Rio Branco, 26 de junho de 2025.

Contem Vida

MPAC realiza palestra sobre o papel dos meios de comunicação no combate à violência de gênero e revitimização

A doutora em Direito Penal, Alice Bianchini, foi a palestrante Foto: Gabrielly Martins

O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) realizou, na tarde desta quinta-feira, 26, a palestra “O papel dos meios de comunicação no combate à violência de gênero e revitimização”, ministrada pela escritora e doutora em Direito Penal pela PUC/SP, Alice Bianchini, na Sala de Sessões da instituição. O encontro reuniu jornalistas e representantes de entidades atuantes na casa com o intuito de debater a responsabilidade da mídia e os cuidados necessários no momento de noticiar casos de feminicídio e de violência contra meninas e mulheres.

A cerimônia contou com a presença do promotor de Direitos Humanos do MPAC, Thalles Ferreira, da procuradora de Justiça e coordenadora do Observatório de Violência de Gênero (OBSGênero), Patrícia Rêgo e da coordenadora da Associação de Mulheres Negras no Acre, Almerinda Cunha.

No momento de abertura do evento, a procuradora Patrícia Rêgo garantiu que o momento de reflexão é extremamente importante para salvar vidas.

“Sabemos que este é um tema complexo, mas queremos propor uma reflexão sobre a contribuição da imprensa, sobre a força que ela possui no combate à violência de gênero e na disseminação de informações qualificadas que podem salvar vidas. É fundamental evitar a desinformação, um problema que tanto nos aflige, e combater o discurso de ódio, que atua como um dos motores da violência de gênero. Além disso, é necessário repensar a forma como a imprensa divulga estas notícias”, disse.

Como parte da programação, o promotor de Direitos Humanos e coordenador adjunto do Centro de Atendimento à Vítima (CAV), Thalles Ferreira, realizou a apresentação da pesquisa realizada pelo Observatório, que analisou como os meios de comunicação noticiaram casos de feminicídio entre 2018 e 2024.

Segundo o levantamento, das 309 matérias selecionadas e analisadas, 51% (108) omitiram o termo “feminicídio” e apenas 8% do material citavam a Lei Maria da Penha. Os dados evidenciam que ainda há uma deficiência no processo de reconhecer casos de violência contra mulheres como feminicídio e de levar informações robustas para a sociedade, o que contribui para a diminuição do índice de violência.

Para o promotor, o momento simboliza um convite para que a imprensa atue junto com os órgãos responsáveis. “Nós decidimos convidar a imprensa para ser nossa parceira nessa missão de zerar os casos de feminicídio no nosso estado, porque não há nada que justifique um número tão elevado de violência contra as mulheres. Os números nos chocam e nos lembra de que esse conceito de banalização do mal tem se concretizado, infelizmente, a cada dia”, declarou.

A palestrante destacou a importancia de noticiar com responsabilidade Foto: Gabrielly Martins

De acordo com a palestrante Alice Bianchini, é importante estar atento aos detalhes e não responsabilizar as mulheres por suas mortes. Em sua fala, Bianchini reforçou a importância de entender os gatilhos que levam ao feminicídio para que atitudes passionais não sejam levadas como motivos.

“A linguagem pode corromper o pensamento e a forma como colocamos a notícia pode corromper a percepção que a sociedade tem sobre o crime. Sempre encontramos a forte ideia de que a motivação do crime foi o ciúme, foi por não aceitar o fim do relacionamento, mas isso pode trazer a ideia de que o autor “amava demais” e até diminuir a responsabilidade de quem fez algo tão grave”, explica a palestrante.

Alice Bianchini ainda acrescenta que é importante não inverter os papéis e noticiar com extrema responsabilidade.

“Não podemos colocar o peso na mulher, mas sim deixar claro que o homem é quem matou, o homem quem cometeu feminicídio. A gente precisa das notícias, mas para sensibilizar e não para escandalizar. É muito importante a forma como a gente acaba trazendo essas notícias e principalmente, as imagens que estão nessa notícia”, acrescentou.

A palestra reforçou a necessidade de financiamento de políticas públicas voltadas ao bem-estar e segurança das mulheres. “Se a gente quer diminuir a desigualdade de gênero, precisamos de políticas públicas, e para isso, é necessário entender como vamos fazer isso e como elas serão implementadas. Mas para isso, precisamos de dinheiro. A mídia também tem esse papel, de divulgar que não é enviado dinheiro para desenvolver políticas para mulheres”, aponta Bianchini.

Compartilhe em suas redes

Sem Fronteira