Rio Branco, 25 de maio de 2025.

Sem Fronteira

Opinião | Democracia e desmatamento: o que o Acre revelou ao mundo

Por Fredson Camargo

O encerramento da 15ª Reunião Anual do GCF Task Force, realizada na Universidade Federal do Acre (Ufac) na sexta-feira, 23 de maio, deveria ser um momento de celebração do compromisso internacional com o clima e as florestas. No entanto, o evento terminou com cenas de violência: manifestantes que criticavam as políticas ambientais do governo estadual foram agredidos por seguranças diante de autoridades de 11 países. As imagens, que circularam amplamente, mostram estudantes sendo arrastados e jogados ao chão. Um retrato preocupante do estado da democracia no Acre.

O paradoxo do discurso ambiental

De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o Acre foi o estado da Amazônia Legal que mais aumentou o desmatamento em 2024, com um salto de 39% em relação a 2023, totalizando 464 km² de floresta derrubada. Além disso, a degradação florestal, causada por queimadas e exploração seletiva, cresceu quase 1.000% no mesmo período.

Apesar disso, o governo estadual insiste em apresentar uma imagem de compromisso com a preservação. Notas oficiais destacam reduções pontuais no desmatamento em determinados meses, mas ignoram a tendência geral de aumento e a falta de políticas ambientais robustas e transparentes.

Reações e contradições

A resposta do governo ao protesto foi uma nota de repúdio, classificando os manifestantes como “desordeiros” e acusando-os de interesses políticos. O prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom, também emitiu uma nota de solidariedade ao governador, condenando a interrupção do evento por manifestantes ligados ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), o que chamou de desrespeitosa.

Mas houve também quem condenou a ação da segurança contra os jovens estudantes.

O vereador André Kamai (PT) também se posicionou: “O governo foi incapaz de lidar com uma manifestação de estudantes que primeiro não estão mentindo, eles estão manifestando sobre algo legítimo. […] Então pra mim aquilo é uma covardia. Aquilo ali é o reflexo do desastre que é o governo do Gladson nessa área.”

Democracia sem partido

O episódio escancara uma realidade preocupante: no Acre, a democracia parece ser tratada como uma concessão, não como um direito. A repressão a manifestações, especialmente em um evento que deveria simbolizar o diálogo e a cooperação internacional, revela uma intolerância alarmante à crítica e à participação cidadã.

É fundamental reconhecer que a democracia não pertence a um partido político ou a um grupo específico. Ela é um valor universal que deve ser defendido por todos, independentemente de ideologias. O uso da força para silenciar vozes dissonantes não apenas viola direitos fundamentais, mas também compromete a credibilidade do estado em fóruns internacionais.

O Acre, que deveria ser um exemplo de preservação e respeito à diversidade, mostrou ao mundo uma face autoritária e contraditória. É hora de repensar as práticas políticas e reafirmar o compromisso com uma democracia verdadeira, onde o diálogo e a crítica sejam não apenas permitidos, mas valorizados.

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