Os movimentos sociais de mulheres acreanas se mobilizaram nesta quarta-feira, 2, de forma coletiva, para debater o enfrentamento ao feminicídio e às violências contra as mulheres. A reunião emergencial foi realizada na sede do Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE/AC), em Rio Branco.

Com a presença de lideranças femininas, representantes de entidades e coletivos, como o Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (CEDIM) e Associação de Mulheres Negras do Acre, a reunião visa a construção de propostas emergenciais para zerar as violências sofridas por meninas e mulheres. A elaboração do plano de combate será realizada de forma conjunta, e considera as vivências plurais das mulheres participantes.
A iniciativa, apoiada pelo Tribunal de Contas, é uma forma de chamar a atenção do poder público para os números alarmantes de feminicídio e de violência moral, sexual, patrimonial e psicológica que assolam o público feminino. Uma das estratégias discutidas, é a realização de uma vigília, inspirada em ações do mundo inteiro.
Para a conselheira do TCE/AC, Dulce Benício, o encontro é uma forma de articular as ações e políticas que precisam ser feitas. “Ações de educação, de igualdade de gênero e também ações para os autores de agressões. Existem várias formas com que nós, instituições públicas, sociedade civil, em união, podemos atuar para reduzir o índice alarmante de violência e agressão as mulheres, em todas as suas formas”, disse a conselheira.
A ativista dos direitos das mulheres, Concita Maia, esteve presente. Para Maia, o momento é de extrema importância para reverter um cenário ‘perverso e covarde contra as mulheres’. “Fomos convidadas para discutir o que vem acontecendo no nosso estado, onde cada vez mais vem aumentando o índice de feminicídio, e não só ele, mas o transfeminicídio, lesbocídio, e está assustadora a realidade. E nós precisamos fazer esse enfrentamento e precisamos estar unidos”, compartilhou a ativista.
Além do crescente índice de violência no espaço urbano, as mulheres também sofrem no campo. O distanciamento geográfico e a falta de inclusão desse público nas pautas representa um risco à todas as mulheres, é o que diz a presidente do Cedim, Giovana Castelo Branco.
“Nós precisamos dar visibilidade a essa violência que parece que não existe, mas está presente. O homem do campo é, muitas vezes, mais machista que o homem da cidade, porque ele acha que é o provedor. Por mais que a mulher camponesa trabalhe, tenha a sua renda, isso fica invisível. Nossa companheiras comercializam e muitas vezes entregam o dinheiro para seus maridos, porque se acham incapazes, e tudo isso é colocado na cabeça delas pelo homem”, complementa Giovana Castelo Branco.
Durante o mês de julho, o movimento social de mulheres irá promover uma ação com foco nas mulheres negras, que são o maior alvo de violência doméstica e familiar. A advogada Lúcia Ribeiro explica que o Julho das Pretas é uma forma de lutar pela visibilidade e cidadania das mulheres negras.
“É uma forma de chamar atenção para a questão das mulheres negras, porque nós ocupamos a última parte, a última camada da pirâmide social, e vivemos em extrema situação de vulnerabilidade social. E o racismo faz com que nós sejamos as principais vítimas das violências, da pobreza, das injustiças sociais. Então, quando se fala em criar estratégias para reduzir a violência contra mulheres, nós temos que pensar em primeiro lugar nas principais vítimas que são as mulheres negras e é importante que o sistema de justiça preste mais atenção nessa questão do racismo, porque o racismo é que gera as grandes violências praticadas contra as mulheres”, concluiu a advogada.