Rio Branco, 18 de agosto de 2025.

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Queimadas no Acre recuam 70% em 2025, mas meses críticos ainda preocupam

Rio Branco, Feijó e Tarauacá lideram focos de queimadas: Foto reprodução

O Acre registrou uma redução significativa da área queimada entre 2025 e 2024, mas os especialistas alertam que o período mais crítico ainda não começou. Até 15 de agosto, o monitoramento do Laboratório de Geoprocessamento Aplicado ao Meio Ambiente (LabGAMA) da Universidade Federal do Acre (Ufac) — Projeto Acre Queimadas — identificou 8.882 hectares de cicatrizes de fogo em todo o estado, número 60% menor em relação ao mesmo período de 2024. Considerando o total acumulado no ano anterior, a queda chega a 70%.

A análise foi realizada por meio de imagens de satélite Landsat 8 OLI e Sentinel-2, processadas no software QGIS. O método utilizado permite mapear cicatrizes de fogo em áreas desmatadas e agrícolas a partir da classificação supervisionada da refletância do solo.

Os números do Acre Queimadas se assemelham, percentualmente, aos dados relacionados a focos de queimadas, disponibilizados em tempo real pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) por meio do Programa Queimadas. Até este domingo, 17, o Acre registrou 344 focos de queimadas desde 1º de janeiro contra 1.449 do mesmo período no ano passado, o que corresponde a uma redução de cerca de 76%.   

De acordo com o relatório do LabGama, a distribuição das queimadas revela que cinco municípios concentram 62% da área total atingida. Rio Branco lidera, com 25% do total, seguido de Feijó (12%), Tarauacá (12%), Cruzeiro do Sul (7%) e Sena Madureira (6%). A capital acreana e a região central do estado seguem como pontos de maior pressão ambiental.

O perfil das áreas atingidas

Os dados do Acre Queimadas indicam que 78% das ocorrências se deram em áreas agropecuárias já consolidadas, reforçando que a prática do uso do fogo na preparação do solo e no manejo de pastagens permanece como um dos principais vetores de degradação ambiental. Esse padrão evidencia que, embora o desmatamento ilegal seja fator relevante, a manutenção de práticas rurais tradicionais ainda representa grande desafio.

O Acre tem longo histórico de queimadas severas. 2005, 2020, 2021 e 2022 estão entre os anos mais críticos, com áreas devastadas que superaram centenas de milhares de hectares. Esses registros evidenciam a vulnerabilidade da floresta amazônica acreana diante da combinação de estiagens prolongadas, pressão agropecuária e expansão do desmatamento.

O que explicaria a redução em 2025?

Os pesquisadores apontam que a diminuição pode estar associada a condições climáticas ligeiramente mais favoráveis, incluindo as chuvas registradas no fim de julho e início de agosto. Além disso, ações de fiscalização e campanhas de conscientização desenvolvidas pelos órgãos de meio ambiente podem ter contribuído para conter o avanço do fogo neste primeiro período da seca.

Contudo, o relatório alerta que a tendência positiva ainda não pode ser comemorada. Os meses de setembro e outubro são historicamente os mais críticos, com estiagens intensas que favorecem a propagação rápida de incêndios florestais.

Mesmo com a redução, os especialistas reforçam que o Acre segue vulnerável. A dependência do fogo para manejo agropecuário, somada ao avanço do desmatamento e às mudanças climáticas, cria um cenário em que pequenas faíscas podem se transformar em grandes incêndios.

Para a equipe do projeto Acre Queimadas, o alerta é claro: “Cuidado máximo com o fogo, mesmo com chuvas no final de julho e início de agosto, [pois] o período crítico de queimadas, os meses de setembro e outubro, ainda está por vir.”

O que esperar daqui para frente

O acompanhamento realizado pelo LabGAMA seguirá durante o período em que a estiagem costuma atingir seu ápice. O monitoramento por satélite deve indicar se a redução observada até agora se consolidará ao longo do segundo semestre ou se a seca prolongada inverterá a tendência.

Enquanto isso, os especialistas defendem o fortalecimento das políticas de prevenção e combate ao fogo, a difusão de técnicas alternativas ao uso de queimadas no campo e a intensificação da fiscalização ambiental.

O desafio, reforçam, não é apenas reduzir os números de curto prazo, mas também romper a dependência histórica da queimada como prática agrícola e proteger a floresta amazônica em um contexto de mudanças climáticas cada vez mais severas.

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