
Com o intuito de incentivar a prática esportiva, o projeto “Pequenos Samurais” apresenta e promove o Jiu-Jitsu para crianças e jovens, de 4 a 19 anos, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, e residentes dos mais variados bairros, na capital acreana.
O projeto nasceu em 2016, no CT Valter Combate, e atualmente tem atuação em núcleos urbanos e rurais, nas regionais do São Francisco, Calafate, Mocinha Magalhães, Sobral, Cidade Nova, Belo Jardim e Polo Benfica. Neste mês de outubro, inclusive, a região do Cabreúva também recebeu um núcleo do projeto.
O “Pequenos Samurais” foi idealizado por Valter Silva, de 52 anos. Faixa preta em Jiu-Jitsu, o atleta conquistou três vezes os títulos de campeão mundial, americano e brasileiro. Além de ser campeão da Argentina e ter ido até ao Japão, Valter também possui 49 títulos e destaca que realiza o trabalho por amor.
“O projeto começou com a vontade de poder dar aula gratuita, quando eu ainda era faixa branca. Ao morar em Manaus, não tinha muitas condições de pagar academia e tive muita dificuldade financeira. Eu trabalhava e, na hora de treinar, tinha que limpar o tatame ou o banheiro. E esse foi um trajeto que, muitas vezes, eu vi: muitas pessoas que não conseguiam pagar e tinham que ir embora. Meninos com talento. Vendo aquelas situações, prometi que quando fosse faixa preta iria dar aulas gratuitas nas comunidades”, conta Valter sobre a vontade, bem inicial, de desenvolver o projeto.
O atleta desenvolveu um carinho pela causa. “Hoje vemos muitos talentos que não saíram de dentro de uma academia, mas sim de um projeto social”, destaca.
De acordo com Valter, o projeto abrange mais de 20 comunidades (bairros diretos) e cada núcleo conta com a atuação de parceiros da sociedade civil e do poder público, sendo totalmente gratuito a participação. Para participar, o responsável legal deve preencher a ficha de inscrição e de acompanhamento das atividades escolares.
“Quando as crianças entram e começam a fazer as atividades, recebem um uniforme: uma camisa amarela e bermuda preta, que são dadas a elas para poder pegar a movimentação do Jiu-Jitsu. Depois que passam a pegar as práticas, os movimentos, ganham o kimono. Então, este é só para o iniciante”, detalha sobre a vestimenta dos treinos no projeto.
As roupas, segundo Valter, são ofertadas de forma gratuita. “Assim que pegam os movimentos e começam as escolinhas de Jiu-Jitsu, eu dou o kimono. O kimono é gratuito até o momento que os alunos ficam com a gente, se vão embora, ou não vem mais, é necessário devolver para que possamos passar para outro”, explica
Os dias da semana, os locais e os horários das aulas são variados e dependem de cada núcleo. Valter comenta que, muitas vezes, os treinos acontecem entre às 14h e 18h30. A exceção é no fim de semana, onde as aulas começam a partir das 8h da manhã.

“Varia muito em todos os núcleos. Vimos a necessidade de variar os horários. Muitas vezes na semana é um lugar e depois é em outro. Tem núcleo a aula é uma vez por semana, em outros são três vezes por semana, e há vezes que é só no final de semana. Então, a escolha desses horários é porque as crianças estão saindo da aula e podem treinar de forma tranquila”, ressalta.
Dificuldades a serem vencidas
Um dos pontos abordados por Valter se refere às dificuldades que o projeto “Pequenos Samurais” tem ao realizar o trabalho com as crianças. O atleta detalha que a falta de apoio é um dos principais problemas que a iniciativa enfrenta.
“Falta apoio às pessoas hoje. Como eu digo, precisamos de mais motivação, não só dos esportes em geral, mas precisamos de mais apoio para fortalecer pessoas como nós que querem dar aula”, enfatiza.
O atleta compartilha que, em determinado momento, foi necessário fazer, infelizmente, a retirada do projeto de três bairros, pois não havia mais condições de apoiar e, até mesmo, chegar até as localidades.
“Me dói muito dizer isso, porque faz parte também da falta de apoio de órgãos municipais. Tivemos que parar de dar aula no João Eduardo II, porque não tínhamos um amparo. Comecemos dentro da mata, no escuro, e tivemos que parar de ensinar mais de 40 crianças, pois não estava com o meu tatame em cima de uma lona. As comunidades passam por situações muito delicadas, então temos que mudar. Eu sei que uma andorinha não faz verão só, mas tentamos fazer o que podemos”, compartilha emocionado.
Valter faz “bico” de segurança para ajudar as crianças e os seus alunos que também dão aula. “Hoje temos em torno seis instrutores, entre faixa roxa e faixa azul, que ajudam e estão no projeto contribuindo para o futuro dessas crianças”, diz.
Outra dificuldade enfrentada pelo programa se refere aos poucos recursos financeiros. “Temos também dificuldades financeiras. Muitas vezes, empurramos nossas próprias motos ou vamos de bicicleta para realizar os treinos. Apesar disso, a felicidade das crianças, o carinho e o amor que recebemos, não tem preço. É muito bonito de ver”, declara.

Ações importantes
Apesar dos obstáculos e dificuldades enfrentadas pelo projeto, algumas atividades são desenvolvidas com sucesso e mostram a capacidade que as crianças que participam da iniciativa possuem.
Entre as principais ações do projeto, podem ser listadas as três edições do Campeonato Pequenos Gigantes; as três edições do Campeonato Acre Fight; e a participação em campeonatos fora do Acre, como forma de fomentar o intercâmbio cultural e à promoção do Jiu-Jitsu.
O projeto “Pequenos Samurais” conta com mais de 1,8 mil crianças efetivas que participam das aulas e atividades desenvolvidas. Para acompanhar e saber mais informações sobre a iniciativa, basta acompanhar peloo Instagram @ctvaltercombateac.








