicionamento para a disputa. Aliás, o próprio gestor não nega a vontade de ser governador. Pelo sim ou pelo não, a missão desta colunista, apaixonada por comunicação e oratória, é observar, do ponto de vista técnico, a eficiência e a coerência da comunicação verbal e não verbal dos possíveis “escalados” para esse jogo.


Tião Bocalom é conhecido pela insistência. Foi candidato inúmeras vezes e não desistiu, até conseguir. Um homem que planejou subir ao poder e realizou o desejo. A imagem de Bocalom não é tão atraente quanto a de seus possíveis concorrentes, assim como não ocupa uma posição tão confortável no tabuleiro político, como Mailza, que, caso Gladson se candidate ao Senado, disputará o Palácio Rio Branco na cadeira de governadora.

Bocalom está sempre pronto para falar. E, apesar de se declarar bolsonarista, sua comunicação lembra muito a de Lula. Assim como o presidente, Bocalom fala de forma simples, sem recorrer a termos técnicos ou palavras rebuscadas, usando a linguagem do povo para se conectar com o público. Mesmo sendo um senhor, sua fala é compreensível para diferentes faixas etárias. Ele sabe para quem fala e aciona o gatilho mental da similaridade, aproximando-se do eleitor por meio de histórias do passado e experiências pessoais.

Ele demonstra segurança. Faz afirmações categóricas e fala com tanta certeza que convence. Entendeu que repetir uma informação exaustivamente ajuda a fixá-la na mente do público. É tanto que ficou conhecido por frases emblemáticas, como o clássico “se não roubar, o dinheiro dá!” e, mais recentemente, pela afirmação de que o elevado Beth Bocalom é o mais bonito do Brasil. Mesmo que a comparação não se sustente na realidade, ele transmite a ideia com tanta veemência e repetição que, parte da população, principalmente quem não viu outros elevados mais bonitos pelo país, acaba comprando a narrativa.

Mas, se de um lado Bocalom domina a arte de falar com o povo, do outro, tropeça naquilo que diferencia um bom comunicador de um grande líder: o equilíbrio entre firmeza e escuta. Dizem pelos corredores da prefeitura que Bocalom só ouve uma única pessoa: o marketeiro Zé Américo, mas esse ainda não o convenceu que para comunicar com clareza, eficiência e se conectar com o público é preciso respeitar as pausas, largar os vícios de linguagem (como “né”, “é…”) e ter atenção com o ritmo acelerado de fala, que torna sua comunicação cansativa. As palavras de Bocalom, muitas vezes saem atropeladas, sem pausas ou entonação adequadas, o que prejudica a dicção e, por vezes, transmite grosseria e impaciência. O que fica claro em entrevistas, porque ele tende a interromper o interlocutor.

A comunicação corporal de Tião Bocalom é expressiva: fala com as mãos, não fica “engessado”. No entanto, os gestos muitas vezes reforçam uma postura de imposição. A frase “veja só”, somada ao dedo constantemente levantado, soa como uma tentativa de provar autoridade, um gesto que parece dizer: “você não está vendo o que é tão claro?”

Fisicamente, Bocalom é um senhor de feições marcantes e expressão caricata, que lembra o personagem Carl Fredricksen, do filme UP – Altas Aventuras. Ambos são intensamente expressivos: encantadores quando falam de algo que amam, mas duros e rudes quando contrariados. Essa dualidade foi expressada com clareza em uma entrevista à jornalista Quésia Melo, da TV Acre, durante a última eleição municipal. Questionado sobre manter em sua equipe um ex-secretário condenado por assédio sexual, Bocalom reagiu de forma grosseira e impositiva: “Ô, filha, não vou mais discutir isso contigo, você está forçando a barra.” A resposta, transmitida ao vivo, evidenciou a dificuldade do prefeito em lidar com temas delicados e revelou uma comunicação agressiva e defensiva. É verdade que entrevistas ao vivo, sob pressão e tempo cronometrado, exigem mais jogo de cintura, mas ali faltou assertividade e sobrou autoritarismo.

Outro traço marcante da sua comunicação é o uso recorrente de “Filhão” e “Filhona”. À primeira vista, soa afetuoso, mas quando repetido com tom indiferente, pode transmitir distanciamento e arrogância, como se as pessoas não fossem dignas de serem chamadas pelo nome.

Seu ar turrão, mandão e de opinião inabalável pode até reforçar a imagem de firmeza que agrada parte do eleitorado, mas também revela um líder que fala muito e ouve pouco, o que pode transmitir a impressão de inflexibilidade, uma característica que costuma afastar o eleitorado que busca empatia e equilíbrio nas falas de um líder.

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Daigleíne Cavalcante

Daigleíne Cavalcante é jornalista com 17 anos de experiência, palestrante, mentora e estrategista em comunicação e oratória.

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