Rio Branco, 20 de novembro de 2025.

Viver, resistir e denunciar: um aniversário sem filtro

Hoje é meu aniversário e eu acordei animada para conversar com vocês, sem filtros!

As últimas semanas foram cheias de acontecimentos que chamaram a atenção, tanto no cenário político local como em assuntos tristes como o crescente número de feminicídios.

Mas eu tive a alegria e o privilégio de acordar rodeada pelo amor dos meus filhos e ser recebida na mesa, em um lindo café da manhã pela minha família. Vocês já param para refletir em como isso tem valor?

É por isso que hoje ao invés de falar sobre feminicídios ou disputas políticas, temas que marcam nosso cotidiano, eu escolho falar de VIDA. Mas não de forma ingênua: falo de vida reconhecendo o peso das perdas, da invisibilidade e da violência que insistem em atravessar o nosso Acre.

Sou grata por estar aqui, viva, escrevendo. Sou grata por poder exercer o jornalismo, essa profissão que incomoda, denuncia e dá voz a quem tantas vezes é silenciado. Mas essa gratidão não me permite neutralidade: ela me convoca a responsabilidade.

Hoje acordei reflexiva sobre como nós mulheres seguimos quase invisíveis na política. Na Assembleia Legislativa do Acre, por exemplo, das 24 cadeiras, apenas três são ocupadas por mulheres. Já na Câmara Municipal de Rio Branco, a capital, a presença feminina também é mínima: apenas duas entre 21 parlamentares. Nas 22 prefeituras do Acre apenas uma prefeita em Senador Guiomard e se levamos esse cenário para as representantes do estado em âmbito federal, a coisa piora ainda mais. São oito cadeiras de Deputado Federal e apenas três são ocupadas por mulheres. Já no senado a presença feminina das acreanas é zero.

Esses números dizem muito. Ainda hoje, mulheres não são vistas como protagonistas do poder. São poucas em espaços que decidem sobre políticas públicas, orçamento e futuro do nosso estado.

Quando o assunto é violência, o apagamento é ainda mais cruel.

Encerramos o mês de setembro contabilizando oito casos de feminicídio em 2025, o mesmo número registrado em todo o ano de 2024. Nos últimos 10 anos, de acordo com o Ministério Público do Acre, foram aproximadamente 100 vítimas de feminicídio. Cada uma dessas vidas interrompidas expõe não só a brutalidade de uma sociedade machista e doente, mas também a ineficiência de um Estado que falha repetidamente em proteger suas mulheres.


É por isso que hoje, no meu aniversário, resolvi falar também de gratidão, mas acompanhada de crítica. Porque celebrar a vida, em um lugar onde tantas têm a sua interrompida de forma violenta, é também reafirmar minha missão como jornalista de usar a palavra para denunciar, questionar e provocar reflexão.

Pode parecer que estou usando o espaço da coluna como um diário, mas na verdade estou usando a minha vida, as minhas experiências e meu lugar de fala, conquistados com muito trabalho, para plantar uma sementinha de reflexão que te convida ao reposicionamento, mudança de mentalidade, novas atitudes, até que consigamos mudar em nós, mudar na criação de nossos filhos, mudar nossa família e enfim nossa sociedade. Parece utopia, mas toda grande revolução, toda mudança um dia pareceu impossível.

Sem filtro, o que eu tenho para dizer hoje é: Que bom estar viva. Mas melhor ainda é poder transformar minha voz em eco daquelas que foram silenciadas e em um chamado para que a sociedade não aceite mais esse ciclo de apagamento, seja na política, seja nas estatísticas de violência.

Daigleíne Cavalcante é jornalista, mentora em comunicação, editora-chefe adjunta e colunista do Portal Acre.

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Daigleíne Cavalcante

Daigleíne Cavalcante é jornalista com 17 anos de experiência, palestrante, mentora e estrategista em comunicação e oratória.

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