
O Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito é uma data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma forma de refletir, solidarizar e conscientizar sobre os cuidados com o trânsito. A data busca, principalmente, homenagear as pessoas que perderam a vida em acidentes, apoiar suas familiares e amigos, além de reforçar o compromisso coletivo com um trânsito mais seguro e humano.
A data foi criada no dia 16 de novembro e, em 2025, completa 30 anos de existência, se tornando uma importante ferramenta para as instruções que agiam na área de segurança viária.
Como forma de reforçar a necessidade urgente de ações preventivas para reduzir essas fatalidades, além de demonstrar o impacto das mortes e lesões no trânsito, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) realizou nesta sexta-feira, 14, na Praça da Revolução, um evento alusivo ao Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito.
A iniciativa é organizada pelo Programa Vida no Trânsito (PVT), que faz parte da Vigilância em Saúde da Semsa. De acordo com a diretora da Vigilância e representante do programa, Socorro Martins, o PVT está inserido na área da saúde devido ao fato dos acidentes de trânsito serem reconhecidos como problemas de saúde pública, devido à quantidade de óbitos e às sequelas que as vítimas carregam.
“Neste ano, estamos voltados mesmo para os condutores de motocicletas, que correspondem a 80% das vítimas fatais. Então, o programa visa passar para a população toda a informação de dados e mostrar para o Detran, a RBTrans e o policiamento, os locais onde realmente teve aquela fatalidade, para ajudar as autoridades a levar algumas regras. Todos em conjunto focando na prevenção de todos esses acidentes”, explicou.
Socorro reforçou ainda que a Vigilância avalia e monitora os casos, além de ter um panorama sobre faixa etária e bairros onde os acidentes acontecem, por exemplo. “Todo o sistema de informação está na vigilância. Então, temos esses números e monitoramos, avaliamos e oferecemos essas informações para esses setores que vão tomar as providências cabíveis”, complementou.
Conforme a coordenadora da Vigilância, em 2025, na capital acreana houveram cerca de 40 óbitos provocados por acidente de trânsito. “É um número muito alto, só para o município de Rio Branco, para residentes da cidade. E 80% desses são motociclistas”, detalhou Martins.
Com esses dados alarmantes, a ação da Semsa reforça a necessidade da prevenção e cuidado no trânsito. Além do evento alusivo ao Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, até o dia 17 de novembro também ocorrem ações educativas e expositivas voltadas para a promoção da segurança viária e da conscientização da população sobre comportamentos seguros no trânsito.
Para o secretário municipal de Saúde, Rennan Biths, a iniciativa é um momento importante para levar para a população que o cuidado e a paz no trânsito são importantes para evitar tragédias no trânsito.
“É importante mencionar que, ano a ano, o trânsito ainda tira muitas vidas, ainda deixa pessoas com sequelas graves e permanentes e que mudam a dinâmica de uma família, a dinâmica das vítimas. E esse é o momento que temos aqui de chamar atenção. Este é um dos desafios da atenção primária, um dos desafios da Secretaria Municipal de Saúde. E este é um momento de prevenção, um momento de chamar a atenção de toda a sociedade para que a gente consiga desenvolver bons hábitos e boas práticas no trânsito a fim de evitar essas perdas que trazem impactos grandiosos e devastadores na vida das pessoas levando até a perda da vida”, declarou.
Perdas, luto e recomeços

Uma das vítimas fatais do trânsito foi o jovem Ruan Rhiler Rodrigues Santos, de 23 anos, que faleceu no dia 8 de novembro, após colidir sua moto frontalmente com uma caminhonete que invadiu a contramão na Rodovia AC-10. Ruan morreu no local devido ao impacto da colisão.
O pai do jovem, Fábio Santos, esteve presente no evento e reforçou que a ação deve ser repetida de forma contundente como um calendário anual.
“E não apenas esse evento, mas o sistema de segurança pública como um todo, ele tem que se unir para trabalhar a conscientização. Porque o problema do trânsito é cultural. A sensação de impunidade é cultural. Mas cultura demora-se a mudar, cultura tem que ser trabalhada. Muitas pessoas dirigem sob efeito de álcool, sob efeito de substâncias químicas, e não têm consciência de que, quando fazem isso, colocam outras vidas em risco. Esses eventos precisam ser massificados para que as pessoas tenham consciência daquilo que é o bem mais precioso e disponível nesse mundo, que é a vida”, afirmou.
A perda de Rennan ainda é um momento de muita dor para toda a família. “Ruan era o primogênito, era o primeiro neto das duas famílias. Então, assim, é uma dor imensa. E eu tenho certeza que essa dor não é apenas da família, mas essa dor é para toda a sociedade acreana. Esse caso do meu filho repercutiu no Brasil, até porque ele era da CBF, teve um minuto de silêncio em todo o país, em todos os jogos, inclusive no jogo do Flamengo, Santos, São Paulo. Ou seja, que isso seja algo que venha conscientizar as pessoas que isso pode acontecer com qualquer pessoa”, relatou emocionado.
Fábio reforçou a importância de trabalhar a conscientização coletiva e, também, de se ter leis mais duras para os casos de infrações graves e acidentes de trânsito. A motivação da família de Ruan agora é a busca pela justiça.
“Sempre falei, desde quando soube do óbito do meu filho, que não quero e não tenho sentimento de vingança, mas tenho sentimento de justiça. E repito sempre, a voz do meu filho não vai ser silenciada enquanto ele tiver pai, mãe e avós, porque todo direito que ele tem vamos buscar isso através dos órgãos competentes”, determinou.
Diego de Souza, de 29 anos, também é vítima de um acidente de trânsito e, atualmente, convive com as sequelas do acidente que ocorreu em 2018, quando tinha apenas 22 anos.
Segundo o relato de Diego, enquanto trafegava pela Via Verde e voltava para casa após um dia de trabalho, uma caminhonete bateu na traseira da sua motocicleta e o fez perder o controle do veículo e capotar várias vezes. Diego ficou paraplégico imediatamente após o acidente.
“Na hora eu pensei: ‘tem algo muito errado acontecendo’. Foi ali que percebi que a lesão tinha sido séria, porque a sensação das minhas pernas simplesmente sumiu”, compartilhou.
A reabilitação foi um momento emocionalmente difícil na vida de Diego. Durante a internação, desenvolveu estenose traqueal (um estreitamento da traqueia que dificulta a passagem do ar para os pulmões e que pode levar à insuficiência respiratória), causada pelo uso prolongado do tubo durante o coma.
A sequela fez com que Diego ficasse três anos e meio sem conseguir falar ou respirar normalmente, já que precisava fazer uso da traqueostomia.
“No começo a reabilitação não foi feliz. A gente pensa muito: ‘e agora? como vai ser a vida sem mexer as pernas?’. Tive muito abalo emocional, mas com a ajuda de Deus, da minha esposa, da minha filha e dos meus pais eu vi que era possível dar a volta por cima. Só comecei a me reabilitar de verdade quando entendi que era irreversível”, descreveu.
O esporte paralímpico passou a fazer parte da sua trajetória e já traz diversas conquistas como forma de reconhecimento a sua dedicação ao trabalho que desenvolve.
“Conheci o esporte paralímpico há menos de um ano e já tenho algumas conquistas. Fui ouro em Brasília no halterofilismo, estou entre os melhores do Brasil na minha categoria. Também pratico jiu-jitsu adaptado e atletismo. Antes do acidente eu já era muito ativo, isso me ajudou a retomar a vida”, comentou.

Para Diego, eventos como este, realizado nesta sexta-feira, são importantes para conscientizar sobre acidentes e apoiar pessoas recém-lesionadas, além de oferecer esperança e mostrar que é possível ter uma vida ativa após uma lesão medular.
“Esse evento é importante porque traz conscientização. Todo dia tem gente ficando paraplégica, gente perdida sem saber como vai ser a vida. Muitas pessoas chegam no meu Instagram perguntando como começar. Então, trazer essa visibilidade ajuda demais, mostra que existe vida na cadeira de rodas e que a reabilitação é possível”, concluiu.








