Rio Branco, 15 de outubro de 2025.

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Acre leva prêmio por melhor trabalho científico no Congresso Brasileiro de Hepatologia; Estudo sobre Hepatite Delta na Amazônia é pioneiro no país

Infectologista Thor Dantas discursa durante 29º Congresso Brasileiro de Hepatologia: Foto cedida

O médico infectologista e hepatologista, Thor Dantas, publicou um vídeo em suas redes sociais anunciando que o Acre foi destaque nacional ao ganhar o prêmio de melhor trabalho científico no 29º Congresso Brasileiro de Hepatologia, que aconteceu no Rio de Janeiro.

O trabalho, intitulado “Transplante Hepático por Hepatite Delta na Amazônia Ocidental: Sobrevida Global e Análise Virológica preliminar”, buscou analisar o que ocorre com a infecção durante o ambiente de transplante.

“O que acontece com o vírus antes, durante e após o transplante de fígado. Essa é uma informação que não está presente na literatura científica até então”, destaca o condutor da pesquisa, Thor Dantas.

De acordo com o médico, o vírus da Hepatite Delta é considerado o vírus mais agressivo para o fígado, levando a hepatite mais grave. Contudo, a doença é a menos comum.

“Ocorre em poucos lugares do mundo e um dos lugares onde ela mais ocorre é no nosso estado, nesta região, na verdade, da Amazônia Ocidental, o oeste do estado do Amazonas, Rondônia, Acre e parte aqui do Peru, da Bolívia, da Venezuela e da Colômbia essa é uma área que tem muita Hepatite Delta delta. E por ter poucos lugares do mundo que têm essa hepatite, e geralmente são lugares menos desenvolvidos, têm pouca informação científica sobre o que ocorre com essa infecção durante o transplante”, explica Dantas.

O médico ressalta que a infecção, além de ser a mais agressiva para o fígado, também é a mais difícil de ser tratada.

“Dentre os vírus das hepatites, esse é o mais difícil de tratar. Então, muitos pacientes evoluem cedo na vida para uma doença grave, um câncer de fígado ou uma cirrose e precisam do transplante de fígado. E como é a melhor forma de fazer o transplante de fígado nesses pacientes, não sabemos. Essa informação é a que estamos investigando. Como é a forma mais segura? O que acontece com o vírus durante o transplante? Que medicamentos precisam ou não precisam ser usados para evitar que o vírus volte depois do transplante?”, detalha o pesquisador.

Método da pesquisa

Thor explica também que o estudo foi realizado em pacientes que tinham Hepatite Delta como causa da necessidade de passar por transplante de fígado no estado.

“Só para termos uma ideia, a Hepatite Delta é a principal causa de precisar de um transplante de fígado no nosso Programa de Transplante aqui do Acre. Então, nós chamamos de uma das maiores casuísticas de Hepatite Delta, são 29 pacientes transplantados pela doença aqui no nosso programa. E foi fundamental estudar o que ocorre com a infecção durante o transplante, o exame de carga viral”, aponta.

O médico acrescenta que este exame foi desenvolvido no Acre, no laboratório do Centro de Infectologia Charles Mérieux em parceria com a Fiocruz Rondônia.

“Essa parceria permitiu que desenvolvêssemos um exame de carga viral que foi publicado, a validação, como chamamos, desse exame na literatura. Então, o primeiro passo foi desenvolver esse exame que foi validado em 2023. A partir daí passamos a ter como estudar o que ocorre com a infecção durante o transplante. Antes, não tínhamos como fazer esse estudo. Com esse desenvolvimento, as cargas virais passaram a ser feitas em todos os pacientes de transplante: fazem antes de ser transplantado e também após o transplante, uma sequência de exames, para vermos o que acontece com o vírus”, complementa Dantas.

Conforme o médico, o prêmio foi muito comemorado e celebrado. “Esse trabalho foi muito comentado no Congresso, porque, de novo, é um trabalho inédito. Hoje, a literatura médica, têm muita dúvida de como fazer transplante em Hepatite Delta e as recomendações são duvidosas. Existe uma ideia de que o comportamento do vírus durante o transplante é um, e estamos mostrando que é diferente, que é distinto e que na verdade os pacientes de Delta têm um prognóstico, como chamamos, muito bom no transplante”, relata.

Dantas complementa ainda. “As medidas que usamos para prevenir a infecção do vírus Delta no transplante, talvez precisem ser mudadas. A literatura hoje recomenda o uso de certas medicações e certas imunoterapias, e estamos vendo que não é assim na verdade. Estamos demonstrando que o transplante pode ser feito de outra forma, com outras medidas, inclusive mais baratas, para evitar a volta do vírus, e permitir que façamos os transplantes com extrema segurança. Este é o grande impacto que estamos identificando no nosso estudo”, acrescenta.

Além do dado científico extremamente relevante, com implicações práticas desse conhecimento gerado em outros programas de transplante do Brasil e do mundo que faz transplante em Hepatite Delta, para Dantas outra importância do estudo está na simbologia de produzir ciência de alto nível aqui na região amazônica.

“Dizer que podemos montar um laboratório de ponta no Acre e usar essa tecnologia que temos a favor da ciência, da produção do conhecimento e também para fazer salvar vidas, porque os pacientes do transplante só podem fazer o procedimento com segurança no estado, porque estamos demonstrando com esses exames que é seguro fazer de uma forma mais simples e mais barata. Então, faz uma ligação muito importante da produção do conhecimento científico, mas também com aplicação prática no cuidado dos pacientes precisam de transplante na região amazônica, pois a pessoas acometidas por Hepatite Delta, geralmente, são do interior, da área rural e ribeirinhos, pois é onde a incidência da doença é maior”, diz.

Segundo o médico, é gratificante poder oferecer um tratamento que realmente ofereça cura a essas pessoas.

“O que estamos demonstrando é que essa estratégia que estamos adotando para evitar a infecção, cura a Hepatite Delta que, depois do transplante, parece estar curada. Portanto, a partir desse trabalho, vamos continuar produzindo mais dados, porque esses são os dados preliminares. Só temos esse exame disponível há dois anos. Então, temos muitos pacientes ainda para realizar novamente a coleta da carga viral, tem que acompanhar esses pacientes ainda durante algum tempo. e todos os próximos pacientes que vierem a transplantar, continuar acompanhando”, enfatiza o médico.

O acompanhamento num período mais longo de tempo, conforme Dantas, vai mostrar para a equipe se realmente vão conseguir provar que o Delta fica completamente curado após o transplante.

“Provamos que é seguro fazer o transplante da forma como estamos fazendo, com custos menores e um protocolo mais simples e mais barato. Agora, o próximo passo é acompanhar esse paciente para provar que, além de ser seguro, o vírus da Hepatite Delta provavelmente está curado para sempre nesses pacientes, sem risco de voltar no futuro. É a hipótese que estamos testando e o tempo de seguimento vai mostrar isso para nós”, finaliza.

Veja o vídeo.

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