Rio Branco, 28 de outubro de 2025.

Secom

Ifac promove primeiro curso técnico indígena de Recursos Pesqueiros do Brasil

Recursos são orundos de emenda da ex-deputada Perpétua Almeida: Foto cedida

Em um momento histórico para a educação profissional e tecnológica brasileira, o Instituto Federal do Acre (Ifac), por meio do campus Cruzeiro do Sul, realizou na última quinta-feira, 23, a aula inaugural da primeira turma especial indígena do curso técnico subsequente em Recursos Pesqueiros. A formação, inédita na Rede Federal fora de um campus, é ofertada exclusivamente para as comunidades indígenas da Terra Campinas Katukina, território do povo Noke Koî (Katukina Pano), no município de Cruzeiro do Sul.

A cerimônia foi conduzida em formato de grande roda, respeitando o modo tradicional de reunião do povo Noke Koî, e aconteceu na sede da Associação Geral do Povo Noke Koî (AGPN), no Km 66 da BR-364, dentro da Terra Indígena Campinas Katukina. Destinado a indígenas com ensino médio completo, o curso será realizado dentro da própria comunidade, promovendo acesso à educação profissional de forma inclusiva, contextualizada e respeitosa às tradições locais.

“A proposta do curso busca integrar saberes acadêmicos e conhecimentos tradicionais, preparando jovens e adultos para o uso de técnicas de pesca e aquicultura voltadas tanto para o sustento alimentar quanto para a produção e comercialização do pescado, fortalecendo o protagonismo local e o empreendedorismo sustentável”, destaca a coordenadora do curso, docente Meyrecler Aglair de Oliveira Padilha.

Estiveram presentes o cacique geral Edilson Rosa (Powá), o presidente da AGPN, Adriano Katukina (Itsomí), o reitor do Ifac, Fábio Storch, a autora da emenda parlamentar que viabilizou o curso, ex-deputada federal Perpétua Almeida, o diretor do campus Cruzeiro do Sul, Raelisson Walter, além de autoridades municipais e representantes da equipe técnica do Ifac.

A Reitoria também foi representada pela pró-reitora de Ensino, Ana Cláudia de Souza Garcia; pela pró-reitora de Extensão, Luana Oliveira de Melo; pela pró-reitora de Administração, Carla Mioto Niciani; e pelo assessor da Reitoria, José Claudemir Alencar do Nascimento. Após a cerimônia, os alunos receberam os kits completos para o início das aulas.

Lideranças indígenas celebram conquista – O cacique geral Edilson Rosa destacou que o curso representa um marco de autonomia para a comunidade. “A criação de peixes em cativeiro exige conhecimento técnico especializado. Com este curso, poderemos cuidar de nossos peixes por conta própria, sem depender de mão de obra externa. Formaremos nossos próprios técnicos, preparados para gerir os recursos de nossa comunidade”, afirmou.

O presidente da AGPN, Adriano Katukina, reforçou que a formação é a realização de um sonho antigo do povo Noke Koî. “Praticamos piscicultura há anos, mas sem o conhecimento técnico adequado. Agora, com o apoio do Ifac e da emenda da deputada Perpétua Almeida, poderemos aprimorar nosso trabalho, garantir a segurança alimentar e desenvolver a piscicultura mesmo sem rios ou lagos na aldeia. É um passo fundamental para o futuro do nosso povo”, ressaltou.

Autoridades destacam marco histórico – Para o reitor do Ifac, Fábio Storch, a oferta do curso simboliza um avanço na trajetória educacional e social da região e reafirma o compromisso da instituição com a inclusão, a diversidade cultural e o desenvolvimento sustentável. “Com esta ação, o Ifac reafirma seu compromisso com a inclusão e o respeito aos povos originários, aproximando a educação profissional das realidades indígenas. Este será um marco para o Acre e para o Brasil”, afirmou.

O reitor ainda lembrou os planos de expansão dos institutos federais no Acre e expressou o desejo de que os primeiros técnicos indígenas formados sejam certificados em uma cerimônia com a presença do presidente Lula e do ministro da Educação, Camilo Santana.

A ex-deputada federal Perpétua Almeida, autora da emenda parlamentar que destinou os recursos para o curso, comemorou a iniciativa como um momento histórico para o país.

“Estamos implantando o primeiro curso de Recursos Pesqueiros em uma comunidade indígena, ministrado no dialeto dos povos Noke Koî. Este projeto contribui para a segurança alimentar e para a autonomia da comunidade. É uma honra ter colaborado com o Ifac nessa conquista”, afirmou.

A secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Janaina Terças, representando o prefeito Zequinha Lima, destacou o impacto do curso para o município. “Essa formação é essencial para enfrentar os desafios da segurança alimentar e promover a preservação dos recursos naturais. A parceria entre o Ifac e a Prefeitura fortalece o desenvolvimento de Cruzeiro do Sul por meio da educação e da profissionalização”, disse.

Um sonho construído ao longo de uma década – O professor Rodrigo Marciente, idealizador da proposta e docente do campus Cruzeiro do Sul, lembrou que a realização do curso é resultado de dez anos de articulações e parcerias. “Desde 2015, com o apoio da então reitora Rosana Cavalcante, dialogamos com a comunidade Katukina sobre a possibilidade de oferecer formação técnica dentro da terra indígena. Em 2018, com o apoio da emenda parlamentar e da gestão do campus, conseguimos concretizar o projeto. Hoje celebramos a primeira formação técnica em território indígena em 525 anos de história”, destacou.

Rodrigo Marciente ressaltou ainda que o curso é fruto de aprendizado coletivo entre a instituição e a comunidade, e reforçou o papel do Ifac na valorização dos povos indígenas e na construção de soluções sustentáveis para o Acre. “Acredito que este curso representa uma troca de saberes entre nós e a comunidade indígena, em que todos aprendemos uns com os outros. Espero que a formação proporcione autonomia para o manejo dos tanques de piscicultura e estimule o desenvolvimento de produtos derivados do pescado, fortalecendo e valorizando a comunidade”.

Formação adaptada à cultura Noke Koî – O diretor do campus Cruzeiro do Sul, Raelisson Walter, comemorou o início da formação e destacou seu caráter inovador. “É um curso inédito no Brasil, por ocorrer dentro de um território indígena e ser adaptado à realidade linguística e cultural do povo Noke Koî. Nosso objetivo é integrar o conhecimento técnico e científico aos saberes tradicionais, promovendo autonomia e sustentabilidade”, afirmou.

A coordenadora do curso, professora Meyrecler Aglair de Oliveira Padilha, explicou que a formação prepara os participantes para o manejo de pesca e aquicultura, incentivando o empreendedorismo e a segurança alimentar. “Queremos unir o conhecimento acadêmico aos saberes locais, formando profissionais capazes de produzir, comercializar e cuidar dos recursos naturais de forma sustentável”, destacou.

Segundo a coordenadora, haverá uma equipe do campus Cruzeiro do Sul, formada pelo professor Marcelo dos Santos Nascimento (coordenador pedagógico) e os servidores Nataniel Francisco da Silva (apoio técnico-pedagógico) e Rodrigo Nascimento da Silva (supervisor administrativo), além da equipe local, que atuará como colaboradores bolsistas externos Ailton das Chagas de Souza Katukina (intérprete), Roberto Oliveira da Silva Katukina e Artur Chagas de Souza (mediadores), e Márcio André (coordenador local).

Meyrecler Padilha lembra que, com a oferta deste curso, o Instituto Federal do Acre reforça seu compromisso com a inclusão, a diversidade cultural e o respeito às tradições indígenas, aproximando a educação profissional das realidades e necessidades das comunidades do interior do estado. “A aula inaugural em Cruzeiro do Sul simboliza um novo capítulo na história da educação profissional brasileira, marcado pela integração entre ciência, cultura e identidade, e pelo reconhecimento dos povos originários como protagonistas do próprio desenvolvimento.”

Com informações do Instituto Federal do Acre

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