O jovem jornalista William Klismann L. Azevedo, de 22 anos, sempre quis produzir uma revista. Com a chegada do fim da graduação, em 2024, viu no projeto experimental do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), a oportunidade de dar forma a sua ideia pioneira, a primeira revista voltada ao público gay de Rio Branco, a Sou + Eu.
Em entrevista ao Portal Acre, o comunicador relata que a ideia começou um tanto abstrata, sem um público definido, até que decidiu levar como pauta suas próprias vivencias como um homem fora dos padrões estabelecidos pela sociedade.
“Levei em consideração a minha vivência como uma pessoa dissidente, ou seja, um homem gordo, que mora em uma região periférica, que reside na região Norte e me fiz esse questionamento. Eu não vejo pessoas como eu, um jornalismo voltado para pessoas similares, e se eu não consigo ver isso sendo produzido, por que não eu mesmo fazer?”, explica.
William Klismann também falou sobre o conteúdo de sua revista, que dialoga diretamente com homens gays e destrincha temáticas importantes para a comunidade. Em sua fala, o jovem manifesta o desejo de ampliar a abordagem para os demais municípios do estado e não se prender somente a capital acreana. “Nessa primeira edição, eu falei exclusivamente sobre a comunidade de Rio Branco, mas posteriormente gostaria de falar com o público gay de todo o estado, porque há pouco espaço para nós, tanto na mídia tradicional como na alternativa. No caso, a mídia para os homossexuais no estado é inexistente”, relata o comunicador.
A revista é uma publicação de variedades e conta com seis editorias, que abordam questões de saúde, comportamento, cultura, reportagens especiais e uma editoria de destaque para pessoas LGBTQIA+ que lutam pelos direitos da comunidade.
“Nessa edição, na reportagem especial, eu abordei a adoção por casais homoafetivos e achei interessante criar uma editoria para destacar sujeitos que lutam pelos direitos da população LGBTQIA, e trouxe a figura da Erika Hilton, a deputada federal, que consegue chamar a atenção da comunidade”.
Uma das editorias é voltada para a fotografia, onde William Klismann trabalha para desconstruir a lógica de corpo padrão e virilidade imposta nos corpos masculinos. “Tanto que meu foco nem foi no corpo, eu trouxe a questão do sorriso, a diferença do sorriso, então eu fotografei indivíduos da capital e foi muito interessante perceber a beleza em um lugar diferente”.
Até o momento, a revista conta somente com a edição piloto, mas o jornalista afirma que gostaria de seguir com a revista, mas que questões de financiamento e pesquisa impactam a produção.
“Eu acredito que a revista tenha público, que vai gostar e tem interesse, ver e se sentir representado, mas isso só pode ser feito com financiamento. Não tenho capital para manter uma equipe ou conduzir o projeto sozinho, que também requer gastos. E também tem a questão da pesquisa, de conhecer mais o meu público, porque a edição piloto não é tão aprofundada em dados aqui da capital, porque acredito que esses dados nem existam”.
O comunicador chamou a atenção da importância da mídia tradicional e alternativa viabilizar projetos como a Sou + Eu.
“A mídia tradicional, que fala de forma mais abrangente, tem sua importância ao poder mostrar para o público produtos e ações que vão contra todo um histórico de marginalização, de uma representação jocosa, e a mídia alternativa também pode quebrar padrões, porque não é só falar, é preciso demonstrar que dentro desse próprio grupo, existe uma diversidade, uma minoria que não é representada, é preciso saber que há homens gays gordos, negros, com deficiência, é um grupo diversificado, não podemos falar só a perspectiva do homem branco, classe média, musculoso, que se assemelha muito ao padrão heterossexual. Não, há toda uma diversidade e é preciso dar atenção a isso”.
A edição piloto da revista Sou + Eu, em formato digital, será disponibilizada em breve para a população acreana
