
Falar sobre pedofilia nunca será tarefa fácil, mas é extremamente necessária. Quando o assunto é a proteção de crianças e adolescentes contra predadores sexuais, uma verdade permanece inquestionável: o silêncio é o maior aliado do agressor.
Embora ainda seja um tabu em muitos lares e também nas escolas, não abordar o assunto se torna um aliado poderoso de pedófilos que contam com o constrangimento social que envolve o tema, para operar à sombra do silêncio, manipulando, ameaçando e confundindo a vítima.
Por isso, desde pequenas, as crianças devem aprender que o corpo delas lhes pertence. Que ninguém, absolutamente ninguém, nem mesmo pessoas conhecidas, pode tocar suas partes íntimas. Inclusive, que segredos sobre o corpo nunca devem ser guardados.
A informação empodera, orienta e ajuda crianças e adolescentes a reconhecerem situações de risco e a pedirem ajuda.
Essa semana, uma denúncia em uma escola particular de Rio Branco, sobre um zelador preso ao ser flagrado colocando o celular no banheiro das crianças com vídeo onde ele mesmo aparecia se masturbando, reacendeu um debate importante, que falar sobre abuso sexual infantil até pode ser desconfortável, mas evitar o tema com os filhos é permitir que o perigo cresça no silêncio.
Quando o assunto é criança, o diálogo é o maior escudo de proteção. É importante que as conversas aconteçam de forma natural e contínua, não como uma palestra assustadora. Conversar com os pequenos sobre limites, respeito ao corpo e segurança é uma das formas mais poderosas de prevenção.
Além disso, não basta uma conversa única, é preciso criar um espaço contínuo. Quanto mais natural for falar sobre o corpo, segurança e sentimentos, mais seguro o filho se sente para revelar algo que o incomodou.
Os predadores sexuais — ou pedófilos, são pessoas próximas, que estão sempre rondando os espaços onde querem fazer suas vítimas. Eles buscam se aproximar de crianças de forma estratégica e manipuladora. Raramente agem com violência imediata. Na maioria das vezes, constroem uma relação de confiança com a vítima, com a família e com a escola.
Hoje, o ambiente virtual é um dos principais meios usados por esses criminosos. Jogos online, redes sociais e aplicativos de mensagens são portas abertas quando não há supervisão.
Mesmo com diálogo aberto, fique atento a mudanças bruscas de humor, regressões, medo de pessoas específicas, insônia, isolamento, qualquer sinal merece atenção. Oriente sobre como buscar ajuda quando algo estranho acontecer, a procurar um professor, um parente de confiança ou ligar para o Disque 100, canal nacional de denúncia de abusos.
Mas, antes de qualquer coisa, mostre a criança que ela sempre pode contar e confiar em você, que nunca ficará bravo ou decepcionado se ela contar algo. A maioria das vítimas sente medo, culpa ou confusão. Quando a criança cresce sabendo que não é culpada por situações abusivas, ela tem mais coragem para pedir ajuda.
Vale lembrar, que a prevenção não é apenas responsabilidade da família. Escolas, igrejas, clubes e espaços públicos devem adotar políticas de proteção à infância, oferecer palestras e capacitar educadores para reconhecer e agir diante de possíveis abusos.
A proteção é um esforço conjunto. Famílias que dialogam formam crianças seguras. Escolas que abordam o tema com responsabilidade e pedagogia criam uma rede de proteção ainda mais forte. Quando todos falam sobre isso, o agressor perde espaço.
Pais e mães, tenham sempre em mente que conversar sobre abuso sexual não tira a inocência da criança, protege! O silêncio, sim, é perigoso.
Lane Valle é fonoaudióloga, jornalista e colaboradora do Portal Acre.








