O projeto “Pedais para Novos Tempos” foi inaugurado nesta segunda-feira, 25, no Complexo Penitenciário de Rio Branco e tem como propósito a restauração de bicicletas e trabalhar as habilidades dos apenados com foco na reinserção na sociedade.
A iniciativa teve como investimento total R$ 22,6 mil destinado à estruturação física da oficina, a aquisição de materiais de construção, equipamentos e ferramentas especializadas para a manutenção de bicicletas, assim como a construção de um banheiro que servirá como espaço e apoio. A mão de obra da construção foi dos próprios apenados.
De acordo com o presidente do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), Marcos Frank, o projeto busca, além de promover o trabalho, incentivar as habilidades dos detentos.
“É um projeto de ressocialização que trata da recuperação de bicicletas. Além de promover o trabalho, nós exploramos habilidades que podem ser utilizadas quando cumprimento da pena. São alternativas que a pessoa passa a ter para quando houver o cumprimento da pena, ela obter um meio de subsistência”, destaca.
O diretor da Unidade Masculina, Caio Carvalho, explica que o projeto, em parceria com o Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), visa, além de oportunizar a ressocialização, devolver essas bicicletas para a sociedade com um preço mais justo, abaixo do valor de mercado, e em forma de doações para população carente e para familiares dos reeducandos que trabalham na oficina.
“Esses reeducandos poderão levar para fora do presídio, quando saírem, essa habilidade de fazer mecânica e restauração, para poder trabalhar quando saírem exatamente do cárcere. Isso visa profissionalizar o detento e também devolver à sociedade um bem com um recurso mais justo. Gera impacto positivo, melhora a qualidade de vida, esses presos que trabalham aqui demonstram felicidade a mais do que presos que estão reclusos. E fortalece o sistema de recuperação social e o restabelecimento deles na sociedade”, pontua.
Para a titular da Vara de Execuções Penais e Medidas Alternativas da Comarca de Rio Branco (VEPMA), a juíza Andréa Brito, o projeto representa uma importante ferramenta para pensar cultura, esporte e lazer como elementos de transformação social.
“Eu acredito que nós estamos com um novo olhar, nos debruçando sobre o sistema penitenciário do Acre. Então, o eixo cultura, o eixo esporte e o eixo lazer integram o direito da pessoa humana e precisam estar também nesses espaços de privação de liberdade”, detalha.
A juíza complementa. “Precisamos ter a compreensão de que a privação de liberdade é também uma oportunidade para que possamos levar cultura, capacitação, conhecimento, esporte, profissionalização e criar um ambiente de rotina saudável e o mais próximo possível da rotina que as pessoas terão em liberdade. Para que, ao saírem, possam compreender a importância de seguir desenvolvendo atividades positivas e termos, então, a redução da violência através da construção de uma sociedade livre, justa e menos desigual”, afirma.
Esperança para um novo recomeço
No início do projeto, seis detentos vão trabalhar de forma imediata na oficina. Contudo, mais 20 farão capacitações para que possam também restaurar e realizar as atividades de mecânica. O apenado L. R., de 35 anos, é um dos que já está aplicando suas habilidades no “Pedais para Novos Tempos”.
“A expectativa é grande, porque como eu cometi crime e fui condenado, fiquei muito abalado e com a expectativa baixa. Não sabia nem como eu ia recomeçar. E esse projeto está me ajudando muito, porque eu já tenho uma motivação de sair, abrir meu próprio negócio, cuidar da minha família e eu estou muito feliz”, conta.
Com experiência na área, L. R. detalha que pretende agregar, cada vez mais, conhecimento para seu futuro profissional.
“Eu já mexia com isso na rua. Tenho uma vasta experiência com pintura, lanternagem e o projeto das bikes foi só para agregar o meu conhecimento, para aumentar e expandir ainda mais. Tenho mais de 20 anos de profissão. E no projeto, estou ajudando os outros reeducandos a aperfeiçoar a área da pintura. Estou compartilhando meu conhecimento com eles e comigo, agregando e fortalecendo para sair e ter uma expectativa de vida melhor”, detalha.
Outro detento que também já participa do projeto é o J. C. A., de 50 anos. Um dos seus trabalhos, apresentado na inauguração do “Pedais para Novos Tempos”, foi um quadro quadro feito com tinta automotiva para a juíza Andréa Brito.
“Eu já tenho experiência. Trabalhava na rua com essa profissão e apresentei o início do projeto, para formação de projeto, e foi se adequando. O senhor Caio, ele deu a oportunidade, e a gente levantou, todos nós aqui da oficina. E com essa experiência, que estamos ganhando no dia a dia, é uma expectativa que temos para mudar a vida e nos ressocializar na sociedade. Eu espero que dê certo, como está dando certo há quatro anos”, finaliza.
