
Durante toda esta semana, a internet parou para falar sobre um tema que, infelizmente, não é novidade: a adultização das crianças. A discussão ganhou força depois do vídeo do youtuber Felca, que expôs com coragem e indignação casos recentes de exploração infantil. Entre eles, o do influenciador Hytalo Santos, denunciado por expor menores de idade em situações sexualizadas e humilhantes, aplaudidas por adultos.
O caso escancara um problema que vai muito além de um perfil derrubado, como aconteceu com o de Hytalo, ou de uma denúncia no Ministério Público: vivemos uma era em que a infância está sendo empurrada para a vida adulta antes da hora. E o preço que as crianças pagam por isso é alto.
Mas o que é, afinal, adultização infantil?
É quando meninos e meninas são expostos precocemente a comportamentos, responsabilidades e expectativas que pertencem ao mundo adulto. Seja assumindo funções que não condizem com sua idade, seja absorvendo padrões de comportamento, linguagem e aparência que comprometem sua autoestima e seu desenvolvimento saudável.
A internet, com seu acesso irrestrito, tornou-se terreno fértil para essa distorção. Músicas, vídeos e redes sociais empurram gestos, roupas e falas que imitam a sensualidade adulta. E cada like ou compartilhamento reforça que “está tudo bem”, quando na verdade não está.
Sim, os criminosos são os principais responsáveis pelos abusos e devem ser punidos com rigor. Mas também é verdade que a prevenção começa em casa.
É nosso dever, como pais e cuidadores, proteger as crianças do que não lhes pertence. Isso passa por escolhas simples, mas fundamentais: oferecer roupas adequadas para a idade, supervisionar o que assistem, ouvir as letras das músicas que cantam, e, principalmente, ensinar que o corpo e a infância merecem respeito.
Não, uma criança não pode ser responsabilizada por querer usar um top ou dançar de forma sensualizada. Mas os adultos ao seu redor podem, e devem, ser responsabilizados por permitir que isso se torne “normal”. O podófilo, o criminoso está à espreita, e não temos controle sobre ele. Mas sobre nossos filhos, sim.
Criança precisa brincar, se sujar, inventar mundos imaginários. Precisa conviver com outras crianças, se sentir segura para ser exatamente o que é: criança.
Quando pulamos essa etapa, não criamos miniadultos “empoderados”. Criamos adultos inseguros, com fronteiras confusas entre afeto, sexualidade e autoimagem.
Por isso, se queremos realmente proteger nossas crianças, precisamos começar pelo óbvio: deixá-las viver a infância. E, para isso, é preciso coragem para dizer “não” quando o mundo diz “sim”.