Rio Branco, 24 de outubro de 2025.

Entre o topete e o tom: o que Alan Rick comunica sem dizer uma palavra

À medida que o tabuleiro político do Acre se movimenta para 2026, o nome que surge como destaque para o cargo de governador do estado, nesse momento, é o do senador Alan Rick, que se filia nos próximos dias no Republicanos. Jornalista e pastor, ele domina duas áreas em que falar bem é praticamente um pré-requisito. E nisso, sem dúvida, ele se sobressai: Alan Rick tem boa oratória e isso é indiscutível. Entre os possíveis oponentes, talvez seja o que melhor entende o poder de um bom discurso.

Mas, como já disse antes aqui na coluna Sem Filtro, comunicar vai muito além das palavras. O que você fala é importante, mas COMO você fala é muito mais.

E quando observamos o conjunto da comunicação de Alan Rick, tanto o que ele diz, como também como se comporta (e o que o público percebe), a sensação pode ser parecido com o que aconteceu no último filme Coringa. O vilão mais temido de Gotham deixou o terror de lado e virou protagonista de um romance musical. O resultado? O público não comprou a história. Faltou COERÊNCIA no roteiro.

O reflexo foi direto nas bilheterias: a queda de público em relação ao primeiro filme foi de mais de 80%. E isso não é por acaso, é ciência. Quando a narrativa perde coerência, o público se desconecta. O mesmo vale para o eleitor: se o discurso não combina com a postura, a aprovação despenca.

Você pode estar se perguntando: o que Coringa tem a ver com Alan Rick?
O princípio é o mesmo. Se não adotar uma comunicação adequada, corre o risco de passar uma quebra entre o discurso e a imagem.



De um lado, o político que se esforça para parecer “gente como a gente”, chama todos de “manin”, além de se descrever, em seu site oficial, como contra o aborto, a descriminalização da maconha e a erotização infantil, defensor das pautas conservadoras. Do outro, o homem de terno alinhado, topete e barba sempre feitos, que, em suas entrevistas, gosta de usar palavras menos utilizadas na comunicação informal tais como “eivado”, “viceja”, dentre outras, o mesmo que foi filmado discutindo com um atendente de companhia aérea, gritando, batendo no balcão e até usando palavrões. Vale lembrar que embora o Senador tenha pedido desculpas e o episódio já pertença ao passado, em uma campanha eleitoral, passado e presente costumam se misturar.


Outro ponto que interfere na percepção é o ar de superioridade que, ainda que involuntário, se impõe. Alan Rick é um homem alto, branco, bonito, bem vestido, sempre com seu relógio no pulso e o anel no dedo. Nas fotos, muitas vezes aparece com expressões “sisudas”, dedo imposto “na cara” enquanto fala e o queixo levemente levantado, como quem olha de cima para baixo, traços que, somados à fala impecavelmente alinhada, podem ser interpretados como arrogância. Claro que, como qualquer político, haverá troca de “skin” quando chegar a hora de estar no meio do povo, tomando café e apertando mãos. Mas, se o eleitor tem memória, e tem, o que pode ecoar é a imagem que mais se repete ao longo dos anos.

Por fim, não há dúvida de que Alan Rick domina os palcos e palanques e entende de narrativa, mas, na comunicação política, o desafio não é parecer perfeito é parecer verdadeiro!

O eleitor quer se reconhecer no olhar, no gesto, no erro e até na risada. Carisma não se constrói apenas com frases bem ensaiadas, mas com coerência entre o que se diz e o que se demonstra.

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Daigleíne Cavalcante

Daigleíne Cavalcante é jornalista com 17 anos de experiência, palestrante, mentora e estrategista em comunicação e oratória.

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