Por Lane Valle
Conexões que curam!
Vamos falar de experiências exitosas e quebrar tabus ao mesmo tempo? Nas salas de terapias, em muitos centros de reabilitação, sejam eles em âmbito particular ou no SUS, uma prática comum, em grande parte até uma exigência dos pais, é que as terapias com crianças ocorram de forma individualizada, apenas paciente x terapeuta.

Por falta de conhecimento ou mesmo pelo pensamento equivocado, algumas pessoas e até mesmo profissionais da saúde acreditam que juntar duas crianças ou dois terapeutas em uma única sessão se resume em concluir os atendimentos mais cedo ou, pior, “enrolar” na sala de terapia.
Sim, infelizmente há quem pense isso, ou por experiência com terapeutas ruins, ou por pura falta de conhecimento.
Mas você já parou para pensar como a terapia em grupo pode ser uma ferramenta fantástica para ajudar seu filho a lidar com seus desafios diários e se desenvolver de forma mais saudável?
Dentro do Transtorno do Espectro Autista, por exemplo, uma das dificuldades no desenvolvimento da criança é justamente em relação a comunicação, além de restrições em muitas outras habilidades, especialmente de interações sociais.
Um estudo de 2012 publicado no Journal of Child Psychology and Psychiatry constatou que relacionamentos de apoio entre pares e programas sociais estruturados podem ser fatores de proteção contra ansiedade, desafios comportamentais e sofrimento emocional em crianças com autismo.
Nas terapias em grupo, as crianças têm a oportunidade de interagir entre si, compartilhar experiências e sentimentos sob a orientação do terapeuta. Isso ajuda não somente no desenvolvimento das habilidades sociais, mas nas questões emocionais e comportamentais dos pequenos.
Na minha prática clínica, embora o protocolo de atendimento, a conduta e o tratamento sigam sendo individualizados, vi em diversos cenários e contextos, que a dinâmica da terapia fonoaudiológica em pares é uma ferramenta poderosa para ajudar as crianças a aprender habilidades sociais necessárias, como revezar-se, compartilhar e responder a sinais sociais.
Nas sessões em dupla, pude observar que essa interação, sem a figura única terapeuta x paciente, que naturalmente uma criança acaba estimulando a outra com apoio mútuo, uma vez que muitas aprendem por imitação (neurônios espelho). Além disso, a criança tem um olhar diferente, atenção sustentada para outra criança em relação a figura do adulto no setting terapêutico, pois entre elas é muito mais fácil compreender o que é preciso ser feito.
Vale destacar, que às vezes não só os trabalhos em dupla, mas também envolvendo três, quatro ou até mais crianças podem ter um impacto incrível em alguns tratamentos. A terapia em grupo é uma prática amplamente indicada para crianças que enfrentam ansiedade e estresse. O ensino de alguma habilidade por meio da interação da criança com TEA com seus pares é uma estratégia que faz parte do conjunto de práticas baseadas em evidências
Lembrando, também, que nem todos as crianças estão aptas a esse tipo de intervenção em pares ou em grupos. Cada criança, seja autista ou não, é única. Portanto, as intervenções devem ser adaptadas às suas necessidades e interesses individuais.
A combinação de estratégias personalizadas, intervenção precoce, terapias focadas e ambientes inclusivos cria um cenário propício para o desenvolvimento de habilidades e progresso.
E vocês, pais, também têm um papel importantíssimo nesse processo. Podem ficar de olho e notarem se seus filhos precisam dessa abordagem, observando as dificuldades na socialização ou comportamentos que precisam ser trabalhados. Além disso, o apoio familiar pode aumentar o engajamento das crianças no tratamento.
Lane Valle é fonoaudióloga, jornalista e colaboradora do Portal Acre.