Rio Branco, 8 de junho de 2025.

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‘Nadando com Sara’: projeto promove atividades que proporcionam inclusão e sorrisos em crianças atípicas em Rio Branco

Proporcionar lazer e qualidade de vida para crianças atípicas. Esses são os principais objetivos do projeto ‘Nadando com Sara’ que oferece práticas de aquaterapia, hidroterapia, natação e recreação aquáticas totalmente gratuitas.

 O programa foi criado em 2018 e surgiu a partir do sonho de uma criança em tratamento no Hospital do Câncer do Acre (Unacon), a Sara.

Crianças se divertem durante atividade do projeto na piscina da AABB: Foto Luís Oliveira/Portal Acre

Ela tinha o sonho de descer no toboágua da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). “Realizamos o sonho dela e um mês depois, a Sara faleceu”, conta, emocionado,  o presidente do Instituto Peteleco, responsável pelo projeto, Davinei Cunha.

Atualmente, 87 famílias fazem parte da iniciativa e as atividades ocorrem quinzenalmente, às quartas-feiras, de 13h às 17h. Com a característica de ser rotativo, e uma lista de espera com mais de 60 famílias que querem participar, o programa já contemplou mais de 250 famílias.

“As crianças vêm, passam um período e depois voltam às atividades normais e, então, abrem vagas para as próximas famílias. Nós queremos promover qualidade de vida e dar a possibilidade dessas crianças voltarem a ser crianças, mediante um tratamento como esse. E o projeto abraça essas crianças e as mães que estão acompanhando que também acabam participam disso. Então mães que não sabiam nadar, hoje já nadam por conta do projeto. Isso é importante para elas”, destaca Davinei.

No projeto, também são disponibilizadas roupas de banho e equipamentos como óculos e toucas de natação para as crianças realizarem as atividades. Além disso, alguns responsáveis recebem declarações para levarem para as escolas, já que seus filhos estudam à tarde. Neste caso, são contadas como atividades extracurriculares.

As atividades são desenvolvidas em parceria com a AABB, que sede, gratuitamente, a piscina para a criançada. O programa atende crianças em tratamento de câncer, com Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou que estudam na escola Dom Bosco. Davinei explica o que é necessário para participar da iniciativa.

“As crianças para participarem do projeto tem que ser laudada, tem que ser crianças do Mundo Azul, crianças do Unacon ou até mesmo do Colégio Dom Bosco. Então, por conta da limitação de vagas, é somente esse público que nós atendemos aqui no projeto. Além disso, temos crianças que estão desde o primeiro ano do projeto com a gente, mas quando alcança a idade de 16 anos, infelizmente não tem como continuar. Eles já aprenderam o que tinha para aprender e então abrem vagas para mais crianças”, ressalta.

Para participar do ‘Nadando com Sara’ é necessário procurar a direção do Instituto Peteleco no próprio estabelecimento, ou através das redes sociais como Instagram (@institutopeteleco) e WhatsApp/telefone (68 99998-6043). A partir desse contato, a equipe realiza a inscrição após receber todos os documentos necessários.

Melhora na socialização

A prática das atividades desenvolvidas no projeto trouxe resultados bastante positivos na vida dos filhos da Elizabeth Leitão. Ela é mãe de Weyma Sophia, de 12 anos, e do Asaf Samuel, de 10, e conta que conheceu o projeto através do Mundo Azul, onde ambos fazem terapia.

“MInhas crianças melhoraram em tudo”, conta Elizabeth : Foto Leônidas Badaró

“Me falaram sobre o Peteleco e eu conversei com ele [Davinei], que de prontidão me atendeu. Eu falei sobre a minha situação, que ela [Sophia] ia ao Mundo Azul e lá é só até 12 anos, e que precisava demais da atividade física. E ele disse que ainda tinha vaga. Não demorou e logo colocou na natação. Eu fiquei feliz e perguntei se também podia colocar o Asaf. Eu tenho três filhos autistas, porém o mais velho não quis participar”, detalha.

Para ela, o principal benefício que o projeto trouxe para os filhos está na questão da socialização com outras pessoas, ajudando inclusive no desenvolvimento escolar. Além disso, os exercícios também permitem que as crianças gastem bastante energia e tenham uma rotina de sono melhor.

“Isso me ajudou bastante, porque antes eles não tinham controle da ansiedade, e hoje têm. Até a insônia que eles tinham melhorou, com o sono agora se estabilizando. Além disso, aprenderam a socializar com outras pessoas. Aqui, nós, mães, ficamos próximas, e eles fazem amizade com pessoas parecidas com eles, com as mesmas características. Em outros lugares, isso é mais difícil. Eles também se desenvolveram na escola e têm mais domínio próprio. Antes, se irritavam facilmente porque não conseguiam se socializar, mas tiveram um avanço muito grande. Fiquei muito feliz, porque encontrei uma forma de ajudá-los, e a mim mesma também, pois precisava desse suporte”, comenta.

Ainda de acordo com ela, as crianças sentem a pressão do preconceito de outras pessoas. Mas no projeto, eles não são acolhidos somente pelos coordenadores e voluntários, mas também pelas famílias que passam pelas mesmas situações.

“Ela [Sophia], por exemplo, criou um vínculo muito forte com o Matheus, um menino que também participa do projeto. E agora, ela também percebe outras crianças na escola e as ajuda. Ela tenta acolher quem percebe que não é aceito pelos outros. Antes, ela não tinha essa percepção, mas agora observa, ajuda e protege quando vê alguma injustiça”, ressalta Elizabeth.

Erlandia Souza também é uma das mães que está no projeto. Seus filhos Enzo Rafael, de 8 anos, e Pedro Kaleb, de 4, estão participando pela quarta vez das atividades do programa. Ela também destaca que a socialização dos filhos teve mudanças significativas.

“Quando chega na véspera do dia de natação, esses meninos não conseguem nem dormir. Eles já melhoraram bastante, porque o meu pequeno, por exemplo, não gostava de se socializar com ninguém. Ele não falava nada, agora já fala bastante, e até mais do que deve. Então, a questão de se desenvolver mais, com tudo, e em todos os aspectos, é muito importante”, destaca.

Atualmente, 87 famílias são beneficiadas com o projeto: Foto Luís Oliveira/Portal Acre

Para ela, é gratificante ver os benefícios que a iniciativa traz para as crianças. “A gente como mãe fica muito feliz, porque vemos a evolução deles. É ruim ver os nossos filhos não se desenvolverem e tentarmos ajudar de outras formas, mas não conseguir. E a natação ajudou bastante. Tanto aqui como nas outras terapias, porque, como eu falei, ele [meu filho caçula] não falava nada, mas agora já se comunica e consegue falar com as pessoas”, diz Erlandia.

Segundo Elizabeth, o programa é um grande apoio, já que, quando buscam oportunidades em outros lugares, quase sempre encontram portas fechadas. “É muito difícil a situação dos nossos filhos, pois o mundo não está preparado para recebê-los. Se eu buscasse outras terapias ou fisioterapia, teria que pagar, e é difícil ter recurso para isso. E espero que esse projeto dure por muito tempo, porque não são só os meus filhos que precisam, mas muitas outras crianças também. Eles criaram um vínculo tão forte que, quando não podem vir, ficam ansiosos. Esse projeto ensina muito mais do que natação. O contato com a água, o movimento, tudo tem um impacto positivo”, conclui.

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