
Por Lane Valle
Todos os anos, o mês de setembro ganha um tom mais reflexivo com a campanha Setembro Amarelo, voltada à prevenção do suicídio e à valorização da vida. O lema deste ano é “Conversar pode mudar vidas” cuja missão busca conscientizar, acolher e promover o diálogo sobre saúde mental — um tema ainda cercado de muitos tabus.
Em meio a tantos temas relevantes, um ponto muitas vezes negligenciado merece destaque: a importância de saber dizer “não”. Vivemos em uma sociedade que muitas vezes associa “bondade” à submissão e obediência. Aquele que diz “não” pode ser visto como egoísta, difícil ou ingrato. Mas essa cultura precisa mudar.
O “não” saudável não é agressivo. Ele é firme, claro e respeitoso — tanto com o outro quanto consigo mesmo. Ele reconhece os próprios limites, e isso é fundamental para manter o equilíbrio emocional.
Dizer “não” é um ato de autocuidado
Em uma sociedade que valoriza a produtividade constante, a disponibilidade imediata e o desejo de agradar a todos, dizer “não” pode parecer egoísta. Muitas vezes, a pressão para agradar os outros, corresponder às expectativas ou assumir mais responsabilidades do que se é capaz, leva as pessoas a negligenciar sua própria saúde mental.
Dizer “não” é um gesto de respeito por si mesmo, é reconhecer os próprios limites e proteger sua energia emocional.
Quantas vezes você, caro leitor, já disse “sim” para evitar conflitos, mesmo sentindo que estava se machucando? Quantas vezes aceitou demandas extras, engoliu sentimentos ou se calou para manter a aparência de força? Com o tempo, essas pequenas concessões viram grandes sobrecargas – e a saúde mental cobra a conta.
A campanha nos convida a estar atentos aos sinais de sofrimento emocional, tanto em nós mesmos quanto nas pessoas ao nosso redor. Ansiedade, depressão, estresse crônico e esgotamento (burnout) muitas vezes nascem da dificuldade de impor limites. Ao aprender a dizer “não” com firmeza e empatia, construímos relações mais saudáveis, reais e respeitosas – inclusive conosco mesmos.
Lembre-se: você não precisa dar conta de tudo. Você não está aqui para agradar todo mundo. Você tem o direito de se proteger. Saiba, que o “Não” também é cuidado com o outro. Ele não significa abandono. Muitas vezes, o “Não” é a forma mais honesta de dizer: “eu me importo, mas também preciso cuidar de mim”.
Quando evitamos esse “não” necessário, podemos acabar agindo com impaciência, frustração ou culpa – sentimentos que desgastam os vínculos ao invés de fortalecê-los.
Portanto, neste Setembro Amarelo, mais do que nunca, precisamos conversar. Não apenas sobre sofrimento, mas também sobre como evitá-lo. E uma das formas mais poderosas de prevenção é a educação emocional, que inclui aprender a reconhecer os próprios limites e expressá-los com respeito.
Além disso, pedir ajuda é tão importante quanto dizer “não”. Em muitos momentos, o sofrimento se intensifica justamente porque insistimos em resolver tudo sozinhos, em silêncio, com medo de parecer fracos ou incapazes. Psicólogos, psiquiatras e redes de apoio como o CVV estão preparados para oferecer suporte a quem precisa.
Onde buscar ajuda
A Rede de Atenção Psicossocial (Raps) é o principal caminho para quem busca atendimento especializado em saúde mental.
Unidades Básicas de Saúde (UBS).
Unidades de Pronto Atendimento (UPAs.
Pronto-Socorro de Rio Branco possui leitos de saúde mental.
Centros de Atenção Psicossocial (Caps), oferecem atendimento especializado.
Caps AD III: Localizado no bairro Manoel Julião, em Rio Branco, é específico para pessoas que enfrentam problemas relacionados ao uso de álcool e outras drogas.
Caps Náuas (caps II): Situado em Cruzeiro do Sul, atende toda a região do Juruá. Este é um Caps sem leitos de internação, mas oferece suporte contínuo para pessoas em sofrimento mental.
Caps municipais: Além dos centros estaduais, existem os municipais espalhados por várias cidades. Em Rio Branco, temos o Caps Samaúma, que fica localizado no bairro Floresta e atende casos mais graves de transtornos mentais.
As clínicas escola das faculdades Universidade da Amazônia (Unama), Estácio Unimeta e Universidade Federal do Acre (Ufac) funcionam com atendimentos gratuitos à população.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A população pode acessar o serviço pelo número 192 ou pelo WhatsApp 68 3216-1300.
O Centro de Valorização da Vida (CVV) também oferece apoio emocional gratuito, sigiloso e voluntário pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br, funcionando 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Lane Valle é fonoaudióloga, jornalista e colaboradora do Portal Acre.