Bastam cinco minutos de conversa com o farmacêutico Miguel Freitas para ter duas certezas: Você está diante de alguém apaixonado pelo seu negócio e pela sua família.

Foram com essas certezas que a reportagem do Portal Acre encerrou quase duas horas de conversa com o empresário. Não espere conversar com um homem de negócios “frio”, que pensa e fala apenas em números, vendas e estoques. Miguel deixa claro que, ali, naquele lugar, é preciso ter mais que produtos para vender, é preciso pensar no próximo.
Miguel Freitas e a esposa, Natalhie Campos, são donos da Contém Vida, farmácia de manipulação, líder do mercado no Acre e referência no Brasil. Entre as mais de nove mil empresas do ramo no país, a Contém Vida está entre as 200 de maior faturamento. Mesmo assim, Miguel consegue traduzir que o espírito do empreendimento é muito maior que financeiro.
O início do farmacêutico que só queria saber de esportes
O amor pelo esporte vem de berço. Filho de pai nordestino, com mãe xapuriense, Miguel nasceu em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Seu pai tem uma história curiosa com o esporte. Miguel é neto de dois médicos renomadíssimos no Rio Grande do Norte. Seu pai fez cinco anos da faculdade de medicina, mas largou a profissão médica para ser professor de educação física, já que era apaixonado pelo voleibol.
“Quando fui fazer vestibular, pensava em algo na área da saúde, não teria outra área que não fosse saúde, porque era o que eu me identificava. O que eu gostava mesmo era jogar vôlei, jogava na escola, passava o dia jogando e tinha um irmão, mais velho, que já trabalhava com farmácia de manipulação e decidi fazer o curso.
Apesar de formado no início de 2007, Miguel revela que pensou em não seguir com a profissão. Se dedicou por vários meses em estudar para passar em um concurso da Polícia Rodoviária Federal. O cancelamento de uma prova foi a “virada de chave”.
“Quando eu me formei, não queria saber de farmácia. O ramo farmacêutico é um ramo que o salário não é muito bom, eu desisti e fui estudar para ser Policial Rodoviário Federal. Estudei bem, estava preparado, mas quando fui fazer a prova, ela foi cancelada. Aí eu fiquei desgostoso, tinha passado seis meses estudando. Chateado, fui trabalhar com meu irmão que já tinha uma farmácia”, revela.

A chegada ao Acre em 2008
Apesar de ter nascido em Natal, pelo fato da mãe ser acreana, Miguel sempre teve familiares e uma relação afetiva com o Estado. No entanto, nunca imaginou morar no Acre. A oportunidade surgiu quando no final de 2008, já decidido a ser um empreendedor no ramo farmacêutico, soube que havia uma farmácia para ser comprada em Rio Branco.
“A gente soube que tinha uma pessoa que queria vender uma farmácia aqui em Rio Branco e decidi vir. Quando cheguei e conheci o local, não gostei porque achava que não conseguiria montar do jeito que eu sonhava. Nesse tempo conheci a dona da Verde Vida e acabei comprando, junto com um primo, a farmácia. Nunca esqueci, dia 1º de setembro de 2008 assumimos o negócio”, lembra.
O empresário conta que o começo foi muito complicado, principalmente, pela falta de tecnologia da empresa. “Chegamos lá, a farmácia sem tecnologia alguma. Lembro que quando eu entrei a primeira vez, eu disse “meu Deus, não tem um computador nessa farmácia, tudo era feito naqueles fichários. Minha nossa, eu não tinha experiência nenhuma no ramo do empreendedorismo, mas sabia que precisava mudar aquela cultura”, revela.
Com uma empresa nova nas mãos, sem dinheiro para investimentos, Miguel ainda se aventurou no serviço público. Aprovado em concurso público, chegou a ser diretor de farmácia da recém inaugurada UPA do 2º Distrito. “Minha vida virou uma loucura, comecei a visitar clientes, trabalhar na UPA, em outro horário fazia manipulação em uma clínica, tudo porque sabia que não podia tirar nem um real da farmácia, porque não era possível ainda. Fiquei como funcionário público até 2015, quando resolvi pedir demissão e cuidar da empresa. Lembro que minha mãe ficou louca por eu deixar a estabilidade do emprego”, conta aos risos.
Um coisa curiosa para quem é morador de Rio Branco é que apesar de consolidada no mercado, a Contém Vida ainda é chamada, por alguns clientes, de Verde Vida, o primeiro nome. Miguel conta que a mudança foi “forçada”.
“Quando a gente percebeu que ia ser grande, começou a pensar na necessidade de registrar a marca. No processo de registro, descobrimos que já havia uma farmácia, no interior de Minas Gerais, que tinha mais de três décadas de atuação com o mesmo nome já registrado. Como era uma empresa familiar, que não tinha interesse em mudar o nome, começamos a pensar o que faríamos. Como tínhamos criado um formato de loja chamada Contém Vida, com contêineres espalhados na cidade, entendemos que era um nome muito forte porque “casava” com a nossa proposta e registramos.

Um dos momentos mais difíceis da saúde pública nos últimos anos foi um diferencial para Miguel e o ramo de farmácias de manipulação no Acre e no Brasil. A pandemia da Covid-19 fez com que a população conhecesse mais do trabalho realizado pelas empresas.
“No primeiro momento a gente se desesperou, como todo mundo, achando que o negócio iria “quebrar”. Acontece que como lidamos com saúde, foi quando a farmácia de manipulação começou a crescer, ao invés de decair, começou a faltar as coisas nas drogarias, na indústria farmacêutica, e as pessoas começaram a descobrir o que realmente nós éramos. No tradicional começou a faltar e nós começamos a fazer o álcool gel, algumas loções, medicamentos que não se encontravam nas drogarias. Na verdade, o período da pandemia foi importante para que a população conhecesse mais do setor da farmácia de manipulação”, explica
Sorriso que se transforma em lágrimas
A conversa segue em um ritmo “técnico” até o assunto ser a família. O semblante de Miguel muda rapidamente quando fala da esposa e do filho. Ao mencionar a importância da companheira e sócia, Nathalie Campos, e do filho, não consegue esconder a emoção. Casado há 15 anos, Miguel lembra que a esposa largou tudo para acompanhá-lo ao Acre.
“Muita dificuldade, muita dificuldade mesmo, sim, a gente convive desde os 15 anos de idade e ela resolveu largar tudo e vir realizar esse sonho comigo. Casamos em fevereiro de 2010, aliás, o pedido de casamento foi nada romântico, aconteceu no estacionamento do aeroporto. Casamos em fevereiro de 2010, morávamos em uma kitnetizinha em frente ao Banco Brasil do Bosque, que tinha um laboratório embaixo. A gente vivia dentro de um quarto e sala, se virando todo dia e eu tenho muito orgulho do que passamos juntos”, diz.

As lágrimas não conseguem ser evitadas quando Miguel fala do filho, João Miguel, de apenas 7 anos. Ao mencionar o legado que quer passar ao herdeiro, o empresário “desmancha”.
“O que quero é entregar algo para o meu filho, que é o amor da minha vida. Assim como eu tive a sorte de ter uma vida boa, com meus pais e minha mãe, hoje quero entregar algo pro meu filho, que não é dinheiro, que é valor, sabe? Que ele seja um homem bom, que ele seja uma pessoa que as pessoas se espelhem, como eu tenho tentado fazer, fazer com que minha esposa tenha cada vez mais orgulho de mim, que ele também tenha. Então, hoje meu propósito não está relacionado ao financeiro. É como eu falei, os ciclos vão mudando. Durante essas mudanças de ciclo, eu entendi que o dinheiro, ele não é nada além do que as consequências daquilo que você faz. Então eu tento procurar ser uma pessoa boa, ser uma pessoa do bem”, diz emocionado.
A acolhida que recebeu no Acre é um outro diferencial, apontado por Miguel, para ter conseguido deixar uma vida para trás no Rio Grande do Norte. “O acreano é muito parecido com o nordestino, a gente conversa cinco minutos e parece que é amigo há 30 anos. Se duvidar, ainda vai te chamar pra casa dele. Enfim, eu acho que isso facilitou. Meus amigos de 2008 que eu cheguei aqui, são os mesmos amigos que eu tenho até hoje e esse acolhimento conta bastante”.
Contém Vida está entre 2% de faturamento no ramo do país
O sucesso da Contém Vida pode ser mensurada em números.
Das cerca de 9 mil empresas espalhadas pelo país, a farmácia acreana fica entre os 2% que lideram em faturamento. Com duas lojas em Rio Branco e uma em Cruzeiro do Sul, com projetos de expansão para Rondônia, e empregando, diretamente, quase 60 colaboradores, a empresa já tem mais de 20 produtos de marca própria.
O empresário conta que dorme e acorda todos os dias com a missão de não permitir que a empresa perca o considera valores inegociáveis.
“Nós já demitimos bons vendedores por falta de envolvimento com nossos valores. Aqui a gente não contrata apenas por uma questão técnica, por venda, a gente contrata por comportamento. Então esse é um princípio básico pra gente. Você pode ser PHD, você pode ser relacionado com Deus e o mundo, mas se você não tiver o comportamento condizente com nossos valores e a nossa missão a gente não quer e isso é inegociável pra gente. É preciso entender que essa empresa não visa apenas lucro, que tratamos da saúde das pessoas e isso tem que vir em primeiro lugar”, afirma.
Sobre os planos e desafios do futuro, Miguel conta o que pensa para a Contém Vida nos próximos 10 anos.
“O que eu penso daqui a 10 anos? Eu penso em ficar ainda maior, me dedicar cada vez mais, mas sempre pensando primeiro no bem-estar da minha família, de quem está ao meu redor e das pessoas com quem convivo. Não sei quantas lojas, não sei se uma franquia, se cinco, dez, vinte novas lojas, mas o que quero é está feliz e ser reconhecido como alguém que tenta fazer sempre o bem”, finaliza.

















