Rio Branco, 20 de junho de 2025.

Sem Fronteira

Extrativistas do Ateliê Florescer na Resex transformam “restos” florestais em arte, beleza e exemplo de sustentabilidade

Por Bruna Giovanna

O trabalho dos extrativistas é fundamental para a sustentabilidade e a economia local, pois é por meio dele que são retiradas matérias-primas da natureza para uso em diversos segmentos. No Acre, sete municípios fazem parte da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes. Entre eles, Brasileia abriga a primeira comunidade da reserva que trabalha, exclusivamente, com mulheres extrativistas na transformação de matérias-primas em peças de artesanato.

Peças são cuidadosamente fabricadas pelas mãos de artesãs na Reserva Extrativista: Foto Leônidas Badaró

A Associação de Pequenos Produtores Agroextrativistas Nossa Senhora dos Seringueiros conta com cerca de 38 associados, entre homens, mulheres e jovens. No entanto, diante da necessidade de criar um espaço voltado apenas para as mulheres, nasceu o grupo Ateliê Florescer, composto inicialmente por 25 extrativistas, das quais 15 continuam atuando ativamente. Para capacitar essas mulheres, foram oferecidos dois cursos de formação profissional.

Segundo Iranilce Pereira, representante do Ateliê, a iniciativa partiu das próprias mulheres, muitas delas analfabetas e sem autonomia financeira, o que as tornava vulneráveis a situações de violência. O nome do grupo foi escolhido para simbolizar o florescimento de seus talentos e potencialidades.

“Nossa ideia era conectar essas mulheres, promovendo a troca de conhecimentos entre aquelas que já dominavam algumas técnicas e outras que estavam iniciando. Muitas são mães e, mesmo com as dificuldades, continuam produzindo para garantir uma fonte de renda. Além disso, esse espaço se tornou um ambiente de apoio, onde elas se sentem confortáveis para denunciar episódios de violência doméstica. O principal objetivo é que se tornem independentes e conquistem sua autonomia financeira.”

Iranilce apresenta peças e celebra a oportunidade para mulheres pelo artesanato: Foto Leônidas Badaró

O seringueiro Chico Mendes, mundialmente conhecido por seu ativismo ambiental, foi assassinado na década de 1980, mas deixou um legado que continua inspirando as novas gerações, como destacou Iranilce.

“Nossos jovens extrativistas precisam assumir essa responsabilidade. Muitos estão optando pelo agronegócio, colocando em risco nossa cultura e tradições. Não queremos isso. Buscamos o equilíbrio, valorizando o empenho dos homens e dos jovens nesta causa e garantindo que nosso conhecimento seja passado adiante.”

A PARCERIA COM A AREZZO

A castanha, seu ouriço e outros elementos naturais são utilizados como base para a produção artesanal das extrativistas. Além de coletarem e venderem a castanha para cooperativas, elas criam velas aromáticas e biojoias – acessórios feitos com materiais orgânicos, como sementes, fibras, madeira, cascas e pedras.

O Ateliê Florescer representa a realização de um sonho, proporcionando uma melhoria na qualidade de vida dessas mulheres e abrindo portas para experiências únicas. Um exemplo disso foi a participação no Inspiracre, evento realizado no Rio Grande do Sul, onde tiveram a oportunidade de expor suas criações.

Peças valorizam a cultura e a história das mulheres da Reserva Extrativista: Foto Leônidas Badaró

“Apresentamos nossas peças aplicadas em sandálias da Arezzo. Utilizamos sementes de açaí e, no meu caso, desenvolvi um pingente com cipó timbó”, conta Iranilce.

A experiência chamou a atenção da empresa, que manifestou interesse em firmar uma parceria para a confecção de acessórios utilizando sementes do extrativismo. As integrantes do Ateliê estão animadas com a possibilidade de firmar um contrato exclusivo.

“Nosso trabalho é mostrar nosso potencial na produção de matéria-prima. Ainda precisamos de mais apoiadores, mas já demos passos importantes. Nosso objetivo é transformar nossas peças, que já são belas, em modelos ainda mais deslumbrantes”, finaliza a artista.

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