Rio Branco, 1 de novembro de 2025.

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Sindicato dos Médicos critica postura de parte da imprensa acreana e afirma que morte de bebê não pode ser transformada em espetáculo

Em nota divulgada nesta quarta-feira, 29, o Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed/AC), manifestou repúdio e preocupação pela forma que alguns veículos da imprensa local têm tratado o caso do bebê José Pedro, que veio á óbito nesta segunda-feira, 27. O caso repercutiu na mídia acreana e nacional após o recém-nascido quase ter sido enterrado ainda com vida no dia 25 de outubro, após ter sido declarado morto de forma errônea.

Sindmed manifestou apoio às profissionais que tiveram os nomes expostos. Foto: Reprodução

Segundo a declaração, algumas das manifestações possuem forte julgamento moral e acusações precipitadas, e que ferem o princípio constitucional da presunção de inocência. “O objetivo não parece ser o de buscar justiça ou consolar a família enlutada, mas o de transformar um episódio doloroso em espetáculo e promover uma execração pública das médicas envolvidas, antes mesmo de qualquer apuração técnica e isenta dos fatos”, diz trecho.

Apesar de não citar sites ou emissoras, nem mesmo nome de jornalistas, a nota ainda acrescenta que alguns profissionais teriam exigido que as profissionais se manifestassem de forma pública. “[…] insinuando que o silêncio equivaleria à culpa. Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família como as médicas sofrem com a perda de uma vida”, reforçou.

O sindicato destacou que a Medicina não é uma ciência exata e que, infelizmente, um desfecho trágico não significa, por si só, erro ou negligência, mas ressaltou falhas precisam ser devidamente apuradas e que qualquer acusação antecipada gera prejuízos emocionais graves. “Causa perplexidade que parte da imprensa tenha optado por expor publicamente os nomes das médicas, submetendo-as a um julgamento social devastador e a um sofrimento emocional de proporções incalculáveis”.

Confira a nota na íntegra

NOTA À SOCIEDADE CIVIL

O Sindicato dos Médicos do Acre (Sindmed-AC) vem a público manifestar profunda preocupação e repúdio à forma como parte da imprensa local e alguns atores políticos têm tratado o lamentável episódio envolvendo a declaração de óbito de um recém-nascido prematuro extremo em Rio Branco.

O objetivo de certas manifestações públicas — carregadas de acusações precipitadas e julgamentos morais — não parece ser o de buscar justiça ou consolar a família enlutada, mas o de transformar um episódio doloroso em espetáculo e promover uma execração pública das médicas envolvidas, antes mesmo de qualquer apuração técnica e isenta dos fatos.
Essa postura fere frontalmente o princípio constitucional da presunção de inocência, garantia fundamental que se aplica a todos os cidadãos, inclusive àqueles injustamente acusados.

Alguns comunicadores chegaram ao absurdo de exigir que as profissionais viessem a público se justificar, insinuando que o silêncio equivaleria à culpa. Tal atitude apenas reforça a tentativa de espetacularizar a dor, ignorando que tanto a família quanto as médicas sofrem com a perda de uma vida.

É necessário recordar que a Medicina não é uma ciência exata. O desfecho indesejado de um caso não significa, por si só, erro ou negligência. Quando falhas acontecem — e são devidamente apuradas — elas deixam marcas profundas, sobretudo nos próprios médicos, cuja vocação e propósito sempre foram o de preservar vidas.

Causa perplexidade observar que parte da imprensa, que com frequência preserva a identidade até de acusados de crimes graves, neste caso tenha optado por expor publicamente os nomes das médicas, submetendo-as a um julgamento social devastador e a um sofrimento emocional de proporções incalculáveis.

Perguntamos: alguém se perguntou se o silêncio dessas profissionais não é, na verdade, fruto do medo, da dor e do trauma de já terem sido condenadas socialmente antes mesmo de qualquer processo ético ou judicial?

A sociedade, infelizmente, costuma lembrar dos médicos apenas nos momentos de tragédia. Pouco se fala das vidas salvas, dos plantões exaustivos, dos sacrifícios pessoais e familiares que fazem parte da rotina de quem se dedica a cuidar.
Mas basta uma suspeita — ainda que não comprovada — para que recaia sobre o médico um peso desproporcional de críticas e acusações. Nenhuma outra categoria é tão cobrada, tão exposta e tão pouco compreendida.

O Sindicato dos Médicos do Acre reafirma sua solidariedade e apoio incondicional às médicas envolvidas, profissionais de conduta ilibada e de reconhecida competência técnica. Reiteramos também nosso respeito e pesar à família do recém-nascido, que vive um momento de dor incomensurável.

Por fim, conclamamos a imprensa, os gestores públicos e toda a sociedade a agir com responsabilidade, prudência e empatia, permitindo que os fatos sejam devidamente apurados pelas instâncias competentes, sem julgamentos sumários ou execração pública.

Rio Branco, 29 de outubro de 2025
Sindicato dos Médicos do Acre

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