
Por Lane Valle
Há um ditado antigo que diz: “Só quem passa sabe a dor que carrega”. Refletindo sobre isso, talvez não haja lugar no mundo onde essa frase seja tão verdade quanto dentro de um hospital.
Atuando dentro do maior complexo de urgência e emergência do Estado, Pronto Socorro de Rio Branco, quantas lágrimas, gemidos e sofrimento pude presenciar. O bebê que chegou só com uma pequena falta de ar e logo teve que ser intubado. O pai de família que estava trabalhando quando sentiu uma forte dor no peito e foi parar na sala de emergência. Aquele jovem que voltava para casa e acabou se envolvendo em um acidente de trânsito e agora luta pela vida num leito de UTI.
A verdade é que as paredes de um hospital guardam histórias que nunca serão escritas em prontuários. Elas testemunham o silêncio pesado de quem espera, a fragilidade de quem sofre e a fé de quem acredita. Entre corredores frios e iluminação artificial, ecoam orações murmuradas em voz baixa, súplicas carregadas de esperança e lágrimas que se transformam em pedidos silenciosos.
Talvez lá, nessas paredes aparentemente inertes, que as orações mais sinceras já tenham sido proferidas de forma que nenhuma igreja testemunhou. São preces sussurradas em silêncio, com olhos fechados e mãos apertadas, vindas de corações que, naquele momento, só pedem por um pouco mais de tempo, um milagre ou simplesmente um suspiro de alívio.
É no meio das dificuldades que a nossa fé é provada, e é nos momentos difíceis que conhecemos a força da oração. Seja num corredor silencioso, na beira de um leito ou até mesmo no elevador, é comum ver pessoas olhando para o alto, mesmo sem saber ao certo onde está Deus, mas cuja fé sabe que Ele está ouvido.
São nos momentos das promessas feitas em troca de cura, das súplicas desejando o milagre, que até os mais incrédulos encontram em uma prece um refúgio íntimo, um diálogo invisível com algo maior do que a dor presente. “Na hora da dor, até o ateu reza”, já dizia o povo, e não por ironia, mas porque diante da fragilidade da vida, todos buscamos um colo maior que o nosso.
Não importa a religião: a oração que brota em um hospital é quase sempre uma linguagem universal. A linguagem da vida que pede por mais tempo, da saudade que implora por não nascer, do amor que não quer ou não sabe se despedir.
As paredes escutam o que muitas vezes nem os médicos ou o paciente conseguem ouvir. Ali, o pai pede forças para o filho, a mãe entrega seu coração em forma de prece, o amigo dobra os joelhos em silêncio. Cada quarto é um altar improvisado, cada leito uma arena de luta entre a ciência e a fé, entre o humano e o divino.
Hospitais não são apenas espaços de cura física, mas também de muita transformação interior. Lá dentro, muitas máscaras caem. O orgulho dá lugar à humildade. A correria do dia-a-dia cede à espera, e “quem tem pressa aprende a ter paciência quando a vida pede calma”.
É o cenário onde aprendemos, na prática, que “saúde é o verdadeiro tesouro” – e que, sem ela, o resto vira detalhe. As paredes dos hospitais não julgam. Elas apenas acompanham. Já testemunharam sorrisos de alívio, despedidas silenciosas, reencontros emocionantes e pequenas vitórias que, fora dali, talvez passassem despercebidas.
Porque, no fim das contas, como diz a sabedoria popular, “rezar não tira a dor, mas dá força pra suportá-la”. E talvez seja por isso que, se as paredes dos hospitais pudessem falar, contariam histórias de fé mais fortes que qualquer estatística. Histórias de gente que, mesmo diante do impossível, preferiu acreditar.
Lane Valle é fonoaudióloga, jornalista e colunista do Portal Acre.