Em nota divulgada nesta quarta-feira, 29, o Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed/AC), manifestou repúdio e preocupação pela forma que alguns veículos da imprensa local têm tratado o caso do bebê José Pedro, que veio á óbito nesta segunda-feira, 27. O caso repercutiu na mídia acreana e nacional após o recém-nascido quase ter sido enterrado ainda com vida no dia 25 de outubro, após ter sido declarado morto de forma errônea.

Segundo a declaração, algumas das manifestações possuem forte julgamento moral e acusações precipitadas, e que ferem o princípio constitucional da presunção de inocência. “O objetivo não parece ser o de buscar justiça ou consolar a família enlutada, mas o de transformar um episódio doloroso em espetáculo e promover uma execração pública das médicas envolvidas, antes mesmo de qualquer apuração técnica e isenta dos fatos”, diz trecho.
Apesar de não citar sites ou emissoras, nem mesmo nome de jornalistas, a nota ainda acrescenta que alguns profissionais teriam exigido que as profissionais se manifestassem de forma pública. “[…] insinuando que o silêncio equivaleria à culpa. Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família como as médicas sofrem com a perda de uma vida”, reforçou.
O sindicato destacou que a Medicina não é uma ciência exata e que, infelizmente, um desfecho trágico não significa, por si só, erro ou negligência, mas ressaltou falhas precisam ser devidamente apuradas e que qualquer acusação antecipada gera prejuízos emocionais graves. “Causa perplexidade que parte da imprensa tenha optado por expor publicamente os nomes das médicas, submetendo-as a um julgamento social devastador e a um sofrimento emocional de proporções incalculáveis”.
Confira a nota na íntegra
NOTA À SOCIEDADE CIVIL
O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) vem a público manifestar profunda preocupação e repúdio à forma como parte da imprensa local e alguns atores políticos têm tratado o lamentável episódio envolvendo a declaração de óbito de um recém-nascido prematuro extremo em Rio Branco.
O objetivo de certas manifestações públicas — carregadas de acusações precipitadas e julgamentos morais — não parece ser o de buscar justiça ou consolar a família enlutada, mas o de transformar um episódio doloroso em espetáculo e promover uma execração pública das médicas envolvidas, antes mesmo de qualquer apuração técnica e isenta dos fatos.
Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos, inclusive àqueles injustamente acusados.
Alguns comunicadores chegaram ao absurdo de exigir que as profissionais viessem a público se justificar, insinuando que o silêncio equivaleria à culpa. Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família quanto as médicas sofrem com a perda de uma vida.
É necessário recordar que a Medicina não é uma ciência exata. O desfecho indesejado de um caso não significa, por si só, erro ou negligência. Quando falhas acontecem — e são devidamente apuradas — elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de preservar vidas.
Causa perplexidade observar que parte da imprensa, que com frequência preserva a identidade até de acusados de crimes graves, neste caso tenha optado por expor publicamente os nomes das médicas, submetendo-as a um julgamento social devastador e a um sofrimento emocional de proporções incalculáveis.
Perguntamos: alguém se perguntou se o silêncio dessas profissionais não é, na verdade, fruto do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente antes mesmo de qualquer processo ético ou judicial?
A sociedade, infelizmente, costuma lembrar dos médicos apenas nos momentos de tragédia. Pouco se fala das vidas salvas, dos plantões exaustivos, dos sacrifícios pessoais e familiares que fazem parte da rotina de quem se dedica a cuidar.
Mas basta uma suspeita — ainda que não comprovada — para que recaia sobre o médico um peso desproporcional de críticas e acusações. Nenhuma outra categoria é tão cobrada, tão exposta e tão pouco compreendida.
O Sindicato dos Médicos do Acre reafirma sua solidariedade e apoio incondicional às médicas envolvidas, profissionais de conduta ilibada e de reconhecida competência técnica. Reiteramos também nosso respeito e pesar à família do recém-nascido, que vive um momento de dor incomensurável.
Por fim, conclamamos a imprensa, os gestores públicos e toda a sociedade a agir com responsabilidade, prudência e empatia, permitindo que os fatos sejam devidamente apurados pelas instâncias competentes, sem julgamentos sumários ou execração pública.
Rio Branco, 29 de outubro de 2025
Sindicato dos Médicos do Acre








