Rio Branco, 26 de outubro de 2025.

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A Ponte da Sibéria, em Xapuri: o sonho que venceu a descrença e virou realidade – Por Raimari Cardoso

Obra deve ser inaugurada na próximo dia 18 de novembro em Xapuri: Foto Pedro Devani/Secom

Há sonhos que persistem mesmo quando o tempo parece conspirar contra eles. Sonhos que resistem às ironias, ao ceticismo e à descrença dos que veem o progresso como uma extravagância fora de lugar. Prestes a ser inaugurada, a ponte sobre o Rio Acre, que liga o centro de Xapuri ao bairro Sibéria, é um desses sonhos. Durante décadas, ela existiu apenas como um desejo coletivo, uma esperança guardada nas duas margens do rio.

As promessas pela sua construção nunca passaram de sussurros e vozes esparsas que se dissipavam com as trocas de governo e o esquecimento político. Somente com a chegada do governador Gladson Cameli ao comando do Estado, em 2019, é que o sonho encontrou ação efetiva, decisão e compromisso real com a sua concretização. Naturalmente, o ceticismo prosseguiu, mas com o passar do tempo os pilares da ponte ergueram-se do chão e deram lugar à esperança.

O bairro Sibéria é historicamente um espaço habitado por famílias trabalhadoras, seringueiros e descendentes de comunidades tradicionais. O nome da comunidade pode ser casual, mas ele expressa, de certa forma, a sensação de isolamento que seus moradores enfrentam há décadas. O acesso ao centro de Xapuri depende, desde sempre, de pequenas embarcações, as catraias e balsas, o que faz o deslocamento cotidiano difícil, especialmente em períodos de cheia ou estiagem severa.

Na linha do tempo da incessante luta pela ponte, houve sempre uma ambiguidade de sentimentos a dominar a população: as pessoas não deixaram de sonhar, mas aprenderam a olhar com cautela as falas políticas a respeito do assunto. Em textos e reportagens sobre o tema, é comum perceber um tom de melancolia e resistência, onde o povo de Xapuri reafirma seu desejo de progresso sem abrir mão da memória e da identidade local.

A tão sonhada ponte simboliza, portanto, muito além de uma estrutura física, muito mais do que toneladas de aço e concreto: ela representa integração, dignidade e igualdade de oportunidades. A travessia do rio é, para muitos, uma metáfora da distância social e econômica que ainda separa os dois lados da cidade.

A ponte sobre o Rio Acre não será apenas um marco urbanístico, mas também um gesto de reconciliação com o próprio tempo histórico de Xapuri, cidade marcada pela luta de Chico Mendes e por um legado de resistência amazônica, mas que também enxerga com otimismo outras atividades como a pecuária e a agricultura familiar que já deu ao município o título de melhor café do Acre em 2025.

Para muitos, a obra tem o valor de honrar o passado e projetar o futuro: ligar o centro histórico ao bairro Sibéria seria unir também as duas faces de Xapuri: a tradicional e a contemporânea, a que vive do  extrativismo sustentável e a que busca novas formas de desenvolvimento.

Com a ponte, haverá melhora imediata na mobilidade urbana e rural, acesso mais rápido a serviços públicos (como saúde e educação) e fortalecimento do comércio local e do escoamento da produção agrícola. Além disso, o turismo — já impulsionado pela história de Chico Mendes — poderá se beneficiar da melhor integração das áreas urbanas.

Mas, mais do que tudo, a ponte será uma espécie de “obra de reparação” com os moradores da Sibéria, que durante décadas foram vistos como cidadãos à margem do cenário social local. O sonho da ponte de Xapuri é, na essência, o sonho de uma cidade que busca conectar-se consigo mesma. É o desejo de atravessar não apenas um rio, mas as barreiras históricas de desigualdade e esquecimento. De olhar de uma margem à outra e enxergar um mesmo horizonte de possibilidades.

É preciso, contudo, compreender que a ponte — embora monumental em significado — não é a redenção de Xapuri. Ela representa um avanço histórico, mas não encerra as carências que o município ainda enfrenta. A cidade precisa continuar sonhando e lutando por obras que consolidem seu desenvolvimento: um hospital moderno, adequado à realidade local; projetos de urbanização e saneamento; e políticas públicas capazes de garantir qualidade de vida e oportunidades para todos. A travessia, portanto, não termina com a ponte. Ela apenas começa.

Raimari Cardoso é jornalista. Atualmente exerce a função de Diretor de Comunicação na Prefeitura de Xapuri. 

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