Brasil no centro do mundo: IBGE lança mapa-múndi invertido e redefine perspectivas
Na era em que o mundo se reinventa com velocidade recorde, questionar paradigmas faz parte do progresso. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trouxe, nesta semana, um convite visual e simbólico para repensarmos as perspectivas: lançou oficialmente um mapa-múndi com o Brasil no centro e – grande ousadia cartográfica – com o Sul no topo da imagem.

O mapa como ferramenta de poder e identidade
Historicamente, o modo como enxergamos o mundo é também o modo como nos vemos nele. Desde Ptolomeu e sua “tradição” de colocar o Norte no topo até os mapas que hoje circulam em escolas e escritórios, a orientação cartográfica nunca foi neutra. Ela sempre carregou, mesmo silenciosamente, traços culturais, políticos e, principalmente, geopolíticos. O “norte para cima” consolidou e reforçou ideias de superioridade — Europa sempre ali, destacada, o que jamais foi casual.
O novo mapa do IBGE quebra essa lógica. O Brasil aparece no centro, o Sul no topo, e países como os integrantes do Brics, Mercosul, lusófonos e amazônicos ganham destaque. Mais que um produto, o mapa é uma declaração: o eixo do mundo pode e deve ser revisto, ainda mais em tempos em que o Sul Global ganha protagonismo. Não se trata apenas de virar o mapa “de ponta-cabeça”, mas de virar o próprio imaginário.
Mapa invertido: protesto, arte e afirmação política
Não é a primeira vez que se questiona o padrão cartográfico. Em 1943, o uruguaio Joaquín Torres-García sacudiu a cena artística latino-americana com seu “mapa invertido”, marcado por um protesto visual contra a centralidade (e superioridade) imposta pelo olhar europeu. Seu gesto ecoa ainda hoje, especialmente quando, como agora, o IBGE aposta em um produto que dialoga mais com afirmações contemporâneas do Sul Global do que com velhas tradições coloniais.
Segundo Nicole De Armendi, os mapas também “afirmam posições de poder e traçam redes globais”, função que, em 2025, o Brasil executa de modo exemplar: liderando o Brics, o Mercosul e com presença destacada na COP 30. O país deixa de ser apenas “parte do mapa” — ocupa o centro da nova geografia política.
Mais perto do futuro: tecnologia, eventos e indicadores
O lançamento integra o cenário de ativa participação brasileira no contexto internacional e abre alas para o Triplo Fórum Internacional de Governança do Sul Global, evento que reunirá autoridades, pesquisadores e sociedade civil para debater indicadores e temas estratégicos para o desenvolvimento e sustentabilidade na era digital. O fórum, sediado em Fortaleza em junho, coloca em pauta desafios e oportunidades do Sul Global – um passo coerente com o esforço simbólico de “centrar” o Brasil nos mapas.
Tecnologia a serviço de novas narrativas
Este movimento do IBGE mostra como a tecnologia e a ciência de dados são ferramentas não apenas de coleta, mas de construção (e reconstrução) de narrativas. Mapas digitais, sistemas de informação geográfica (SIG), dashboards interativos e visualizações inovadoras hoje permitem não só ver, mas também questionar o mundo de múltiplas maneiras.
O debate vai além da cartografia: estamos diante de uma virada epistemológica. Se as estatísticas e mapas moldam nosso entendimento do mundo, que tal começar a girar o globo — literalmente? Seja nas escolas, nos debates científicos ou nas rodas de conversa, ver o mundo por outro ângulo é fundamental para construir uma sociedade mais justa e plural.
Como adquirir e participar
O novo mapa-múndi está disponível para compra física e online via loja.ibge.gov.br. Quem passar pela sede do instituto no Rio de Janeiro pode aproveitar desconto especial. Dúvidas e informações pelo email: [email protected].
Uma ótima semana!