Rio Branco, 29 de junho de 2025.

ALEAC

Acre mantém escolas ativas em comunidades isoladas

Em muitos lugares da Amazônia, o tempo é medido pelas cheias dos rios e a distância se conta em horas de barco. No Acre, essa lógica se reflete também na educação. Para garantir o direito de crianças e jovens à escola, o estado construiu um caminho próprio, respeitando a geografia, os ciclos da natureza e a cultura local.

Escola rural no interior do Acre: Foto Mardilson Gomes/Secom

Dados do Censo Escolar de 2024 revelam que o Acre é o estado com o maior percentual de escolas de pequeno porte no Brasil. Das 609 escolas estaduais, 224 possuem até 50 alunos. Longe de ser um problema, os números evidenciam uma escolha política: manter viva a escola, mesmo nos locais mais distantes da floresta.

“Manter uma escola ativa com 15, 20 ou 30 alunos, em um seringal ou em uma aldeia, não é uma escolha de custo. É uma decisão política pela permanência, pela identidade e pela dignidade dessas comunidades”, destaca o secretário de Estado de Educação e Cultura, Aberson Carvalho.

A maioria dessas escolas pequenas está localizada em áreas rurais (131) e comunidades indígenas (92), onde o deslocamento diário seria inviável para estudantes e professores. Em muitos casos, uma única escola precisa se subdividir em vários anexos espalhados pela floresta, funcionando como ramificações da sede principal.

É o caso das escolas Maria Lúcia da Costa Moreira, do povo Nawa, e José Batista Diniz, do povo Nukini, localizadas em Mâncio Lima, extremo oeste do Acre, acessíveis apenas por rios e igarapés. Para que algumas carteiras novas chegassem a essas escolas, foi preciso uma verdadeira expedição fluvial, navegando pelo Rio Japiim, pelo Rio Moa e por igarapés como o Novo Recreio e o Paraná.

Esse trabalho é coordenado pelo Programa Caminhos da Educação do Campo, criado pela atual gestão da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE). A estratégia foi pensada justamente para atender a essas realidades específicas da Amazônia, com escolas multisseriadas e anexos que garantem o acesso à educação sem que os alunos precisem enfrentar grandes distâncias diariamente.

“O anexo é uma estrutura física em comunidades isoladas, mas a matrícula e a certificação dos alunos são feitas pela escola-polo. Em Mâncio Lima, por exemplo, a Escola Maria Firmino tem mais de 15 anexos espalhados por comunidades ribeirinhas”, explica Maria Clara Siqueira, chefe do Departamento de Educação do Campo da SEE.

O programa oferece formação continuada para os professores, planejamento específico e acompanhamento pedagógico constante. Mas mesmo com os avanços, os desafios seguem presentes. Custo logístico elevado, dificuldades de transporte e infraestrutura precária em algumas unidades fazem parte da realidade diária.

“Na época das chuvas, muitos professores literalmente se mudam para as comunidades onde lecionam. É a única forma de garantir a continuidade das aulas”, conta o secretário.

Nos últimos anos, o governo investiu em melhorias como entrega de fardamento escolar gratuito, material didático e alimentação reforçada para estudantes por meio do programa Prato Extra. Mas casos recentes de precariedade estrutural em algumas escolas mostraram que ainda há muito a ser feito.

“Não negamos as dificuldades. Episódios como o da escola anexo em Bujari mostram que precisamos acelerar ainda mais os investimentos. A Amazônia exige soluções criativas, persistentes e adaptadas à realidade. E é isso que estamos fazendo”, afirma Aberson.

O desafio é grande, mas o compromisso com a educação nas florestas acreanas continua sendo reafirmado diariamente. Para as crianças que vivem entre rios e igarapés, cada escola erguida é mais do que um prédio — é um sinal de que o futuro também pode nascer na beira do rio.

Com informações da Agência de Notícias do Acre

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