
Foram longos dias sem escrever aqui. É que desde a Expoacre Juruá eu fui “sequestrada” pelas inúmeras tarefas que exerço no Portal Acre, mas todos os dias meu coração me lembrava que esse espaço é o meu espaço de falar o que preciso falar, sem filtro.
Todo esse tempo, sempre que penso sobre o que escrever, o único assunto que me vem à mente é o triste caso da bebê Aurora.
Talvez por ser mãe.
Talvez por ter passado anos da minha vida levantando a importante pauta da desromantização da maternidade.
Talvez por ter escolhido estudar o papel do jornalismo na desconstrução dos estereótipos que rondam o maternar…
A verdade é que a mãe que habita em mim, sempre que se recorda daquela história, sente vergonha de ter chorado tanto pelas noites mal dormidas do puerpério.
Não que a minha dor, e a de tantas outras mães, não seja digna.
Mas pensar que aquela mãe desejou ardentemente viver as dores e delícias do “resguardo”, torna as minhas dores quase insignificantes.
Talvez o maior desejo dela fosse ter levado a Aurora pra casa depois do parto.
Ter lidado com os julgamentos e pitacos da família.
Ter sofrido a dor da amamentação.
Ter ficado noites em claro, andando pela casa com a bebê no colo, tentando fazê-la dormir, pra, quando enfim ela dormisse, ficar checando de meia em meia hora se ela ainda estava respirando.
Os dias passam. E para a maioria das pessoas, a tragédia daquele dia já começa a cair no esquecimento.
E apesar das boas notícias de que Aurora segue evoluindo em sua recuperação e já vai voltar pra casa, minha mente insiste em pensar.
Meu coração de mãe insiste em sofrer.
E meu senso de justiça insiste em se indignar.
Quantas Auroras mais vão sofrer pela falta de gestão na saúde pública?
O que esperamos, de coração, é que Aurora se recupere sem sequelas.
Que as marcas do que aconteceu não sejam lembrança de um erro irreparável, mas a memória da força de uma bebê valente.
Que a dor, um dia, se transforme em ponto minúsculo diante dos momentos felizes que virão para essa família.
Mas também esperamos, e exigimos, que, assim como “aurora” significa, nascer do sol e claridade que anuncia o início do dia, essa história seja o despertar.
O despertar de um novo tempo na saúde pública.
O despertar da responsabilidade.
O despertar da gestão.
Porque nenhuma criança deveria arder de dor por causa da negligência do Estado.